Recusa de familiares dificulta crescimento da doação de órgãos em Pernambuco

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 26/05/2016 às 6:00
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Imagem de coração de tecido nas mãos (Foto: Photl.com) Cerca de 45% das potenciais doações em Pernambuco não são realizadas por causa da negativa dos parentes de pacientes diagnosticados com morte encefálica (Foto ilustrativa: Photl.com)

A recusa dos familiares de pacientes que tiveram a morte encefálica detectada - parada irreversível das funções do cérebro - é um dos principais obstáculos no Estado quando o assunto é doação de órgãos. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), cerca de 45% das potenciais doações não são realizadas por causa desse cenário. Por isso, apesar dos números em Pernambuco terem aumentado nos primeiros quatro meses deste ano em relação ao mesmo período em 2015, as estimativas poderiam ser muito mais otimistas se não houvessem tantas recusas dos parentes.

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"A negativa familiar tem influência de muitos fatores. Passa desde o aspecto cultural, dificuldade em aceitar esse tipo de morte até os problemas enfrentados pelos parentes e paciente no hospital", explica a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), Noemy Gomes. Na legislação vigente no País, apenas parentes até 2º grau podem autorizar a doação de órgãos de pacientes diagnosticados com morte encefálica. Em Pernambuco, graças a uma parceria entre a SES e a Defensoria Pública do Estado, na ausência de parentes até 2º grau, familiares mais distantes podem autorizar o procedimento.

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Antigamente, era permitido a gravação da expressão 'não doador de órgãos e tecidos' em documentos de identificação do cidadão para ratificar a opção da pessoa na hora da decisão. No entanto, o parágrafo que tratava do assunto foi revogado em 2001. "É importante que a pessoa avise em vida que tem interesse em doar os órgãos, porque ajuda a família no momento da escolha, já marcado por muita dor e outras emoções. Temos inúmeros casos de parentes que ao serem questionados sobre a doação de órgãos lembraram que o paciente queria fazer a doação", ressalta.

Para a coordenadora do CT-PE, além da conscientização da sociedade sobre a importância da doação de órgãos como uma maneira de salvar vidas, o treinamento adequado dos profissionais que lidam com todo o processo é essencial. "Precisamos de profissionais treinados e habilitados para lidar com essas situações. Se não houver uma equipe bem preparada, é possível que a família negue a doação de órgãos porque as informações não foram repassadas da forma adequada", explica.

A Central de Transplantes mantém um núcleo de educação permanente responsável por fornecer cursos, simpósios e diversas outras atividades em parcerias com hospitais e outras unidadesrelacionadas à saúde. Entre os assuntos tratados, cenário geral do procedimento de doação de órgãos, técnicas sobre manutenção do potencial doador e, principalmente, dicas de como passar a má notícia para os familiares do paciente diagnosticado com morte encefálica. "Infelizmente não é comum na grade curricular de cursos de saúde o exercício da habilidade de comunicar (a notícia). Às vezes é uma iniciativa isolada de professor ou de grupos de alunos. Tentamos compensar essa ausência", comenta a coordenadora.

Nessa quarta-feira (25), o CT-PE promoveu o 3º Simpósio Pernambucano de Doação e Transplantes de Órgãos e Tecidos. Com o tema 'Reflexões sobre comunicação de má notícia e entrevista familiar para doação de órgãos', o evento reuniu diversos especialistas na área para discussão com profissionais de saúde sobre a espiritualidade no contexto da morte, além de debate acerca da experiência da Espanha na comunicação de más notícias aos familiares de pacientes internados. As atividades aconteceram no auditório do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), no bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife.

Equipes envolvidas

Equipes são treinadas para visitar hospitais a procura de potenciais doadores. O grupo deve ser composto de profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos. Cada hospital deve se prontificar a ter sua própria equipe de comissões de transplantes, em regime de plantão para atender a possíveis demandas.

Além desses especialistas, a Central de Transplantes capacita as chamadas OPOs - Organização de Procura de Órgãos para organizar a logística da procura de doadores em determinadas regiões. Segundo a coordenadora do CT-PE, uma OPO é formada no Estado a cada 2 milhões de habitantes. Atualmente, Pernambuco tem 4 OPOs espalhadas pelo Estado - duas no Grande Recife, uma em Caruaru, no Agreste pernambucano, e uma em Petrolina, no Sertão.

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