Genética influencia diretamente no emagrecimento, reforça pesquisa da Unifesp

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 22/08/2016 às 12:17
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Excesso de produção do hormônio leptina é um dos principais fatores que dificultam a perda e a manutenção do peso corporal (Foto: Free Images) Excesso de produção do hormônio leptina é um dos principais fatores que dificultam a perda e a manutenção do peso corporal, segundo pesquisadora (Foto: Free Images)

Uma variação genética encontrada no gene receptor da leptina (importante hormônio para a regulação do balanço energético do organismo que inibe a fome e aumenta o gasto energético dos tecidos periféricos – entre eles, o tecido adiposo) prejudica o emagrecimento e a redução de importantes índices lipídicos, como taxas de colesterol e de triglicérides. É o que revela um estudo fruto de uma tese de doutorado orientada pela professora Ana Dâmaso, do programa de pós-graduação em Nutrição da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) – Campus São Paulo. O estudo mostrou que, devido a uma variação genética encontrada no gene receptor da leptina (LEPR), alguns adolescentes com obesidade não conseguiram as mesmas reduções no índice de massa corporal (IMC) e nos índices lipídicos, quando comparados com os adolescentes que não apresentavam a variação genética.

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A nutricionista Flávia Corgosinho, autora do estudo, selecionou 76 voluntários com obesidade e os classificou em dois grupos, de acordo com a incidência da variação genética. Entre os voluntários, 39 pertenciam ao grupo dominante (classificado como TT), que não possuíam a variação genética. Os outros 37 fizeram parte do grupo heterozigoto ou recessivo (definidos, respectivamente, como CT e CC), que possuíam a alteração.

Após um ano de tratamento, que incluiu a prática de exercícios físicos e o acompanhamento médico, nutricional e psicológico, a pesquisadora observou que os portadores dos genótipos CT e CC não haviam conseguido reduzir o perfil lipídico, a resistência à insulina e a produção de leptina aos mesmos níveis do grupo dominante. Além disso, não conseguiram diminuir o índice de massa corporal (IMC) na mesma proporção do grupo TT. “Percebemos que os adolescentes com essa variação genética tinham níveis significativamente maiores de neuropeptídeos orexígenos (estimuladores da fome)”, explica Flávia. “O fator genético conseguiu justificar parcialmente por que alguns adolescentes com obesidade respondiam melhor à terapia e outros não”, acrescenta.

Ainda em relação à produção de leptina, o grupo isento de variação genética conseguiu fazê-la recuar em cerca de 30%, ao passo que o outro obteve redução praticamente insignificante. “E nós sabemos que esse estado de hiperleptinemia (excesso de produção de leptina) é um dos principais fatores que dificultam a perda e a manutenção do peso corporal. O excesso de leptina é um fator pró-inflamatório que vai gerar consequências para a saúde, como aumento do risco cardiovascular”, esclarece Flávia.

A pesquisadora ressalta que os resultados do estudo indicaram que é necessário buscar estratégias auxiliares para aqueles que apresentam alterações genéticas relativas à leptina que interferem no processo de emagrecimento e dificultam o controle de risco cardiovascular, como a redução de triglicérides e de insulina, além do aumento de adiponectina. Ela atribui à nutrigenômica (ciência que estuda a interação entre os compostos bioativos na estrutura e na expressão dos genes) a possibilidade de se tornar uma das opções de tratamento no futuro. No entanto, outras tentativas para solucionar o problema podem ser válidas, como a otimização da terapia, com atividades físicas mais frequentes ou mais intensas. “Talvez seja necessário que esses indivíduos percam 10% ou mais do peso corporal para obter os mesmos resultados do grupo sem alteração genética”, conclui Flávia.