Pacientes que ganham peso após cirurgia bariátrica têm produção menor de hormônio de apetite

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 07/09/2016 às 12:06
fita-metrica-peso-235 FOTO:

Imagem de fita métrica (Foto: Free Images) Estudo apontou que produção de hormônio responsável pela diminuição do apetite diminuiu em pacientes que fizeram cirurgia bariátrica e voltaram a engordar (Foto: Free Images)

Um estudo do serviço de cirurgia bariátrica e metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) revelou que a produção do hormônio gastrointestinal GLP-1 em pacientes que recuperam peso expressivo após a cirurgia bariátrica é diferente daqueles pacientes operados que conseguiram manter o peso satisfatório.

Leia também:

» Pedômetro ajuda profissional de saúde a acompanhar pacientes com obesidade

» Genética influencia diretamente no emagrecimento, reforça pesquisa da Unifesp

» Obesidade pode interferir na aprendizagem das crianças, aponta estudo

» Especialista ressalta importância de conciliar nutrição com atividade física

O GLP-1 (Peptídeo semelhante ao Glucagon1) é responsável pela diminuição do apetite através do aumento da sensação de saciedade no cérebro. A produção do hormônio é estimulada pela cirurgia bariátrica, considerada a ferramenta mais eficaz no controle e no tratamento da obesidade grave.

A pesquisa, publicada na revista Obesity Surgery, avaliou 24 pacientes submetidos ao procedimento e acompanhados por um período de cinco anos. Aqules que tiveram recorrência da obesidade e reganharam mais da metade do peso perdido apresentaram diminuição nos níveis do GLP-1, enquanto aqueles que mantiveram o peso perdido controlado apresentam níveis mais elevados de produção do hormônio.

Nos primeiros dois anos, os pacientes, divididos em dois grupos (A e B) e com características semelhantes como idade média e IMC (Índice de Massa Corpórea) no período pré-operatório, perderam muito peso e chegaram a um peso semelhante. A partir do terceiro ano, o grupo A, com 14 pacientes, manteve o peso após perda inicial bem sucedida, enquanto o grupo B, com 10 pacientes, obteve reganho de peso.

A influência do hormônio gastrointestinal GLP-1 no processo de recuperação de peso foi evidenciada em apenas um dos grupos, naquele com reganho expressivo. As causas da baixa produção do hormônio nesses pacientes ainda é uma incógnita para os pesquisadores. "É como se o organismo cansasse de produzir esse hormônio", explica o médico-cirurgião Marco Aurélio Santo, autor do estudo e responsável pelo serviço de cirurgia bariátrica do hospital.

Estudos anteriores mostram que, de modo geral, a cirurgia bariátrica melhora uma série de aspectos metabólicos porque também aumenta a secreção de GLP-1. Mas até agora nenhum trabalho havia descrito que pacientes submetidos à cirurgia de redução de estômago que voltam a ganhar peso produzem menos desse hormônio, tema do estudo.

A descoberta deve abrir novas perspectivas de tratamento para quem se submete à cirurgia bariátrica. "A obesidade é uma doença crônica e de origem multifatorial. Entender melhor os mecanismos envolvidos poderá convergir em propostas de tratamento que se traduzam em resultado clínico", explica o especialista.