Epidemia de dengue pode ser monitorada nas redes sociais

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 16/07/2011 às 0:04

O desenvolvimento de um projeto para prever epidemias através de mídias sociais, como o Twitter e o Facebook, foi um dos ápices da 63ª Reunião da Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que terminou ontem (15/7) em Goiânia.

A boa nova foi anunciada pelo médico e pesquisador Mauro Martins Teixeira, em sua conferência Dengue: desafios e direções. Como tem respondido a ciência brasileira?

Desponta interessada na temática a equipe de Teixeira, no departamento de bioquímica e imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e no Instituto Nacional de Ciência de Tecnologia (INCT) em Dengue, do qual ele é o coordenador.

Vale destacar o trabalho inspirado num artigo publicado na revista científica Nature, em fevereiro de 2009, que mostrava uma correlação quase exata entre a epidemia de gripe e as buscas feita por informações sobre doença no Google duas semanas antes da sua eclosão.

Dessa maneira, há cerca de sete meses, surgiu o projeto Vigilância de dengue baseado em um modelo computacional de análise espaço-temporal e pessoal pelo Twitter, desenvolvido em conjunto pelo INCT em Dengue e o INCT para a Web (InWEB).

"Partimos da hipótese de que a epidemia de dengue é refletida nas redes sociais e isso pode ser avaliado em quatro dimensões", explicou Teixeira. "Volume, localização, tempo, percepção pessoal."

Em outras palavras, quando há uma epidemia de dengue (ou outra doença), aparece uma leva imensa de mensagens e comentários postados em sites de relacionamento, no Twitter e no Facebook. E isso pode ser monitorado.

Foi o que os pesquisadores fizeram, com a ajuda ajuda do InWEB. "Constamos que há uma forte associação entre dados oficiais de relato de dengue e o aparecimento de tuítes ao mesmo tempo e nas regiões da epidemia", disse. "Agora queremos ver se é possível detectá-la antes de sua constatação pelos dados oficiais, que levam até seis para serem divulgados."

Segundo Teixeira, as informações colhidas nas redes sociais podem ser úteis para predizer o risco de epidemia de casos de dengue em determinada localidade, planejar medidas de comunicação e mobilização através da percepção das pessoas (grande volume de dados) nas redes sociais, além de acompanhar o impacto e avaliar a eficácia dessas medidas. "Uma das vantagens é que isso pode ser feito com baixo custo", acrescentou.

O desenvolvimento de um medicamento para tratar a dengue é outra linha de ação da equipe de Teixeira. Para isso, eles estão usando um fármaco, na verdade uma molécula chamada UK-74,505 ou modipafant, desenvolvida e testada por um grande laboratório na década de 80 para tratar da asma.

Ela não chegou a ser transformada em medicamento. Agora, Mauro Martins Teixeira a patenteou para uso clínico em seres humanos. Testes preliminares mostraram que o fármaco melhora o prognóstico clínico decorrente da infecção pelo vírus da dengue.

Para o pesquisador, a dengue é um problema brasileiro e mundial que está em crescimento. "Há mosquitos, infecção, doença e mortes demais", disse. O estudioso ainda ressaltou que a dificuldade aparece não por falta de conhecimento da população sobre maneiras capazes de evitar a proliferação da doença.

"Qualquer criança sabe o que se deve fazer para acabar com os criatórios de mosquitos, como tampar caixas d'água, além de não deixar vasos e pneus com água parada. Mas esse conhecimento não se transforma em mudança de atitude", frisou. Além disso, não há tratamento nem vacina para a doença.

Como se vê, há um caminho promissor para controlar ou tratar a dengue. Desse contexto, fazem parte as pesquisas científicas, que podem levar ao desenvolvimento de novas drogas ou terapias. Assim, existe um esforço de agências de fomento, organizações não governamentais (ONGs) e cientistas, na tentativa de resolver os problemas.

* Com informações da Acadêmica Agência de Comunicação