Descobertas novas mutações relacionadas à síndrome nefrótica em crianças

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 19/06/2016 às 8:00
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foto-600 Pesquisadores da Unicamp identificaram mutações em genes relacionados à filtração renal ligados à síndrome nefrótica que podem levar a excesso de proteínas eliminadas na urina (Imagem: Wikimedia Commons)

A síndrome nefrótica, conjunto de sintomas que se manifesta em razão de doenças renais e que é caracterizado por excesso de proteínas na urina, tem causas diversas – entre elas, mutações genéticas ainda não totalmente conhecidas. Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificaram novas mutações em alguns dos genes relacionados à síndrome, abrindo caminho para diagnósticos e tratamentos mais precisos.

A avaliação da frequência e da distribuição dessas mutações é inédita no país e foi feita no âmbito da pesquisa "Estudo de sequenciamento completo de exomas em crianças e adolescentes brasileiros com síndrome nefrótica corticorresistente", realizada com apoio da FAPESP.

“O objetivo é contribuir para o estabelecimento das bases moleculares da doença na população brasileira. Esse conhecimento possibilita a análise molecular de grupos específicos de crianças com síndrome nefrótica e pode impactar no tratamento personalizado dos pacientes, determinando, por exemplo, aqueles para quem o transplante renal a partir de doador vivo é mais indicado, considerando-se um risco menor de recidiva”, diz Mara Sanches Guaragna, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Unicamp.

De acordo com a pesquisadora, a síndrome nefrótica é um dos principais problemas renais na infância. Além do excesso de proteínas eliminadas na urina, condição chamada de proteinúria, a síndrome é caracterizada por hipoalbuminemia, a baixa concentração de albumina no organismo, proteína que compõe grande parte do plasma sanguíneo e tem a função de transporte e manutenção do equilíbrio osmótico – a entrada e saída de água das células. Com a diminuição da albumina no sangue ocorre extravasamento do líquido para o espaço intercelular e, consequentemente, a formação de edemas. O quadro inclui, ainda, a hiperlipidemia – elevação da quantidade de gorduras no sangue.

A doença ocorre devido à disfunção funcional ou estrutural do glomérulo renal, unidade dos rins por meio da qual é feita a filtragem do sangue e a eliminação dos resíduos metabólicos.

“Os portadores de síndrome nefrótica podem ser classificados como corticossensíveis, que respondem ao tratamento com corticoides, e corticorresistentes. Sabe-se que nos pacientes corticorresistentes que apresentam mutações há um problema estrutural. Nestes casos de origem genética comprovada pode ser considerada a retirada do tratamento com corticoides, evitando-se assim todos os efeitos adversos de drogas que deprimem o sistema imunológico”, explica Guaragna.

As novas mutações

Após analisar a distribuição de mutações em um grupo de 150 crianças e adolescentes brasileiros portadores de síndrome nefrótica, os pesquisadores identificaram uma nova mutação em cada um dos principais genes relacionados aos sintomas: NPHS1, NPHS2 e WT1.

Foram realizados estudos dos éxons desses genes, as partes que codificam as proteínas que precisam ser expressas – no caso, a nefrina, a podocina e o fator de transcrição WT1, necessários para o funcionamento correto da filtragem no rim. Para isso, foi necessário realizar a “amplificação” dos genes, aumentando-se o número de cópias deles por meio da técnica de reação de polimerase em cadeia (polymerase chain reaction). Com os éxons amplificados, foi possível identificar as mutações.

As mutações identificadas pelos pesquisadores nos genes NPHS1 e NPHS2 possuem herança recessiva, ou seja, são necessários dois genes mutantes, um do pai e outro da mãe, para que o paciente apresente a doença. No caso do WT1 a doença é dominante: basta um dos genes ser mutante para que ela se manifeste.

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