Pedômetro ajuda profissional de saúde a acompanhar pacientes com obesidade

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/02/2016 às 15:39
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Imagem da comerciante Lusinete Silva (Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem) Comerciante Lusinete Silva, que espera na fila para realizar a cirurgia bariátrica no HC, chegou a pesar 115 quilos. Com o monitoramento do pedômetro, já perdeu mais de cinco quilos (Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem)

A comerciante Lusinete Silva, 44 anos, levava uma vida sedentária até o fim do ano passado. Sem atividades físicas ou alimentação balanceada, chegou a pesar cerca de 115 quilos. No começo de 2015, uma vizinha, que estava para realizar a cirurgia bariátrica no Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), falou sobre o procedimento. A primeira reunião da comerciante com o grupo do Departamento de Cirurgia do hospital foi em fevereiro. Mas só em dezembro, quando Lusinete começou a ser acompanhada por um pedômetro, equipamento eletrônico que contabiliza os passos da pessoa, mudou os hábitos e passou a ver benefícios. “Antes eu não estava dormindo, acordava tarde e não me movimentava. Agora comecei a me alimentar melhor, a fazer caminhada e até entrei na academia. É um incentivo muito grande”, conta.

Lusinete é uma das seis mulheres que esperam na fila do HC da Universidade Federal para realizarem cirurgia bariátrica e que estão sendo monitoradas pelo equipamento eletrônico. O acompanhamento através do aparelho tem como objetivo estimular o grupo a aumentar o tempo gasto durante o dia com qualquer atividade física, desde as mais simples, como varrer a casa ou subir escadas, já que pessoas que convivem com obesidade geralmente têm a mobilidade reduzida. O projeto, resultado de pesquisa do profissional de educação física Bruno Barreto, mestrando em Cirurgia pela UFPE, começou em março de 2015 após triagem com pacientes que esperam para ser submetidos à cirurgia bariátrica.

Sob orientação do médico Josemberg Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o estudo foi dividido em três grupos, cada um acompanhado por três meses. O primeiro é composto por 31 pacientes que só responderam o questionário sobre qualidade de vida e imagem corporal. O segundo, com o mesmo número de pessoas, recebeu acompanhamento nutricional e psicológico.

A terceira turma (pequena por causa da falta de interesse dos pacientes) levou para casa o pedômetro e conta com a assistência de nutricionistas e psicólogas do HC. Desde então, as participantes vêm sendo acompanhadas de perto pelo idealizador do projeto e pela equipe multidisciplinar do HC. “A média da população obesa é dar entre 5 mil e 8 mil passos por semana e menos de mil passos por dia, o que é muito pouco. A média entre os jovens adultos é acima de 10 mil passos por dia. O pedômetro serve para mensurar a quantidade de passos, a distância percorrida e as horas de atividade física que a paciente realizou”, explica Bruno.

Imagem do profissional de educação física Bruno Barreto com o pedômetro (Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem) Trabalho é resultado de pesquisa do profissional de educação física Bruno Barreto (Foto: Bobby Fabisak / JC Imagem)

Com o trabalho, o pesquisador pretende mostrar a diferença entre atividade física e exercício físico. Enquanto a primeira ação é caracterizada por qualquer movimento humano que resulte em gasto energético, a segunda está enquadrada nas atividades pré-determinadas, como musculação. “O objetivo da pesquisa é estimular o aumento do nível de atividade física dessas pacientes. A cada oito dias, elas têm a responsabilidade de retornar ao ambulatório. Os dados do pedômetro são anotados, e o peso é verificado. Queremos incentivá-los a fazer atividades básicas, como varrer a casa e utilizar mais as escadas. São pequenas atitudes que refletem no gasto energético”, ressalta.

Em pesquisa anterior, o professor de educação física havia notado que quanto maior é o nível de atividade física de um indivíduo, maiores são os benefícios alcançados. A partir de então, com foco na recuperação da autoestima dos pacientes, a ideia do atual projeto surgiu. “Os pacientes que esperam pela cirurgia bariátrica precisam reduzir, em média, 10% do peso corporal. E a atividade física, além de dar mais segurança para o procedimento cirúrgico, melhora muito o aspecto social e a qualidade de vida desses pacientes”, comenta.

Apesar de ainda não saber a data da realização da cirurgia, Lusinete segue à risca as recomendações dos especialistas. A dedicação vem trazendo bons resultados. “Eu não parei em nenhum momento. Fui a única paciente do grupo que não ganhou peso nas festas de fim de ano”, comemora. A expectativa para o procedimento, então, só faz aumentar. “Vai mudar tudo para mim. Minha vida estava lá embaixo. Parece que ganhei na Mega-Sena”, acrescenta.

OBESIDADE

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que uma em cada quatro brasileiras (24,4%) com mais de 18 anos é obesa – ou seja, têm índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30. Entre os homens, o percentual de obesidade é menor: 16,8%. O IMC normal é até 24,9. Segundo a pesquisa, divulgada no ano passado, o acúmulo de gordura abdominal também é mais frequente no sexo feminino: atinge 52,1% das mulheres (com cintura acima de 88 centímetros) e 21,8% dos homens.