Mais da metade das pessoas com diabetes têm dificuldade para seguir o tratamento

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 22/03/2015 às 14:36

Franciso Batista conseguiu seguir bem o tratamento nos primeiros meses após o diagnóstico da diabetes. Depois, ficou mais difícil (Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem) Franciso Batista conseguiu seguir bem o tratamento nos primeiros meses após o diagnóstico da diabetes. Depois, ficou mais difícil (Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem)

O engenheiro civil Francisco Batista, 62 anos, tomou um susto quando recebeu o diagnóstico de diabetes há 12 anos. Para afastar as complicações decorrentes da doença, ele começou a seguir um tratamento medicamentoso e a adotar hábitos de vida saudável, como alimentação balanceada. Ficou com medo quando ouviu do médico que precisaria se cuidar porque a taxa de glicose no sangue estava muito alta: 683 mg/dL. Os níveis aceitáveis ficam entre 70 e 99 mg/dL. “Com o tempo, os exames apresentaram melhores resultados. Mas eu fui me acomodando e, meses depois, já estava com a taxa descontrolada”, diz Francisco, que faz parte de um universo de pacientes com dificuldade para aderir ao tratamento.

Mais da metade das pessoas com diabetes tipo 2 (relacionado a maus hábitos alimentares, sobrepeso e sedentarismo) têm dificuldades para seguir recomendações médicas, segundo a pesquisa IntroDia, realizada com cerca de 10 mil pessoas com a doença em todo o mundo.

Desenvolvido pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), com apoio da Boehringer Ingelheim e Eli Lilly, o estudo foi apresentado recentemente em São Paulo e revelou que os médicos entrevistados acreditam que esse universo de pacientes não segue as recomendações por falta de disciplina e por não estar suficientemente preocupado com as complicações da doença a longo prazo, como cegueira, amputações de membros inferiores e doenças cardiovasculares.

Sobre os achados da pesquisa, a endocrinologista pernambucana Lúcia Cordeiro, do Hospital Barão de Lucena, no Recife, comenta que a adesão ao tratamento é maior nos primeiros meses após o diagnóstico. “Depois que o susto passa e a pessoa passa a ter melhores níveis de glicose, vem a fase do relaxamento, com o abandono dos hábitos de vida saudável”, diz.

Ela alerta que é muito difícil o paciente seguir o pacote de tratamento completo, que inclui atividade física, alimentação balanceada e medicação. Quem larga uma dessas recomendações tem mais riscos de voltar a ter taxas de glicose descontroladas e, consequentemente, complicações da doença.

Confira os achados da pesquisa

– 26 países participaram da pesquisa

– 10 mil pessoas com diabetes foram ouvidas

– 6,7 mil médicos que cuidam desses pacientes responderam aos questionamentos do estudo

– 50% de sucesso do tratamento da doença são atribuídos à medicação e 50% à mudança no estilo de vida, segundo os médicos

– 88% dos médicos concordaram que a conversa com o paciente sobre o diagnóstico tem impacto sobre a aceitação da doença e adesão ao tratamento

– 94% da aceitação da doença, entre os pacientes, e a adesão ao tratamento dependem da maneira com que é transmitido o diagnóstico

– 92% dos médicos gostariam de ter ferramentas para ajudar os pacientes a manter a mudança de comportamento do paciente

– 50% ou mais dos pacientes com diabetes tipo 2 não seguem recomendações médicas

Leia mais sobre o assunto na edição do caderno Cidades, do Jornal do Commercio, deste domingo (22/3)