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Com soluções e riscos, novo modelo clube-empresa deve ser apresentado em outubro

Diego Borges
Diego Borges
Publicado em 29/09/2019 às 10:01
Deputado Pedro Paulo será o relator do projeto de lei que visa regulamentar a relação clubes-empresas no Brasil. Foto: Câmara dos Deputados / Divulgação
Deputado Pedro Paulo será o relator do projeto de lei que visa regulamentar a relação clubes-empresas no Brasil. Foto: Câmara dos Deputados / Divulgação

Na última terça-feira, Figueirense e Bragantino duelaram pelos mesmos três pontos de uma partida, tão importante quanto as demais 379 do Campeonato Brasileiro da Série B. Porém, olhando além dos escudos, o estádio Orlando Scarpelli sediou um jogo emblemático para o atual momento do futebol brasileiro, por reunir naquele dia dois dos principais modelos de administração empresarial aplicados ao atual cenário do mercado do esporte no Brasil.

De um lado, o sucesso do Bragantino, líder isolado da Série B e com um plano de negócios traçado pela multinacional Red Bull com certa semelhança em relação ao modelo aplicado no RB Leipzig, hoje um dos protagonistas do futebol alemão. A empresa austríaca prometeu aportar R$ 45 milhões só nesta temporada e caso o acesso à elite se concretize, cerca do triplo do investimento é projetado para o ano que vem.

Do outro, o fracasso do lanterna Figueirense, cujo contrato previsto para 20 anos com o investidor Claudio Honigman, na figura da empresa Elephant, fora rescindido na mesma terça-feira após a constatação de uma administração de atrasos salariais e até W.O. para o clube, que hoje corre risco de ter as atividades suspensas por dois anos e ainda ser rebaixado diretamente para a Série D por solicitação do próprio Honigman, acusado ainda de realizar saques ilegais das contas do Figueirense.

No placar, o 3x0 para o Bragantino é meramente simbólico e incapaz de traduzir a goleada entre os clubes no ‘Brasileirão da administração’. Uma espécie de campeonato onde atletas e comissão técnica dão lugar aos gestores, o esquema tático se transforma em estratégia de mercado e a captação de investimentos e lucros líquidos do exercício são comemorados tais como gols e troféus erguidos.

REGULAMENTAÇÃO EM PAUTA

Esse campeonato atraiu maiores atenções no Brasil no início de setembro, após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anunciar que a casa parlamentar apresentaria agora em outubro um projeto de lei para nortear as relações entre clubes e empresas, como forma de fortalecer o futebol brasileiro e atrair investimentos internacionais.

Dois projetos de lei já tramitam na esfera legislativa até então. O PL n° 5.082 de 2016, ou 'Lei das SAF - Sociedade Anônima do Futebol', proposto pelo deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) no Congresso, e o PL 68/2017, ou 'Lei Geral do Esporte', que tramita no Senado Federal desde março de 2017 e visa regulamentação do desporto como um todo, muito além da gestão no futebol.

No entanto, mesmo com os projetos já apresentados, um novo modelo será proposto pelo deputado estadual Pedro Paulo (DEM-RJ), que desde de agosto vem reunindo informações sobre o Profut e o possível impacto de uma nova proposta aos cofres do Ministério da Economia. Em entrevista ao programa Os Donos da Bola, da BAND-RJ, o deputado admitiu haver um acordo entre os respectivos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, para concentrar forças no novo projeto. "Nós vamos primeiro focar no futebol. Tem um projeto no Senado que fala de todos os esportes (PL 68/2017), mas há um compromisso entre as duas casas para focar no modelo clube-empresa para o futebol e, uma vez aprovado, trazer para os demais esportes”, apontou Pedro Paulo.

O principal objetivo é elevar a carga tributária dos clubes para se aproximar ao montante cobrado das demais empresas no país, encontrando um percentual intermediário. Como contrapartida, o projeto oferece um novo refinanciamento sobre as dívidas acumuladas, inclusive débitos do último REFIS, no ato da instituição do Profut, além de outras ações requisitadas pelos clubes, como a duplicação do percentual de mecanismo de solidariedade de 5% para 10%, como forma de fortalecer o montante recebido pelos clubes formadores de atletas em transações nacionais.

PRINCIPAIS PROJETOS

Senado

Projeto de lei 68/2017 - 'Lei Geral do Esporte'

Autoria: Comissão Diretora do Senado Federal

Apresentada em 27/03/2017

Situação atual: Matéria com a relatoria do Senador Roberto Rocha, ainda não foi analisada pelo plenário.

SAF

Projeto de Lei 5.082/2016 'Lei das SAF - Sociedade Anônima do Futebol'

Autoria: Deputado Otávio Leite

-PL 5082

Criação do modelo societário específico: SAF

Escolha facultativa

Novo REFIS descartado

Propõe um período de cinco anos com alíquota única de recolhimento de impostos para os clubes que adotarem a SAF, sem equiparação aos demais

PL Padro Paulo (em elaboração)

Induzir os clubes a dotarem um modelo em vigor no Código Civil

Escolha obrigatória

Novo refinanciamento de dívidas

Equiparar impostos entre associações e empresas, oferecendo tabelas progressivas como forma de induzir a migração para o novo modelo

Contraproposta dos clubes

- Regime tributário específico: Alíquota única - a discutir - e valor intermediário entre o pago hoje pelos clubes e empresas.

- Clubes que não adotarem o modelo serão submetidos a requisitos administrativos, estabelecidos com base nas normas do Fair Play Financeiro da FIFA.

EXEMPLOS PREOCUPANTES

Embora seja necessária, caso não tenha as prerrogativas bem estabelecidas, a regulamentação no novo projeto de lei pode abrir margem para problemas que são vistos também na Europa, considerado o principal mercado de investimento no futebol. Em Portugal, por exemplo, desde 2013 os clubes interessados em disputar as duas principais ligas nacionais foram obrigados por lei federal a optar por um modelo ou outro de gestão, por Sociedade Anônima Desportiva (SAD) ou Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ) já na temporada seguinte.

Seis anos depois, os clubes lusitanos seguem apresentando um quadro geral preocupante de dívidas até mesmo para as os gigantes Benfica, Porto e Sporting. Além deles, clubes menores apresentaram resultados semelhantes aos do Figueirense, com atrasos superendividamento. O SC Beira-Mar, por exemplo, tenta se restabelecer após a má administração do 'messias' iraniano Omar Scafuro, empresário acusado de abuso de confiança fiscal e emissão de cheques sem fundos. Já o Belenenses, após optar pelo modelo SAD, rompeu relações com os investidores e se viu obrigado a disputar as divisões amadoras para retomar as atividades, enquanto a entidade SAD segue utilizando o mesmo nome centenário do clube na liga principal.

À mesma medida, empresários seguem acumulando cada vez mais capital. Como no caso do português Jorge Mendes, agente de figuras famosas como Cristiano Ronaldo e José Mourinho e com negócios com clubes como Famalicão, Braga, Benfica e Porto em Portugal, Atlético de Madrid e La Coruña (Espanha), além de Mônaco, Milan-ITA e Wolverhampton-ING.

Todo ambiente de mercado tem suas particularidades, e no Brasil o futebol provoca a sensação de pertencimento na sociedade, que representa em uma espécie de capital incapaz de mensurar. Afinal, o esporte no país vai além do seu papel de instrumento lúdico e passa a ser agente de transformação sociocultural ao redor do país como um todo. Logo, um modelo que concentre poder estratégico em um único administrador ou representante do clube, seja ele financeiro ou executivo, pode colocar em risco um patrimônio imaterial de milhões, a depender de interesses individuais ou de terceiros. Assim, o que deveria ser a salvação dos clubes, pode se tornar a causa de condenação de instituições seculares.

ENTREVISTAS RELACIONADAS

CASAS PARLAMENTARES

A reportagem do JC entrou em contato com representantes das três casas parlamentares para obter respostas sobre o andamento do projeto. A assessoria do Ministério da Economia solicitou as perguntas via e-mail, mas em seguida informou que “O Ministério da Economia não se pronunciará sobre o assunto.”

A assessoria do senador Romário (PODEMOS-RJ), apontado como um dos possíveis interessados no projeto, informou que o ex-atleta não tem “interesse em resgatar projeto algum”, mas afirma que o senador “poderia ser relator no Senado, caso algum (projeto) sobre o tema fosse aprovado na Câmara”.

Já a Assessoria do Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sequer atendeu, visualizou ou retornou as tentativas de contato da reportagem. A assessoria do deputado Pedro Paulo recebeu perguntas sobre a projeção da tramitação e aprovação do projeto, além do questionamento sobre a determinação de um percentual mínimo a ser aplicado como manutenção para os clubes, porém apenas a resposta sobre a projeção foi enviada até o fechamento deste material.

"Temos os presidentes das duas casas - Câmara, com o Rodrigo Maia, e Senado, com o Davi Alcolumbre -, juntos neste projeto do Clube-Empresa. O Senado, inclusive já destacou o senador Romário, que dispensa apresentações, para ser o relator. Esse substitutivo é do Congresso. Estamos trabalhando muito, a previsão é que seja apresentado em outubro, para ser aprovado em novembro, e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro", projeta Pedro Paulo.

PEDRO PAULO DEM/RJ - DEPUTADO RELATOR DO PROJETO DE LEI QUE SERÁ APRESENTADO

Ao programa ‘Os Donos da Bola’, da TV Band-RJ, o deputado Pedro Paulo participou como convidado e respondeu às seguintes perguntas dos espectadores e comentaristas sobre os seguintes temas:

DIMINUIÇÃO DO PASSIVO

“Quando se oferecer para essa empresa se transformar e a possibilidade de um refinanciamento das dívidas, vamos oferecer um desconto bastante significativo. Estamos ajudando os clubes a saírem de uma situação de endividamento. Estamos dando um impulso enorme para os clubes se financiarem. Interromper essa bola de neve que é a justiça do trabalho. É um jogo em que todo mundo perde. Uma baita alavanca financeira. Estou muito focado nisso. Transformar o ambiente do futebol em profissional e atacar esse endividamento.”

UM INVESTIDOR NÃO PODERÁ SER ACIONISTA EM MAIS DE UM CLUBE

“Estamos colocando um capítulo no projeto voltado para a transparência total do investidor. Proibir isso (possibilidade de investir em clubes diferentes), para não abrir margem para combinações de resultados e até porque não é bom para o futebol.”

O FIGUEIRENSE COMO OBJETO DE ESTUDO

“O Figueirense é um caso que estamos olhando com todo cuidado para não repetir os erros. Essa história de entrar um investidor picareta, e ele se aproveitar e depois abandonar o clube. Proporcionar uma relação mais transparente. O Figueirense mesmo foi muito sufocado na carga tributária.”

QUEM ADQUIRE ATIVO, TAMBÉM LEVA O PASSIVO

“Levava o ativo e o passivo deixava de lado. E o que acontece quando a justiça vem? Bloqueia todas as contas, da associação e da empresa gestora. Se levar o ativo, tem que levar também o passivo, para atacar e resolver o problema.”

DIFERENÇAS PARA O PROJETO N° 5.082/2016

"Na verdade, o meu projeto é um substitutivo desse e mais um, mas ele têm uma diferença grande que nós não vamos criar uma sociedade exclusiva para reger o futebol. Espanha e Portugal foi assim, mas a Inglaterra não funcionou desse jeito, eles mantiveram os formatos de parceria já existentes. Nós temos sete tipos de sociedade previstos na lei brasileira e não precisa criar mais uma modalidade. Vamos propor o mais simples e o modelo da Inglaterra é o que a gente vai perseguir.”

COMO FICAM OS ESPORTES OLÍMPICOS?

"Nós vamos primeiro focar no futebol. Tem um projeto no Senado que fala de todos os esportes. O compromisso com as duas casas (Câmara e Senado) é focar no modelo clube-empresa para o futebol e, uma vez aprovado, trazer para os demais esportes. Mas haverá mecanismos para que a empresa possa transferir recursos para o clube financiar outros esportes, fazer a cessão da marca para estabelecer royalties e/ou recursos mensais para incentivar os esportes olímpicos. Pensamos nisso para não abandonar as atividades sociais dos clubes.”

RELAÇÃO COM A CBF

“A gente está tratando dos clubes, com toda a preocupação. Não vamos entrar na questão da CBF e das Federações, até porque seria o parlamento entrar na esfera esportiva. Ainda assim, temos feito reuniões com as Federações. Na próxima semana, os presidente de Federações vão a Brasília para contribuir com esse momento.”

COMO OS CLUBES ESTÃO RESPONDENDO AO PROJETO?

“Temos hoje três grupos. O que provavelmente vai continuar como clube, como Grêmio, Flamengo, Palmeiras e Bahia, por exemplo. Outro grupamento que está observando atentamente as mudanças, geralmente são clubes onde temos mais dificuldades de levar o conceito para os seus conselhos deliberativos. E temos ainda os já tomara a decisão de aderir ao modelo. É o caso do Botafogo, do Athletico-PR - que quer se tornar 100% empresarial, inclusive -, e do Corinthians. Cada um com seu formato. o Corinthians, por exemplo, quer virar (clube-empresa) mas quer que o clube tenha 51% das ações e os demais 49% sejam negociados, para o clube  possa manter autonomia majoritária em suas decisões.”

MECANISMO DE SOLIDARIEDADE NACIONAL COMO INCENTIVO PARA CLUBES FORMADORES

“Sempre quando a gente transaciona os atletas temos os 5% direcionados para os clubes formadores. A nível internacional, a FIFA rege essas movimentações e não temos como alterar o percentual, mas para transações nacionais, planejamos aumentar de 5% para 10%. Hoje temos cerca de 700 clubes formadores no Brasil e essa é uma forma de dar mais um dinheirinho para esses clubes.”

ENDIVIDAMENTO DOS CLUBES

“O dia-a-dia dos presidentes dos clubes brasileiros é muito mais de gestor de caos do que de pensar a profissionalização do futebol. Por exemplo, o Cruzeiro em uma projeção contábil só conseguiria quitar seus débitos em 200 anos, considerando o caixa livre todo disponível para pagar dívidas recorrentes e o passivo. O Botafogo demoraria 35 anos...”

O QUE LEVA A CRER QUE O REFINANCIAMENTO, DESTA VEZ, SOLUCIONARIA OS PROBLEMAS DOS CLUBES?

“A diferença é que estamos mudando a forma de organização, de quem vai receber esse refinanciamento. Na empresa, o executivo responde com o seu patrimônio. Nos clubes hoje, se o sujeito não paga o Profut não acontece nada. Na lei de gestão temerária prevista pelo Profut hoje é uma vergonha. Para ser responsabilizado, o próprio gestor teria que encaminhar ao conselho administrativo um processo contra ele mesmo. Quem vai fazer isso? A diferença é que no ambiente de empresa o executivo responde com o patrimônio dele.”

CLUBES PERNAMBUCANOS

O JC também ouviu os respectivos presidentes executivos dos três principais clubes pernambucanos, Náutico, Santa Cruz e Sport. Confira abaixo os posicionamentos de Edno Melo, Constantino Júnior e Milton Bivar, respectivamente.

NÁUTICO - EDNO MELO

O MOVIMENTO NA VISÃO DO NÁUTICO

“No Náutico é uma realidade totalmente diferente, o passivo é muito alto. Tem que ter muito cuidado com clube empresa. Se você abre a recuperação judicial de um clube desse e não pode mais ser rebaixado. Uma série de coisas que tem que pesar. Essa realidade de clube empresa no país, das vezes que tentaram nao deu certo. Parmalat e Palmeiras, Figueirense. Tem que ter cuidado. Uma concessão de marca até acho mais interessante, usar a marca do clube como maneira de agregar valor, mas é muito difícil transformar esse formato.

CUIDADOS PARA TOMAR UMA DECISÃO

“Claro. O Náutico é uma instituição centenária. A gente não pode tomar uma decisão do dia para a noite. Mas nada que fira o estatuto ou desabone a nossa torcida”

TENDÊNCIA A PERMANECER NO MODELO ASSOCIATIVO COM PRÁTICAS DE BOA GESTÃO

“O Náutico hoje é um exemplo disso. Onde implementou uma gestão que valoriza cada espaço do clube, uma gestão que você mostra que o futebol é uma paixão mas também é responsabilidade, credibilidade e austeridade. Subindo de patamar, você se credencia esse modelo gestão ser de sucesso. Internacional e Bahia  também são exemplos. Ter uma gestão profissional é totalmente diferente de ter um modelo clube-empresa. Você pode instituir planos de cargos e salários, remunerar diretores e presidente, sem necessariamente transformar o formato do clube. Dá para acompanhar o mercado sem alterar toda a estrutura do clube.”

SANTA CRUZ - CONSTANTINO JÚNIOR

O MOVIMENTO NA VISÃO DO SANTA CRUZ

“O Santa Cruz enxerga com bons olhos a possibilidade do favorecimento da entrada de capital externo, que pode ser salutar no futebol. Alguns pontos que a gente pode impactar clubes brasileiros que vivem realidades diferentes. A grande maioria passa por certas dificuldades e as adequações da lei podem favorecer o ambiente de negócio. O investidor precisa ter segurança para investir no brasil, o que já acontece nas grandes ligas, com capital russo, chinês…, esse movimento é importante para os clubes, mas eles precisam estar preparados o mais breve possível.

O Governo também precisa de reparações no âmbito trabalhista, tributário, com mecanismos que podem ajudar nas gestões e as contrapartidas que os clube podem fazer também, como forma de ficar preparados para receber esse volume de investimentos. Ao Santa Cruz, cabe partir em frente para dialogar e discutir internamente para levar ao deputado Pedro Paulo algumas ideias que favoreçam o ambiente”

REFINANCIAMENTO DE DÍVIDAS

“As contrapartidas têm que existir. Não é dar em troco de nada. A lei tem que contemplar quem oferece uma contrapartida, por exemplo, de boas práticas de gestão, de não gastar mais do que arrecada. Importante até para que os clube paguem as suas dívidas. O Santa Cruz vem pagando e buscando diminuir esse passivo tributário. Mas acho que não é só pedir e não ter contrapartida. É ter iniciativa de gestão e muitos dirigentes estão procurando isso. Vejo com bons olhos esse amadurecimento.”

OS PASSOS DADOS PELO SANTA: AUDITORIA E REFORMA DO ESTATUTO

“Também. É sempre importante discutir o clube de maneira democrática e justa. Dessa forma é sempre válido. Quanto aos trabalhos de auditoria, a gente vem se adequando à regulamentação da própria CBF, com apresentações de balanço e a própria auditoria externa. A gente tem buscado esse equilíbrio e acho que estamos plantando essa semente para colher bons frutos desse trabalho. Demora para dar resultado, mas estamos preparando o clube para o futuro.”

GARANTIAS AOS CLUBES

“A própria lei vem para isso, para não deixar que qualquer um possa aparecer como salvador da pátria. Que seja com empresa consolidadas que oferecerem contrapartidas e atendendo a princípios básicos de gestão para que, por exemplo em caso de atrasos de salários, a empresa seja responsabilizada da esfera civil. Temos um corpo jurídico bem experiente e de profissionais muito bons, que têm essa condição de dar segurança para a gestão.”

SPORT - MILTON BIVAR

O presidente rubro-negro enxerga o movimento de adequação ao modelo clube-empresa salutar, porém prefere se posicionar quando o projeto for apresentado na Câmara dos Deputados.

FEDERAÇÃO PERNAMBUCANA DE FUTEBOL - EVANDRO CARVALHO

O JC também ouviu a opinião do presidente da FPF, Evandro Carvalho sobre o processo de adequação ao modelo de gestão clube-empresa. "No modelo que está (sendo proposto) hoje, nenhum clube vai aderir", acredita o presidente.

POR QUÊ?

"Essa legislação já existe, está no texto atual, só que não faz sentido o clube pagar os mesmo valores dos impostos que se cobram das empresas. A única coisa que altera é o seguinte: o Governo tem que ampliar os benefícios fiscais e previdenciários, e minimizar o valor tributário que vão ter que pagar a título de imposto."

HAVERÁ IMPOSIÇÃO DA LEI AOS CLUBES?

"Só se fizer uma nova (assembléia) constituinte ou uma alteração na Constituição vigente de hoje. Nenhuma lei federal, estadual ou municipal pode obrigar os clubes a nada. Eles têm autonomia plena. Nenhuma lei ordinária pode determinar nada.”

A PROPOSTA DE HIPERSSUFICIÊNCIA DOS ATLETAS

“Claro que beneficia. É um modelo mundial. Esse modelo de Justiça de Trabalho prejudica aos jogadores e aos clubes. O empregado que tem que decidir, e não ficar preso. Quem sabe o que pode e o que não pode na relação do trabalho são o empregado e o empregador.”

NÃO ABRIRIA ESPAÇO PARA ABUSOS DE AMBOS OS LADOS?

"De jeito nenhum, é benéfico."

O NOVO FORMATO IMPACTARIA A FEDERAÇÃO DE ALGUMA FORMA?

"Em absolutamente nada. É uma questão apenas fiscal e previdenciária."

Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol - FENAPAF

A reportagem do JC também colheu a opinião do presidente nacional da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol - Fenapaf, Felipe Augusto Leite, sobretudo em relação ao modelo de hiperssuficiência que pode ser proposto aos atletas. Segundo o representante dos atletas, a proposta de retirar das normas das Leis Trabalhistas a relação de emprego entre clubes e jogadores que recebem acima de R$ 10 mil ou R$ 20 mil (ainda sob negociação) pode ser retirada do projeto final.

"Nós estivemos ontem (quinta-feira, 26) no gabinete do deputado Pedro Paulo em Brasília e  colocamos as nossas razões em relação à questão trabalhista. Essa questão da possibilidade de mudança do modelo atual para o de clube-empresa não nos faz muito respeito. Mas a questão trabalhista, que diz respeito a direitos dos atletas, não entendemos como salutar que passe a vigor no curso do contrato de trabalho uma nova modalidade, qual seja a prestação do serviço, de transformar o atleta em pessoa jurídica. Não falo pelo Congresso ou pelo deputado autor, mas isso foi deliberado ontem à exaustão, com uma sinalização positiva."

HIPERSSUFICIÊNCIA DEVE SAIR DA PAUTA

"Foi muito bem recebido pelo deputado e acho até que não vai vingar (a proposta da hiperssuficiência), pois nós não podemos proporcionar que no âmbito de empresa tenha um grupo que seja sujeito à CLT e outro responda à questão civil. Isso pode deixar margem, por exemplo para uma a hipótese de que uns atletas venham a treinar e outros não, por não ser submetidos a um mesmo regime de subordinação. Acredito que será repensado pelo deputado no ato da relatoria final do projeto."

INTENÇÃO DOS CLUBES

"O que os clubes querem objetivamente é evitar que ser obrigados a fazer os recolhimentos proporcionais sobre férias, 13° salário e, principalmente, a verba fundiária em cima de salários milionários. Por isso que a proposta é limitar em até dois tetos salariais estabelecidos pelo INSS."

CASOS DE RELAÇÕES CLUBES-EMPRESAS NO BRASIL

Não é de hoje que o poder público brasileiro demonstra interesse pelo futebol. Em 1993 a Lei Zico (8.672) destituiu a Lei do Passe, e foi substituída pela Lei Pelé (9.615), de 1998, que buscou sem sucesso impor a migração dos clubes ao formato de empresas. Poucos se aventuraram, tomando em consideração a quantidade de clubes ao redor do país. Confira abaixo alguns exemplos desse tipo de relação.

- Criado em 1981, o União São João de Araras foi o primeiro clube que acompanhou a lei brasileira e se moldou ao modelo de gestão empresarial, em 1994. Conquistou a Série B de 1996 e revelou jogadores importantes como o lateral-esquerdo Roberto Carlos. Hoje se encontra inativo.

- Fundado em 1998, o Malutrom S/A foi o primiero clube a nascer como empresa, no interior do Paraná. O time chegou a conquistar a série C nacional no ano 2000 e posteriormente mudou de nome para J. Malucelli.

- Em 1992 foi instituída uma das parcerias mais emblemáticas no futebol brasileiro. O acordo entre Palmeiras e Parmalat rendeu três Campeonatos Paulistas (1993, 1994 e 1996), dois Brasileiros (1993 e 1994), dois torneios Rio-São Paulo (1993 e 2000), uma Copa dos Campeões, uma Copa Mercosul (1998) e Copa Libertadores (1999). No entanto, após o contador Gianfranco Bocchi prestar depoimento às autoridades italianas alegando desvios de dinheiro da matriz para o Brasil, a PF, então, abriu inquérito e solicitou a quebra de sigilo bancário de todos os dirigentes da Parmalat no país, membros foram condenados e a parceria se rompeu em 2000. As investigações se estenderam. Juventude e Santa Cruz também foram patrocinados pela empresa, porém em outros modelos de parceria.

- Entre 1997 e 1998, o Banco Excel-econômico patrocinou Corinthians, Vitória, América-MG e Botafogo, aportando investimentos para contratações e pagamentos salariais.

- De 1998 a 2001, o Vasco fechou acordo com o Nationsbank e alcançou o Campeonato Carioca (1998), a Libertadores (1998), o Rio-São Paulo (1999) o Campeonato Brasileiro (2000) e a Copa Mercosul (2000), além do vice-campeonato no Mundial de Clubes de 2000. por divergências com o então presidente Eurico Miranda, a parceria foi desfeita, também provocando ônus aos cofres do Vasco.

- Outra emblemática parceria diz respeito ao acordo entre Fluminense e Unimed, que durou de 1999, com o clube na Série C, até 2014. Foram conquistados pelo Tricolor das Laranjeiras os títulos da Copa do Brasil, em 2017, dois Campeonatos Brasileiros (2010 e 2012) e as finais da Sul-Americana (2009) e da Libertadores (2008). A parceria encerrou após divergências políticas.

- A investidora americana Hicks Muse apostou também no Corinthians e no Cruzeiro entre 1999 e 2000. O time paulista, inclusive, foi campeão mundial com um elenco cheio de estrelas, mas o contrato foi rompido após descumprimentos de ambos os lados.

- Também contemporânea, a empresa de marketing esportivo ISL fechou acordo com Flamengo e Grêmio para montar elencos estrelados. A instituição, no entanto, decretou falência e ainda repassou aos clubes o passivo das contratações, o que desencadeou crises econômicas e ajudou a provocar o rebaixamento do clube gaúcho para a Série B três anos depois.

- Em 2003, o São Caetano se tornou clube-empresa e conquistou o Campeonato Paulista, chegando a disputar a Taça Libertadores. Hoje disputa divisões inferiores no Estadual e no Nacional.

- Fundado em 1998, o Guaratinguetá se tornou clube-empresa em 2004. Disputou a Série B por quatro anos.

- No final de 2004, o Corinthians fechou parceria com a MSI, na figura do representante iraniano Kia Joorabchian. Nomes de peso mundial como os argentinos Tevez e Mascherano chegaram ao clube, porém ao longo da parceria houve desentendimentos entre as gestões da empresa e do clube. A parceria encerrou em 2006 e foi principal pivô do rebaixamento do Corinthians à Série B, com dívida estimada em mais de R$ 100 milhões.

- O Grêmio Barueri foi montado pela prefeitura local mas mudou para o modelo clube-empresa em 2006. Chegou a disputar a Série A, a Copa do Brasil e até a Copa Sul-Americana.

- Palmeiras voltou a ter parceria, agora com a Crefisa, que desde 2015 aporta investimentos no clube para contratações e pagamentos de salários dos jogadores. Desde então, o time conquistou a Copa do Brasil de 2015 e dois Brasileiros (2016 e 2018).

- BRAGANTINO E A RED BULL: A parceria entre Bragantino e Red Bull Brasil foi anunciada em março deste ano, logo após a participação de ambos no Campeonato Paulista. Em um processo de fusão que deve ser concretizado a médio prazo, em até cinco anos, atletas, comissão técnica e corpo de administração foram transferidos para o time de Bragança, sob a promessa de R$ 45 milhões de investimento. Percentuais da distribuição das ações, no entanto, não foram divulgados.

- FIGUEIRENSE E A ELEPHANT: Em agosto de 2017 a empresa Elephant adquiriu 95% das ações do Figueirense sob a promessa de assumir também as dívidas do clube, que giravam em torno de R$ 30 milhões. O investimento inicial seria na ordem de R$ 22 milhões, que já seriam insuficientes para saldar o débito. Aliado ao fato de que grande parte do passivo da associação era circulante, ou de execução a curto prazo, ocasionou nos atrasos de salários dos atletas e seus desdobramentos como ameaças de greves e até o W.O. contra o Cuiabá. Claudio Honigman, dono da Elephant, teve o contrato previsto para durar 20 anos rescindido, e em atitude que sugere represália, enviou ao STJD pedido de abandono do Campeonato Brasileiro da Série B, que suspenderia as atividades do Figueirense em dois anos, rebaixando o clube automaticamente à Série D nacional. Honigman ainda foi acusado pelo presidente interino, Chiquinho de Assis, de realizar saques do clube mesmo após cisão contratual entre as duas partes

- BOTAFOGO-SP SA: Também recentemente o Botafogo de Ribeirão Preto adotou um modelo próprio ao alterar o estatuto e criar uma companhia junto a um investidor que detém a maioria das ações. Houve mudança no corpo de gestão, com criação de um conselho de administração.

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