Um comentário que parece inofensivo para um homem pode ser a razão do tormento de uma mulher. Mesmo sem intenção de provocar nenhum mal, mesmo que seja "natural", ou "cultural" dentro da sociedade cada vez mais misógina que vivemos hoje.
Se palavras podem machucar, imagine ser pega de surpresa com um beijo na boca, sem nenhum consentimento e durante o trabalho? E pior que isso, ao vivo, enquanto uma transmissão está sendo realizada? Pois foi exatamente isso o que aconteceu com Bruna Dealtry, repórter do Esporte Interativo.
A jornalista cobria o jogo da Copa Libertadores do Vasco contra o Universidade de Chile, quando foi beijada por um torcedor carioca, enquanto tentava entrevistar outro torcedor.
A ação desrespeitosa do torcedor ocorreu neste terça-feira (13), em São Januário, no Rio. O Vasco havia perdido pelo placar de 1x0. Quando foi agredida, a repórter ficou sem reação e comentou no ar que aquela atitude não havia sido legal.
Mas, mesmo sentindo-se vulnerável depois do ocorrido, Bruna seguiu o seu trabalho sem perder o profissionalismo. Depois, a jornalista publicou um texto nas redes sociais, indignada com o constrangimento que sofreu.
Veja o vídeo da ação do torcedor
Desabafo
"Hoje, senti na pele a sensação de impotência que muitas mulheres sentem em estádios, metrôs ou até mesmo andando pelas ruas. Um beijo na boca, sem a minha permissão, enquanto eu exercia a minha profissão, que me deixou sem saber como agir e sem entender como alguém pode se sentir no direito de agir assim."
"Com certeza o rapaz não sabe o quanto ralei para estar ali. Pelo simples fato de ser uma mulher no meio de uma torcida, nada disso teve valor para ele. Se achou no direito de fazer o que fez. Hoje, me sinto ainda mais triste pelo que aconteceu comigo e pelo que acontece diariamente com muitas mulheres, mas sigo em frente como fiz ao vivo".
Ela encerrou o texto com a seguinte frase: "Sou repórter de futebol, sou mulher e mereço ser respeitada".
O caso da repórter Bruna infelizmente é apenas um exemplo do que as mulheres, não apenas jornalistas, estão sujeitas a enfrentar todos os dias. Principalmente as que estão inseridas no contexto aonde há o predomínio masculino. Porém, a voz de Bruna pode e deve ser reproduzida para que cada vez mais situações como essa sejam combatidas.