Após caso de bebê com zika congênita e sem microcefalia, especialistas querem oftalmologistas nas maternidades

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 10/06/2016 às 12:18
exame de visão em bebê com microcefalia_destaque FOTO:

Foto: Diego Nigro/JC Imagem Pesquisadores da Fundação Altino Ventura defendem que todos os recém-nascidos, principalmente aqueles cujas mães passaram a gestação em locais com epidemia de zika, sejam submetidos a um exame oftalmológico completo ainda nas maternidades públicas e privadas (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Após comprovarem que a evidência científica de que o zika vírus também pode causar lesões oculares graves e neurológicas em bebês sem microcefalia, pesquisadores da Fundação Altino Ventura (FAV) passam a defender a recomendação de que todos os recém-nascidos, principalmente aqueles cujas mães passaram a gestação em locais com epidemia de zika, sejam submetidos a um exame oftalmológico completo ainda nas maternidades públicas e privadas. Hoje apenas o teste do olhinho é feito pelo pediatra logo após o nascimento.

“É preciso ir além. Antes da alta hospitalar, todos os bebês devem passar por um exame com um oftalmologista que entenda sobre lesões de retina e de nervo ótico”, diz a oftalmopediatra Liana Ventura, presidente da FAV. Ela diz que uma nota técnica com essa recomendação será encaminhar ao Ministério da Saúde. “Defendemos a presença de oftalmologistas nas maternidades, como acontece nos países desenvolvidos”, destaca.

Leia também:

» Em Pernambuco, 68 bebês sem microcefalia apresentam alterações em exames que sugerem zika congênita

» Zika afeta visão de bebê sem microcefalia, comprovam especialistas

» OMS alerta: uma criança fica cega no mundo, a cada minuto, por falta de cuidados

Atualmente, segundo a médica, o exame oftalmológico completo é indicado para todos os bebês e deve ser feito com até três semanas após o nascimento. Antecipar a realização do teste amplia as possibilidades de diagnóstico precoce de possíveis lesões oculares causadas pelo zika e, consequentemente, a indicação de estimulação precoce num período em que são amplas as chances para promover o desenvolvimento da visão.

“Ao documentarmos o primeiro caso de lesões oculares sem microcefalia, passamos a questionar quantas outras crianças podem ter o diagnóstico de zika congênita, não ter microcefalia e, mesmo assim, apresentar alteração ocular severa e estar sem tratamento adequado”, frisa a oftalmologista Camila Ventura.

A pesquisadora ressalta que o fato de deixar passar a oportunidade para desenvolvimento máximo de visão em bebês com alguma lesão ocular traz um prejuízo para toda a vida. “Ao iniciar os estímulos até os 6 meses de vida, a criança tem a chance de alcançar ganhos visuais de forma gradativa, especialmente até o período dos 7 aos 9 anos”, acrescenta Camila.

"Ao documentarmos o primeiro caso de lesões oculares sem microcefalia, passamos a questionar quantas outras crianças podem ter o diagnóstico de zika congênita, não ter microcefalia e, mesmo assim, apresentar alteração ocular severa e estar sem tratamento adequado”, frisa a oftalmologista Camila Ventura (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem) "Ao documentarmos o primeiro caso de lesões oculares sem microcefalia, passamos a questionar quantas outras crianças podem ter o diagnóstico de zika congênita, não ter microcefalia e, mesmo assim, apresentar alteração ocular severa e estar sem tratamento adequado”, frisa a oftalmologista Camila Ventura (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)

Para estimular a visão o mais cedo possível, é fundamental o diagnóstico precoce adequado, o que é possível pelo exame oftalmológico completo. Através do procedimento, dilata-se a pupila do bebê e se examina a retina (camada mais interna do olho). “Ou seja, investigam lesões em nível de retina e nervo ótico, que leva todas informações captadas pela retina para serem processadas no cérebro. É muito importante que esse exame seja feito nas maternidades por oftalmologistas para que os estímulos sejam indicados e oferecidos o mais cedo possível a partir do momento que se detecta lesão ocular”, salienta Camila.

Com a experiência que alcançou após já ter examinado 256 bebês com suspeita de microcefalia e com diagnóstico confirmado dessa malformação, a FAV pretende agora quebrar o paradigma de que a existência da microcefalia nos recém-nascidos é pré-requisito para investigação de outros problemas que podem estar associados à exposição ao zika na gestação, como alterações neurológicas, problemas osteomusculares, auditivos e visuais. “Mesmos os bebês de mães que não tiveram sintomas de zika na gravidez devem ser avaliados com dilatação da pupila”, orienta Liana.

ARTE VISÃO