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O longo caminho da reivindicação do futebol feminino

Karoline Albuquerque
Karoline Albuquerque
Publicado em 19/03/2019 às 11:29
Foto: Divulgação/CBF
Foto: Divulgação/CBF

Da AFP - "Futebol não é coisa de menina". Durante décadas a sociedade acreditou nessa frase, apesar das lutas do futebol feminino pelo reconhecimento após a Primeira Guerra Mundial e nos anos 1960. A terceira onda pode ser a definitiva e a Copa do Mundo da França é o momento para a afirmação.

O país europeu vai sediar entre 7 de junho e 7 de julho a grande festa deste esporte.

O primeiro sinal de emancipação surgiu imediatamente após a Primeira Guerra Mundial, com a "idade de ouro" do futebol feminino, segundo Xavier Breuil, autor da 'História do futebol feminino na Europa'. As mulheres, que descobriram nas fábricas as atividades dos homens, começaram a amar o futebol.

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Aquela época teve inclusive sua grande equipe, as 'Munitionnettes' de Dick Kerr's, o nome da empresa de armamentos de Preston, e sua grande estrela, Lily Parr, a única jogadora de futebol presente no Hall da Fama do futebol inglês.

Cerca de 53.000 espectadores lotaram o Goodison Park em Liverpool (o estádio do Everton) para uma partida contra o Saint-Helens em dezembro de 1920. Mas o 'establishment' sonhava com uma "volta à normalidade", de acordo com Breuil.

A partir de 1921, as grandes federações não só se recusam a integrar o futebol feminino, como também tornam a vida dos clubes de mulheres impossível ao negar ceder os estádios para a prática feminina.

O movimento feminista dos anos 60

A partir da Inglaterra, o futebol feminino seduz francesas, belgas e alemãs. Mas sem o apoio das instituições, a prática acaba decaindo. Por exemplo, o campeonato da França, dominado pelo Femina Sports, deixaria de se disputado em 1933 por falta de meios econômicos.

Duas gerações mais tarde, nos anos 1960, surge uma segunda onda, junto com o desenvolvimento do movimento feminista, "que liberou a mulher politicamente, mas também a partir de um ponto de vista físico", explica à AFP a historiadora e socióloga Anaïs Bohuon.

"As mulheres fazem como os homens, e se querem ter acesso às paixões da virilidade, é permitido", acrescenta esta professora de Ciências e Técnicas das Atividades Físicas e Desportivas na Universidade de Paris Sud.

Começa então uma 'idade de prata', com a disputa da primeira Eurocopa feminina em 1969, vencida pela Itália, embora este torneio não seja reconhecido nem pela Uefa nem pela Fifa.

Um ano mais tarde é disputado um torneio mundial, com vitória da Dinamarca, e em seguida outras competições, mas nenhuma delas são oficiais. Só a partir da década de 1970 é que várias federações europeias vão começar a reconhecer novamente o futebol feminino.

'O feudo da virilidade'

Mas esse renascimento vai se apagando pouco a pouco. O movimento feminista liberou a prática do esporte, mas a zombaria, o paternalismo e o repúdio continuam. "O futebol segue sendo 'o feudo da virilidade', como dizem os sociólogos Norbert Élias e Eric Dunning", os primeiros que estudaram o esporte, garante Anaïs Bohuon.

Além disso há "temores médicos e sociais muito fortes: que a mulher se virilize, que ponha em risco seus órgãos reprodutivos, que não assuma o papel que lhe foi reservado desde os primórdios".

De 1970 a meados dos anos 1980, o futebol feminino subsiste, exceto nos Estados Unidos, onde o "soccer é considerado uma disciplina praticamente feminina, as meninas o praticam desde muito pequenas e ele faz parte dos hábitos", relembra a professora Bohuon.

É lógico que as americanas acabem dominando as primeiras Copas do Mundo oficiais, ganhando duas das três primeiras edições (1991 e 1999). A Noruega ganhou o segundo Mundial disputado (1995).

A organização de torneios internacionais oficiais foi possível quando a partir de meados dos anos 1980 as instituições finalmente levaram a sério o futebol feminino, organizando primeiro a Eurocopa (a partir de 1984, com a Suécia como primeira seleção campeã) e o Mundial a partir de 1991.

Os anos 2000 aceleraram este movimento, com o nascimento da locomotiva do futebol europeu, a Liga dos Campeões, que a partir de 2001-2002 segue o modelo dos homens.

Ada Hegerberg Foto: AFP

É importante destacar além disso que há cada vez mais meninas em todo o mundo que praticam o futebol, motivadas pelo filme 'Bend It Like Beckham'.

Nesse longa-metragem do início dos anos 2000, jovens inglesas de origem paquistanesa sonham em jogar futebol. O filme já foi citado em várias entrevistas pela primeira vencedora da Bola de Ouro da história, a norueguesa Ada Hegerberg.

Curiosamente, a melhor jogadora do mundo em 2018 não estará no Mundial deste ano na França... em protesto contra o amadorismo da federação de seu país. O caminho até a igualdade ainda é muito longo.

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