Por um Recife mais acessível e amigo dos idosos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/08/2016 às 6:04
idoso - vicente FOTO:

"No Recife, não há respeito no transporte coletivo. Gostaria de mais espaços ao ar livre, como parques bem localizados, que nos fazem sentir bem", comenta o comerciário aposentado Vicente Santana, 79 anos "No Recife, não há respeito no transporte coletivo. Gostaria de mais espaços ao ar livre, como parques bem localizados, que nos fazem sentir bem", comenta o comerciário aposentado Vicente Santana, 79 anos (Foto: André Nery/JC Imagem)

Terceira capital brasileira com maior proporção de idosos do País, com 9,4% da população acima dos 60 anos (150 mil pessoas, em média), o Recife (atrás só de Porto Alegre e Rio de Janeiro) carrega a missão de começar a pensar no desafio de se remodelar para favorecer a saúde, a mobilidade e a segurança da faixa etária que mais cresce no mundo. No mesmo ritmo em que metrópoles como a capital pernambucana apresentam crescimento acelerado (e pouco planejado), aumenta o universo de idosos. Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) encoraja os países a oferecer qualidade de vida aos mais velhos com o projeto Cidade Amiga do Idoso – aquela que faz adaptações para se tornar acessível a esse público.

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Pelos requisitos exigidos pela OMS, Recife teria que cumprir uma lista imensa de metas para ganhar esse título, a começar pela remoção de obstáculos das calçadas. O cenário de pisos estreitos, desnivelados e com rachaduras é perigoso para os mais velhos. “Sem calçadas adequadas, não dá para vivenciar a cidade. E quanto menos se vive a rua, mais insegura a via fica”, afirma a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco Lúcia Leitão.

A urbanista toca num ponto desejado por muitas pessoas idosas: ter sensação de segurança onde se mora, o que inclui preocupações relacionadas à acessibilidade, iluminação, sinalização e violência. Oferecer esse amparo influencia a independência, a integração social e o bem-estar. “É comum os idosos se queixarem para sair de casa porque sabem que terão problemas para se locomover. Isso prejudica o convívio social, um fator que, ao lado de hábitos saudáveis como alimentação e atividade física, ajuda a prevenir até quadros demenciais”, assegura o geriatra Sérgio Murilo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia/Seção Pernambuco (SBGG/PE).

A dona de casa Maria José Xavier, 75 anos, faz parte do grupo que se sente pouco protegido nas ruas. “Idosos são vistos como indefesos e, por isso, são mais ameaçados. É preciso investir em segurança. Tenho cuidado quando saio de casa. Fico atenta a horários movimentados para vir ao parque.”

Com o compromisso de delinear o futuro da capital a partir de um desenvolvimento urbano sustentável, o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS) alega dar prioridade a discussões sobre acessibilidade para elaborar o Plano de Mobilidade Urbana do Recife. “O maior desafio é tornar as ruas mais acessíveis. Se uma pessoa jovem tem dificuldade de caminhar pelas vias, imagine um idoso?”, indaga o presidente do ICPS, João Domingos Azevedo. Ele ressalta que também estão em debate questões relacionadas à velocidade do tráfego, que representa barreiras para os idosos pedestres.

Levantar questões como essas é o primeiro passo para o desenvolvimento de uma cidade amiga do idoso, mesmo que seja a longo prazo.