Infância: atenção para problemas de aprendizado e concentração

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 15/05/2015 às 6:00

Imagem de mulher lendo (Foto: Free Images) Falta de concentração, problemas de aprendizado e memória em adultos podem ser sintomas de dislexia e déficit de atenção (Foto: Free Images)

Em muitos momentos, já tivemos problema em memorizar textos ou assimilar conteúdos na hora dos estudos. Mas em que que ponto essas dificuldades deixam de ser desatenção casual e passam a ser características de distúrbios neurológicos não diagnosticados na infância? Especialistas alertam para a frequência desses fatores, que podem ser sintomas de distúrbios como dislexia e déficit de atenção.

Quando dificuldades desse tipo são frequentes, é preciso ficar atento, já que algumas delas podem ser motivadas por graus mais leves e menos perceptíveis de distúrbios neurológicos não diagnosticados na infância, como dislexia e déficit de atenção. Em alguns casos, também podem ser provocadas por quadros de depressão”, revela a neurologista e neuropediatra Maristela Costa, do Hospital do Coração (HCor).

A dislexia, transtorno que acomete cerca de 15% da população brasileira, é um transtorno da decodificação da linguagem que compromete a capacidade de ler e escrever corretamente do indivíduo. "Em maior ou menor grau, pessoas dislexas basicamente não conseguem associar fonemas às letras que o representam na escrita. Nos casos em que a dislexia se manifesta de maneira mais sútil, ela pode não ser identificada na fase escolar. Assim, ela passa a gerar dificuldades na vida adulta, já que interfere na leitura e interpretação correta de documentos, livros e apostilas", explica.

O procedimento para o diagnóstico da dislexia em adultos é o mesmo aplicado às crianças. O indivíduo é encaminhado para a avaliação de uma equipe multidisciplinar - composta por médicos, neuropsicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e neurologistas. Nesta avaliação são utilizados testes para analisar o nível de leitura, vocabulário e habilidades específicas, como memória, atenção e velocidade de processamento. “O objetivo é nos certificar de que o paciente realmente apresenta dislexia e não problemas de alfabetização, deficiências físicas (como problemas visuais e perda auditiva), ou algum tipo de transtorno emocional ou psicológico”, pontua.

Apesar de não ter cura, existe tratamento para minimizar os sintomas da dislexia. "O tratamento consiste basicamente em um esforço conjunto para criar adaptações pedagógicas que ajudem o paciente a superar, na medida do possível, os comprometimentos que apresenta em sua capacidade de ler, escrever ou de realizar cálculos matemáticos", explica a neurologista do HCor.

Já o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ou simplesmente déficit de atenção, é outro distúrbio que tem um grande impacto social na vida adulta, dependendo de sua evolução clínica. Isso porque muitas crianças com TDAH deixam de ter sintomas na vida adulta, mas continuam a carregar consigo várias limitações que interferem tanto na vida profissional, quanto na vida pessoal.

"Muitas pessoas crescem com o problema e nem ficam sabendo que a dificuldade que têm de se concentrar é, na verdade, um distúrbio que pode ser tratado e controlado com auxílio medicamentoso ou psicoterápico. Tanto que a Associação Brasileira de Déficit de Atenção estima que 4% da população adulta podem ter déficit de atenção e, aproximadamente, 80% dos casos tiveram início na infância", revela Maristela.

Entre os sinais mais frequentes do TDAH em adultos, estão atrasos frequentes em compromissos de trabalho, falta de organização, oscilação abrupta de humor, dificuldade de se expressar, repetição de palavras com frequência e problemas ao dirigir. "Caso não consigam ajuda em algum desses aspectos, eles podem contrair diversos problemas que prejudicam o seu rendimento não só nos estudos e no trabalho, mas também nos seus relacionamentos afetivos e com os amigos. Por isso, ao mínimo sinal de sintomas como esse, é importante que a pessoa procure a ajuda de médicos e psicólogos”, explica a neurologista.

Esses quadros, no entanto, também podem ser característicos da depressão. Entre os diversos prejuízos causados por ela, estão déficits cognitivos que a aproximam, até mesmo, de quadros demenciais. "Uma pessoa com depressão também tem problemas para se concentrar e decodificar informações mais complexas. Por isso, o distúrbio merece atenção também por esse aspecto", avalia a médica.

O acompanhamento médico e psicológico é essencial para os pacientes que convivem com esses distúrbios. "é importante ressaltar que o auxílio de médicos e psicólogos pode contribuir não só com o desempenho intelectual e profissional de adultos com depressão, dislexia ou TDAH, mas também com a melhora do humor dessas pessoas. Isso costuma proporcionar um ganho ainda maior na qualidade de vida delas. Por isso, é fundamental conscientizá-las para que possam receber ajuda e viver melhor", finaliza.