Taxa de transmissão da dengue por transfusão é de 37,5%, diz estudo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 08/03/2016 às 9:46
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Imagem de homem doando sangue (Foto: Hélia Scheppa / Acervo JC Imagem) Estudo mostra que, no Recife, houve semanas em que até 2% dos doadores estavam infectados com o vírus da dengue (Foto: Hélia Scheppa / Acervo JC Imagem)

Da Agência Fapesp

Um estudo publicado este mês no The Journal of Infectious Diseases mostrou que, durante uma grande epidemia de dengue, em média, 0,51% das pessoas que compareceu a hemocentros para doar sangue estava infectado com o vírus causador da doença, embora não apresentassem sintomas durante o procedimento. A pesquisa revelou ainda que 37,5% dos pacientes que receberam as bolsas de sangue contaminadas e eram suscetíveis ao vírus (não tinham sido previamente infectados) contraíram dengue, mas não foi registrado nenhum caso severo da enfermidade.

“Na verdade, quando comparamos os pacientes que se infectaram durante a transfusão com aqueles que não receberam sangue contaminado (grupo controle), não vimos diferença significativa em relação à mortalidade ou mesmo à gravidade de sintomas como febre, mal-estar, sangramento ou plaquetopenia [diminuição no número de plaquetas no sangue]. São sintomas comuns tanto em portadores de dengue quanto em pacientes transfusionados de maneira geral”, contou Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e diretora do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo.

A pesquisa foi feita com apoio da Fapesp nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e do Recife (PE) durante a epidemia de dengue de 2012. O grupo pretende, em breve, iniciar um estudo semelhante para os vírus zika e chicungunha.

Entre os meses de fevereiro e junho de 2012, época em que ocorreu uma grande circulação do sorotipo 4 do DENV, todos os doadores do Hemorio e do Hemope foram convidados a participar do estudo e a doar uma amostra extra de sangue para análise em busca do RNA viral. Ao todo, foram coletadas amostras de 39.134 doadores. O resultado deu positivo em 0,51% dos casos. “Em Recife, houve semanas em que até 2% dos doadores estavam infectados com o vírus”, conta Ester Sabino.

As bolsas de sangue contaminadas com o DENV-4 foram transfundidas em 22 receptores. Desses, apenas 16 eram suscetíveis à doença, pois não tinham marcadores de infecção recente por DENV-4. Ao final, seis pessoas foram efetivamente infectadas, resultando em uma taxa de transmissão transfusional de 37,5%.

Amostras sanguíneas dos receptores também haviam sido coletadas antes da transfusão para confirmar se o vírus foi adquirido durante o procedimento. Os receptores foram acompanhados nos 30 dias seguintes à transfusão para observação dos sintomas.

“Este estudo mostrou que, durante grandes epidemias de dengue, ocorrem muitos casos de transmissão transfusional. Por que ninguém notava isso? Possivelmente porque o impacto clínico não é importante”, avalia Ester.

No entanto, a pesquisadora ponderou que o número final de pacientes contaminados no estudo foi pequeno e, portanto, não permite descartar a possibilidade de surgirem casos graves ao avaliar uma população maior.