Especialista orienta sobre atitudes cotidianas que ajudam a preservar saúde dos rins

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 12/03/2015 às 6:00

"Orientamos a ingesta de 30 ml de líquidos por quilo de peso. Desse total, 50% devem ser na forma de água pura; o restante, através dos outros líquidos ingeridos e proveniente dos alimentos", orienta Ângela Santos (Foto: Divulgação) "Orientamos a ingesta de 30 ml de líquidos por quilo de peso. Desse total, 50% devem ser na forma de água pura; o restante, através dos outros líquidos ingeridos e proveniente dos alimentos", orienta Ângela Santos (Foto: Divulgação)

Os rins são órgãos essenciais para manter a nossa saúde em harmonia. Com a responsabilidade de remover as toxinas do sangue, eles ganham o título de pequenos notáveis. Quando funcionam bem, ajudam a controlar a pressão arterial, a produzir células vermelhas e a promover a saúde do osso. É por isso que precisamos nos cercar de cuidados para que os rins permaneçam sempre saudáveis. Esse é o principal recado transmitido nesta quinta-feira (12/3) em homenagem ao Dia Mundial do Rim. Sobre o assunto, conversamos com a médica Ângela Santos, especialista em nefrologia pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e sócia-diretora da Uninefron, no Recife. Ela faz um alerta sobre a prevenção das doenças renais.

Casa Saudável - Há algum sintoma específico que pode dar pistas de que os rins não estão funcionando bem?

Ângela Santos - Infelizmente não. A doença renal, uma vez estabelecida, é progressiva e silenciosa. Só apresenta sinais e sintomas nos estágios mais avançados da doença. Por isso, a importância da prevenção e avaliação precoce.

Casa Saudável - Como podemos prevenir as doenças renais?

Ângela Santos - Como a incidência da doença renal tem aumentado, podemos dizer que se trata de um problema de saúde pública. A maioria dos casos não é diagnosticada nas fases iniciais, pois se trata de uma enfermidade usualmente silenciosa. Deve ser contínua a rastreabilidade nos grupos de risco, como pessoas com hipertensão, diabetes e obesidade. Aquelas que fumam e que têm história de doença renal na família, assim como pacientes com mais de 50 anos, devem ser investigados com regularidade. Através de exames simples de laboratório, como dosagem de creatinina no sangue e sumário de urina, podemos detectar sinais de disfunção renal em evolução.

Casa Saudável - Há uma faixa etária em que as doenças renais são mais prevalentes?

Ângela Santos - A doença renal é comum, potencialmente grave e tratável, mas também passível de prevenção. Cerca de 8% a 10% da população adulta têm algum dano renal, mas a doença pode se desenvolver em qualquer idade ou raça, com mais frequência em mulheres e idosos.

Casa Saudável - Quais os maiores fatores de risco para o aparecimento de doenças renais? 

Ângela Santos - A hipertensão, isolada ou associada a diabetes, é a principal causa de falência renal na população em geral. Em seguida, vêm as glomerulopatias, que são doenças inflamatórias crônicas intrarrenais, as infecções renais e doenças hereditárias, com maior incidência em mulheres. Nos homens, o acometimento benigno ou maligno da próstata pode levar à disfunção renal pelo componente obstrutivo ou infecções urinárias, que ocorre com o crescimento da mesma.

Casa Saudável – A infecção urinária é um sinal de doença renal? 

Ângela Santos - Não. As infecções do trato urinário, se não forem bem tratadas e prevenidas, podem evoluir com quadro crônico e deixar sequelas de cicatrizes renais. Essas lesões cicatriciais podem evoluir com progressiva e lenta disfunção renal.

Casa Saudável - Que tipo de alimentação pode auxiliar a manter saudável os rins? 

Ângela Santos - Uma dieta saudável e balanceada é importante para prevenção e controle da diabetes e hipertensão, que podem evoluir com doença renal. Quando instalada a disfunção renal, deve-se diminuir a ingestão de proteínas, além de controlar o consumo de sal e potássio.

Consumo de água é importante para bom funcionamento dos rins (Foto: Free Images) Consumo de água é importante para bom funcionamento dos rins (Foto: Free Images)

Casa Saudável - É mito ou verdade a recomendação de ingerir mais de dois litros de água por dia para não prejudicar a funcionalidade dos rins? 

Ângela Santos - Mito. Apesar de necessitarmos de adequada ingesta hídrica para um bom metabolismo, o nosso rim controla sua função de acordo com a ingestão de líquidos: se hidratarmos demais, teremos maior eliminação de urina mais diluída. Caso contrário, o rim concentrará e diminuirá o volume de diurese. Orientamos a ingesta de 30 ml de líquidos por quilo de peso. Desse total, 50% devem ser na forma de água pura; o restante, através dos outros líquidos ingeridos e proveniente dos alimentos.

Casa Saudável - O consumo de refrigerantes, isotônicos e bebidas alcoólicas interferem na função renal? 

Ângela Santos - Os refrigerantes e isotônicos não interferem diretamente, mas podem conter maior teor de sal e contribuir para elevar os níveis de pressão arterial, que é um fator de risco para a doença renal. Os isotônicos só devem ser utilizados se a pessoa passar a perder fluidos e eletrólitos de forma aumentada, como ocorre em quem passa por grandes esforços físicos e elevada sudorese. E o álcool pode levar à desidratação e tem relação importante com hipertensão.

Casa Saudável – Qual o papel dos exercícios físicos na função renal?

Ângela Santos - Eles ajudam a controlar o peso e a prevenir obesidade, hipertensão, diabetes e taxas de gordura no sangue, que são fatores de risco para a doença renal.

Casa Saudável - O cálculo renal só é combatido através de intervenção cirúrgica?

Ângela Santos - Não. Quem tem cálculo renal deve ser acompanhado por equipe multidisciplinar, composta pelo urologista, que fará a intervenção cirúrgica quando a obstrução urinária ocorrer, e pelo nefrologista, capaz de fazer a avaliação metabólica para definir o tratamento clinico. Uma nutricionista também pode dar orientações dietéticas.

Casa Saudável – E qual o cenário do transplante de rim em Pernambuco? 

Ângela Santos - A cada ano, cresce o número de pacientes renais em diálise e que necessita de transplante. Em Pernambuco, há mais de 4 mil pacientes na fila de transplantes para doador cadáver. A taxa de transplante é de menos de 10 por mês. A doação pós-morte encefálica ainda está muito aquém do desejado pelas equipes de captação de rins a nível Brasil, embora tenha aumentado nos últimos anos em 21%. Vale frisar que o transplante renal proporciona uma melhor qualidade de vida.