Esquizofrenia é tema que merece ser discutido neste Dia Mundial da Saúde Mental

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 10/10/2011 às 0:08

SÃO PAULO - Neste Dia Mundial da Saúde Mental (10/10), é bastante oportuno apresentarmos os resultados de uma pesquisa inédita realizada pelo Ibope e encomendada pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (Abre), em parceria com o Programa de Esquizofrenia da Universidade Federal de São Paulo (Proesq/Unifesp).

Divulgado na última semana, na capital paulista, o estudo investigou o impacto da doença não só nas pesssoas que convivem com o transtorno, mas também com os cuidadores - indivíduos que foram entrevistados.

O levantamento, feito com os associados da Abre, teve dois viés: um quantitativo (60 pessoas) e outro qualitativo (12 pessoas).

Para 38% dos participantes da pesquisa, o fator mais importante no sucesso do tratamento é ter acesso a um psiquiatra. Já 27% acham que a disponibilidade de medicamentos e tratamentos são primordiais, enquanto que 25% afirmam que é fundamental ter acesso a um medicamento específico que ajude a evitar recaídas.

O maior desafio para os especialistas e cuidadores é evitar que o paciente tenha novos episódios psicóticos, que mesclam delírios e alucinações. O motivo dessa preocupação é que, a cada crise, as pessoas que têm esquizofrenia perdem qualidade de vida.

"Quando acontece a recaída, o portador passa por um desgaste intenso, apresenta uma piora grande e geralmente tende a responder menos à medicação. Além disso, o gasto e o estresse da família aumentam porque as crises levam à internação", diz o psiquiatra Rodrigo Bressan, coordenador do Proesq/Unifesp.

Para evitar novos episódios psicóticos, é preciso a família e a equipe interdisciplinar (médicos, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros profissionais de saúde) conscientizar o portador do distúrbio a fazer uso dos medicamentos regularmente e adotar hábitos de vida saudáveis, como iniciar uma atividade produtiva e faer exercícios físicos.

"As crises são tão destruidoras que chegam a reduzir o tecido cerebral e, dessa maneira, o paciente pode ter perdas cognitivas", alerta Rodrigo Bressan. Perdas cognitivas significam diminuição da capacidade de aprendizado, da capacidade de reter ideias e até queda do interesse por atividades do dia a dia.

O psiquiatra ainda acrescenta que a pessoa com esquizofrenia pode ter um episódio psicótico e não voltar a ter outros. Cerca de 16% dos pacientes se encaixam nessa situação. "Outros 43% voltam a ter crises e, por isso, têm déficit maior, com isolamento e retraimento social."

A prevenção de recaídas passa por um diagnóstico precoce e bem realizado, como também pelo melhor entendimento do que é o transtorno.

DESEQUILÍBRIO FAMILIAR - As crises favorecem a desarmonia entre os parentes que lidam diretamente com o portador de esquizofrenia. Geralmente, é necessário que mais de uma pessoa da família deixe de trabalhar ou estudar para cuidar do paciente.

Frequentemente, parentes e cuidadores acabam tendo também a própria saúde abalada devido ao desgaste diário. Nesses casos, mais do que tratar apenas os sintomas desse transtorno mental, faz-se necessário também cuidar da qualidade de vida do paciente e daqueles que cuidam dele.

"A família é a ponte entre o paciente e o bem-estar. Esse equilíbrio nas relações familiares faz toda a diferença na melhora do portador. Para isso, é preciso que todos estejam bem apoiados e preparados para lidar com as dificuldades trazidas pela esquizofrenia", finaliza o presidente da Abre, Jorge Assis.