Cerca de 50% das pessoas que convivem com dor de cabeça recorrem à automedicação

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 03/03/2012 às 0:01

Inesperadamente, bate uma dorzinha de cabeça. Se a gente não tem remédio na bolsa, pede ao colega. Atitude habitual, mas erradíssima!

Estudo recente, publicado no Atlas of Headache Disorders, da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrou que 50% de quem tem dor de cabeça recorre à automedicação sem ter tido nenhum contato com profissional da saúde.

"As pessoas começam a conviver com a dor e não percebem que o uso de medicamentos sem o diagnóstico correto e acompanhamento médico levará a um agravamento do problema. Ou seja, o incômodo se tornará crônico com aumento na frequência em que ocorrerá e na intensidade", alerta o neurologista do Leandro Calia, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e professor da Universidade de Santo Amaro (Unisa).

Essa atitude de se automedicar tem se mostrado cada vez mais um problema de saúde pública. Um artigo publicado, neste ano, na revista Pain (a mais conceituada revista internacional para estudo da dor), mostra como o uso abusivo de medicamentos para tratar a dor de cabeça se transformou numa pandemia silenciosa.

Existem mais de 150 diferentes tipos de dor de cabeça, segundo Leandro Calia. Por isso, é fundamental que um neurologista faça o correto diagnóstico da doença e indique o tratamento mais adequado para cada caso. A terapêutica, por exemplo, da enxaqueca crônica (caracterizada por, no mínimo, 15 dias de dor de cabeça, com duração de mais de quatro horas por dia, por mais de três meses) é complexo e envolve uma série de medidas medicamentosas e não medicamentosas.

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da toxina botulínica da empresa Allergan para enxaqueca crônica. Porém, o medicamento não deve ser usado para outros tipos de dores de cabeça porque ainda não há estudos que comprovem a eficácia - e cada dor possui características distintas.

"No caso do tratamento com a toxina botulínica em questão, o estudo que foi realizado com mais de mil pessoas mostrou que houve diminuição das crises 50%, em número de dias e horas de dor", informa Leandro Calia. Ele ainda acrescenta que houve uma queda também no uso de medicamentos orais, que provocam efeitos colaterais e o agravamento da dor ao longo do tempo.

Mundialmente, cerca de 45% da população adulta têm dor de cabeça, 42% sofrem dor de cabeça tensional, 11% de enxaqueca e 2% de enxaqueca crônica.