Pílulas à mão das mulheres

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 03/12/2010 às 13:00

Há cinco décadas, foi lançada a pílula anticoncepcional. Há quem diga que essa cinquentinha foi coadjuvante de uma revolução nos costumes sociais da década de 60. Outras pessoas acreditam que ela foi mesmo protagonista de toda essa história. De qualquer maneira, com a chegada desse contraceptivo, deu para perceber uma total libertação sexual das mulheres, até então limitadas pelo risco de gestações indesejadas, já que os preservativos tinham aceitação baixa por não terem tecnologias como as que possuem atualmente.

O psiquiatra Flávio Gikovate explica como esses minicomprimidos ajudaram a mudar os rumos da história feminina nos últimos 50 anos. Confira abaixo as observações do médico neste material de divulgação da Bayer Schering Pharma.

- Quais foram os principais impactos do surgimento da pílula anticoncepcional em relação aos costumes da sociedade?

Flávio Gikovate: A pílula criou condições muito favoráveis para a efetiva emancipação sexual da mulher. A liberdade sexual e a emancipação financeira que as mulheres começaram a galgar durante a II Guerra Mundial foram preponderantes para afrouxar a dependência da mulher em relação ao homem em todos os aspectos. Mas realmente não sei se as coisas teriam andado da forma como andaram se a pílula anticoncepcional não tivesse sido criada. 

- É possível comparar a revolução que a pílula proporcionou para a mulher com algum outro marco histórico na vida feminina?

Flávio Gikovate: Acredito que a revolução causada pela pílula possa se comparar ao que significou a II Guerra Mundial para as mulheres. Naquela época, a ida dos homens para os campos de batalha forçou as mulheres a ocuparem postos no mercado de trabalho aos quais antes não tinham acesso. Elas passaram a experimentar a independência financeira e, mesmo com o fim da guerra, não deixaram de trabalhar fora. Isso tornou a sociedade mais igualitária. E essa independência econômica se tornou ainda mais marcante com a pílula, anos mais tarde. Isso porque, com o contraceptivo, a mulher passou a ter oportunidade de adiar a maternidade para priorizar a carreira profissional. 

- Como exatamente a pílula anticoncepcional influenciou a vida profissional das mulheres?

Flávio Gikovate: A possibilidade de programar a gravidez deu à mulher a chance de postergar a maternidade para um período de mais maturidade, quando ela já tem uma carreira profissional consolidada. Além disso, o fato de poder optar o tempo para ter filhos abriu para as mulheres as portas de universos profissionais antes restritos aos homens. Basta vermos que há 50 anos, apenas 10% dos alunos de medicina da Universidade de São Paulo (USP) eram mulheres. Na turma em que me formei, eram pouquíssimas médicas. Hoje, nas faculdades de medicina, temos cerca de 60% de mulheres. Na Poli (escola de engenharia da USP), apenas 1% das vagas do curso de engenharia era ocupada por alunas. Atualmente, são 33%. Creio que alcançando níveis de formação cada vez mais avançados, em 20 anos, as mulheres passarão a ganhar mais do que os homens.

- O que significou a pílula anticoncepcional para o papel da mulher na família?

Flávio Gikovate: O que posso dizer é que, cada vez mais, mulheres optam por adiar ao máximo a maternidade ou escolhem não ter filhos. Isso impacta a família. Podemos olhar o caso da Itália, onde cerca de um terço das mulheres não tem filhos. E isso é uma tendência mundial. Por outro lado, as mudanças dos últimos 50 anos foram muito radicais e grande parte dos indivíduos não conseguiu acompanhar essas mudanças do ponto de vista psicológico. Daí, vemos o aumento desenfreado da obesidade e do consumo de drogas e álcool, por exemplo.

- A taxa de fecundidade brasileira decresceu da média nacional de 6,3 filhos em 1960 para 5,8 filhos em 1970, chegando ao patamar de 2,3 filhos em 2000. Na sua opinião, qual foi o papel da pílula anticoncepcional nesse cenário?

Flávio Gikovate: As brasileiras estão seguindo a tendência mundial e tendo cada vez menos filhos. Atualmente, a taxa de fecundidade nacional já está em menos de dois filhos por mulher. Acredito que essa tendência já tenha se consolidado no Brasil.

* Com informações da Burson-Marsteller, assessoria de imprensa da Bayer Schering Pharma