Restrição de sono na gestação pode induzir hipertensão, aponta estudo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/09/2016 às 14:52
Experimentos com ratos mostram que dormir menos que o necessário durante a gestação pode prejudicar desenvolvimento renal dos filhotes e predispor a doenças, como hipertensão (Imagem: Reprodução)
Experimentos com ratos mostram que dormir menos que o necessário durante a gestação pode prejudicar desenvolvimento renal dos filhotes e predispor a doenças, como hipertensão (Imagem: Reprodução) FOTO: Experimentos com ratos mostram que dormir menos que o necessário durante a gestação pode prejudicar desenvolvimento renal dos filhotes e predispor a doenças, como hipertensão (Imagem: Reprodução)

Da Agência Fapesp de notícias

Dormir pouco durante a gestação pode tornar a prole mais propensa a desenvolver hipertensão e doenças cardiovasculares na vida adulta. Pelo menos é o que sugerem os resultados de um experimento feito com ratos na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os dados foram apresentados pela professora do Departamento de Fisiologia Guiomar Nascimento Gomes em Foz do Iguaçu, durante a 31ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE). A pesquisa contou com apoio da FAPESP.

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“Sabemos que a restrição de sono está associada a diversas alterações hormonais e mostramos que quando ela ocorre durante a gestação as consequências podem afetar a prole. Claro que resultados observados em ratos não podem ser transpostos diretamente para humanos, mas é um primeiro indício”, disse Gomes à Agência FAPESP.

Segundo a pesquisadora, o tempo médio de sono considerado ideal no caso dos ratos é semelhante ao recomendado para humanos: entre sete e oito horas por noite. No experimento, as ratas prenhes tiveram esse tempo de sono reduzido para quatro horas, mas apenas na última semana de gestação – o que, de acordo com Gomes, equivaleria ao último trimestre gestacional humano. Em ratos, o feto leva aproximadamente 21 dias para se desenvolver no ventre materno.

“Nosso objetivo principal era investigar o efeito da privação de sono materna sobre a função renal da prole e é justamente nessa fase final da gestação que ocorre a formação dos rins. Estudos anteriores do nosso grupo já haviam indicado que a restrição de sono apenas na última semana era suficiente para induzir alterações significativas”, contou Gomes.

Após o nascimento, os pesquisadores observaram que, em comparação ao grupo controle, os filhotes das ratas privadas de sono apresentavam uma redução no número de néfrons – as unidades funcionais do rim, responsáveis por filtrar o sangue e formar a urina. Esses animais também apresentaram hipertrofia glomerular e tinham uma taxa de filtração glomerular alterada em relação ao controle.

Além disso, foi observado um aumento na atividade simpática para o coração – fator que favorece a elevação na frequência cardíaca. Segundo relatou Gomes, parece haver nesses animais um prejuízo do barorreflexo – um importante mecanismo de ajuste rápido da pressão arterial existente no sistema nervoso central.

“Normalmente, quando há elevação da pressão arterial por algum motivo, o barorreflexo é ativado e isso induz uma série de modificações no organismo com o objetivo de diminuir a frequência cardíaca e reduzir os níveis pressóricos. Mas, nesses ratos, essa resposta não acontece como deveria”, disse Gomes.

Em decorrência das alterações, os filhotes machos das ratas privadas de sono desenvolveram hipertensão cerca de três meses após o nascimento – logo após atingir a idade adulta (algo equivalente a 25 anos para humanos). As fêmeas, por outro lado, apresentavam valores de pressão arterial ainda dentro da faixa considerada normal – embora mais altos que os observados nas integrantes do grupo controle.

“Os hormônios femininos conferem proteção para o sistema cardiovascular, pois contribuem para a produção de óxido nítrico, um potente vasodilatador que melhora a função renal”, explicou Gomes.

Já em um segundo experimento, os filhotes fêmeas das ratas privadas de sono tiveram os ovários extraídos ainda bem jovens e, por volta de 8 meses de idade, também tornaram-se hipertensas. Os resultados desse estudo foram divulgados em agosto na revista Physiological Reports. Os dados dos testes com os filhotes machos haviam sido previamente descritos nas revistas PLoS One e Clinics.

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