Professores devem saber identificar alunos com transtornos mentais

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 25/04/2011 às 0:10

Recentemente, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, apresentou uma série de propostas para as escolas ficarem atentas a possíveis transtornos psiquiátricos que crianças e adolescentes possam apresentar. 

Entre as sugestões do médico, estão a preparação de professores para identificar os alunos que demonstram transtornos mentais, a criação de comitês antibullying nas escolas, o apoio ao estudante que apresentar mal desempenho e principalmente àquele que demonstrar qualquer síndrome psiquiátrica - condição que requer encaminhamento para diagnóstico e tratamento adequado.

Esse comunicado foi dado no dia 18 de abril, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, do Senado, proposta pelo Senador Paim (PT/RS). A atitude de Antônio Geraldo da Silva, diante de condutas oportunas com as crianças que possivelmente sofrem de transtornos mentais, vem em boa hora. Afinal, não faz muito tempo que a própria ABP, em parceria com o Ibope, divulgou os resultados de uma pesquisa que avaliou a saúde mental da garotada brasileira.

Segundo o estudo, 12,6% das mães entrevistadas relataram ter um filho com sintomas de transtorno mental importante, ao ponto de necessitar tratamento ou auxílio especializado. Em números, esse percentual equivale a cerca de 5 milhões de crianças e adolescentes (6 a 17 anos).

Desse número, 28,9% não conseguiram ou não tiveram acesso a atendimento público, enquanto que 46,7% obtiveram tratamento no Serviço Único de Saúde (SUS) e outros 24,2% através de convênio ou profissional particular.

Durante a audiência do dia 18 de abril, Antônio Geraldo também solicitou que todos se unam à ABP para acabar com o estigma que hoje existe em torno da psiquiatria. "É intolerável o preconceito, o estigma a quem padece de doenças mentais. É preciso acabar com toda e qualquer forma de preconceito que, na psiquiatria, todos sofrem, desde quem trata, até o doente que é tratado", relata.

Com o depoimento que levantou discussão de propostas em torno da saúde mental na infância e na adolescência, espera-se que o governo, as escolas e a sociedade caminhem juntos para que crianças e jovens não sofram diante de um transtorno mental. Afinal, quando diagnosticado precocemente e tratado corretamente, qualquer problema desse tipo pode ser controlado. E essa monitoração é capaz de melhorar a qualidade de vida dos portadores e de suas famílias.

TRANSTORNOS - Segundo a pesquisa da ABP, encomendada ao Ibope, a maior parte das crianças e adolescentes apresenta sintomas que se enquadram em mais de um transtorno mental. Mais de 3 milhões (8,7%) têm sinais de hiperatividade ou desatenção, enquanto que 7,8% possuem dificuldades com leitura, escrita e contas - sintomas que correspondem ao transtorno de aprendizagem.

Já 6,7% têm sintomas de irritabilidade e comportamentos desafiadores e outros 6,4% apresentam dificuldade de compreensão e atraso em relação a outras crianças da mesma idade. Sinais importantes de depressão também aparecem em aproximadamente 4,2% das crianças e adolescentes.

O levantamento também mostrou que mais de 1 milhão das crianças e adolescentes (2,8%) apresenta problemas significativos com álcool e outras drogas. E na área de problemas de conduta, 3,4% das crianças possuem comportamentos como mentir, brigar, furtar e desrespeitar.