Comunicado na Science faz alerta para bactéria que reduz ação do Aedes aegypti

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 21/03/2016 às 9:59
dengue_destaque FOTO:

Imagem de larvas do Aedes aegypti (Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem) Ao ser injetada para o Aedes, bactéria Wolbachia pode ser transferida para outras espécies
(Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

Pesquisas têm mostrado que a bactéria Wolbachia, ao ser inserida no mosquito Aedes aegypti, é capaz de reduzir a transmissão dos vírus da dengue, chicungunha e zika. Apesar do resultado animador, um comunicado publicado ontem na revista Science sugere que mais investigações sobre essa bactéria precisam ser desenvolvidas antes de se liberarem mais Aedes infectados.

“Nosso estudo mostrou que ocorrem transferências da Wolbachia para outras espécies e que é necessário analisar um pouco mais antes de se liberarem mosquitos com a bactéria em quantidades massivas porque há a possibilidade de ocorrência de consequências não esperadas”, alerta o biólogo Gabriel Wallau, do Departamento de Entomologia da Fiocruz Pernambuco.

Leia também:

>> Ministério da Saúde esclarece boatos sobre infecção pelo vírus zika

Um dos autores do comunicado, ele cita como exemplo a possibilidade de a Wolbachia diminuir a longevidade do mosquito e, ao ser transferida para uma espécie de importância econômica, também diminuir o tempo de vida dela. “E se alguma delas, que são muito importantes para a polinização de grandes lavouras, forem extintas por causa da transferência da bactéria?”, questiona. “Essa é a nossa preocupação.”

Mais da metade dos insetos do mundo possuem algum tipo de Wolbachia, que não está presente naturalmente no Aedes. O grupo de cientistas do programa internacional Eliminar a dengue: nosso desafio, do qual o Brasil participa, comprovou em laboratório que, injetada no mosquito, a bactéria impede a propagação dos vírus que transmite dengue, chicungunha e zika. “Não estamos dizendo que a Wolbachia já liberada está sendo transferida para outras espécies. A questão é que, olhando outros tipos de Wolbachia, há muita transferência”, ressalta.

Segundo o pesquisador, os efeitos do deslocamento da bactéria são ainda desconhecidos, mas é pouco provável que esse micro-organismo traga danos diretos para o ser humano. “Mas pode trazer consequências para o meio ambiente, para alguns insetos que são importantes para o homem e para outros que fundamentais para manter equilíbrio da natureza.” Outro detalhe, segundo Gabriel Wallau, é que não há legislação específica para liberação de Wolbachia.

O biólogo também menciona os mosquitos transgênicos. “Podemos controlá-los. Uma vez soltos, eles vão morrer e não passarão danos para o ambiente; só vão diminuir a população do mosquito”, assegura Gabriel.