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Voz do torcedor: 1987, o ano que finalmente acabou para o Sport!

Karoline Albuquerque
Karoline Albuquerque
Publicado em 19/04/2017 às 14:38
Foto: Anderson Freire/Sport Club do Recife.
Foto: Anderson Freire/Sport Club do Recife.

O que há por trás de uma batalha jurídica de quase três décadas? - O dia 18 de abril de 2017 será conhecido para sempre como uma data simbólica, mas simbólica não só para o torcedor do Sport Club do Recife. Deve esta data ser guardada na memória daqueles que, mais do que seu clube, amam o futebol, daqueles que amam também a ética no esporte e nas relações humanas em geral. Poucos ainda perceberam que com o julgamento de ontem restou sacramentado um marco fundamental do início da moralização do futebol brasileiro. A vitória final no STF foi muito além do sucesso jurídico que sacramentou (novamente) um título já moralmente inquestionável. Foi bem além...

É que a presença de viradas de mesa, subornos, imposições de clubes que detinham maior poder econômico em detrimento de outros, além de arbitrariedades de todo e qualquer gênero, eram episódios comuns no meio futebolístico até o fim da década de 80. Até então, quase que anualmente, alguma vergonha dessa natureza vinha a público. E em 1987/1988 não foi diferente. Se nos dias atuais ainda há muito a se melhorar fora do campo, especificamente na profissionalização e gestão das Federações, da CBF e da arbitragem (vale lembrar da máfia do apito em 2005, do tapetão do Grêmio em 1992 e do Fluminense e do Náutico em 1996), é certo que, naquele tempo, a situação era muito pior em comparação com o cenário dos dias atuais. Campeonatos não terminavam, normas de nada valiam e, ao final e a cabo, tudo era resolvido em uma sala fechada e dentro de quatro paredes pelos cartolas de plantão. De lá pra cá o número de viradas de mesa foi infinitamente inferior e, afora o Sport, outros clubes em sequência também chegaram a questionar seus direitos com vigor e êxito. Quem não lembra do Gama de Brasília que paralisou um campeonato nacional que só voltou à ativa depois de a CBF, humilhada, ter sido obrigada a compor com a agremiação que estava plenamente respaldada pela Justiça? A redução desse medo de lutar por seus direitos deve-se, em grande parte, à corajosa postura do Sport que, visionariamente, decidiu enfrentar o “sistema”, no caso, o poderoso Flamengo, não se contentando com migalhas desportivas ou financeiras que eram/são distribuídas como prêmio de consolação e com o objetivo de que tudo sempre acabasse da forma como os cartolas dos clubes de elite desejavam.

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É necessário perceber que com o fim do campeonato brasileiro de 1987 (da 1ª divisão, que fique claro), teve início não apenas o começo de uma batalha composta por vários atos e personagens, cuja análise técnico-jurídica específica e definição de méritos não é o objeto deste texto. Ali teve início muito mais, notadamente um processo evolutivo – incompleto, mas iniciado e com avanços contínuos - de moralização da relação fora das quatro linhas entre os próprios clubes e entre estes, a CBF e as Federações. A partir da primeira vitória jurídica do Sport lá na década de 90, embora outras viradas de mesa ainda tenham ocorrido, estas foram bem raras. O mundo do futebol acordou e percebeu que a arrogância e a prepotência não tinham mais o mesmo peso que outrora. O que fez a gestão do Flamengo em 1987/1988 ao decidir não disputar as finais do campeonato porque tinha a plena certeza que seu poder político e econômico seria suficiente para subjugar o então humilde Sport Recife, sagrando-se campeão na força e na marra, teria sido fato repetitivo até hoje se a punição ao infrator não fosse exemplar, como de fato foi. Perdeu o título e o direito de disputar a Libertadores. Poucas vezes a CBF agiu de forma imparcial como o fez neste caso, o que só ocorreu por força de uma conjunção única de fatores (brigas políticas com vários clubes, dentre eles o

Flamengo) e, por ironia do destino, liberta ficou para simplesmente aplicar a regra e agir com a imparcialidade que deveria ser regra. Tratou-se de caso quase único em toda a sua discutível história.

Leis e contratos existem para serem respeitados e a Justiça para fazer valer esse respeito quando isso não ocorrer de forma espontânea, como deveria ser uma constante. Essa maneira retrógrada e lamentável de agir dos dirigentes do Flamengo é tão verdadeira que, até os dias atuais, em qualquer entrevista, os mesmos fazem questão de declamar em verso e prosa a escalação completa do indiscutivelmente belo time que os cariocas possuíam e, ao mesmo tempo, perguntam, ironicamente, se alguém conhece algum jogador do Sport daquele ano, além do (nosso) “falso” Zico que para eles é uma cópia do “verdadeiro” Zico. Dirigentes pequenos para uma instituição gigante, inquestionavelmente gigante.

Nada mais desrespeitoso do que essa forma de pensar e agir, não só com a instituição Sport Clube do Recife e toda a sua apaixonada e igualmente gigante torcida, mas com os guerreiros jogadores que faziam parte do timaço da época do clube da Praça da Bandeira. Lhes foi subtraída a sua oportunidade de ganhar o jogo jogado, dentro de campo, talvez até de uma forma brilhante e encantadora, o que lhes abririam novas portas no cenário nacional e até mundial. Tudo isso lhes foi roubado e a palavra é essa mesmo! Gesto de desrespeito também com a própria instituição do Flamengo, com sua imensa torcida e com seus próprios jogadores que, igualmente, perderam a oportunidade de ratificar sua suposta superioridade - será? - e ganhar um título sem questionamentos. Restaram-lhes apenas a soberba que observamos nos pronunciamentos públicos desses maravilhosos craques, como derivação imposta do modo de agir inicial de seus dirigentes. Na prática, essas entrevistas vã ficar um pouco sem graça doravante, mas que pena!

A conclusão é que todos perderam, exceto o Sport que seguiu seu caminho e promoveu a ética no futebol, contra tudo e todos (relator flamenguista, filho de ministro do STF como advogado do Flamengo e imagine o que mais, caro torcedor...). Ouvir qualquer dirigente flamenguista falar do assunto ainda hoje é uma aula de soberba extrema e até aqui nunca compreendi por que eles não pediram pra serem declarados campeões logo após a inscrição do time para disputa do campeonato, lá mesmo no início de 1987, antes mesmo da primeira rodada. Ah, futebol se ganha em campo e o resto é puro desdém. Imaginem se o Internacional de Porto Alegre e seu “ídolo” Guabiru não tivessem tido a oportunidade de entrar em campo contra o todo-poderoso Barcelona no mundial de 2006. O que seria do futebol-surpresa? Ele existe tanto quanto o futebol-arte e qualquer criança de 5 anos já sabe disso. Felizmente, futebol não é igual ao basquete ou o tênis, esportes onde o índice de vitória dos favoritos é próximo dos 100%. E é nisso que reside sua paixão.

Enfim, estou certo que o único motivo para a eternização desse litígio por décadas reside no fato de os diretores do Flamengo da época não conseguirem justificar esse erro histórico, precisando manter a chama da esperança de sua torcida acesa para não serem cobrados em definitivo pelo desastre de uma decisão já sabidamente desastrosa, mas agora judicialmente reconhecida como infeliz com trânsito em julgado e tudo. Igualmente, os dirigentes que sucederam os “pais da obra” e não tiveram a humildade de reconhecer esse erro histórico, estão agora com uma excelente oportunidade de assim proceder e se desculpar perante sua torcida. Embora ache difícil que isso na prática ocorra, nunca é tarde!

Resta esperar que nossos atuais dirigentes façam desse episódio uma grande oportunidade de crescimento da marca Sport, seja através de um jogo comemorativo com o Guarani, talvez com a presença dos nossos antigos ídolos, seja através de ações diversas de mídia (o jogo com o Joinville já seria uma excelente oportunidade para o início de uma série de ações), seja através de imposição de um maior poder de barganha em negociações com redes de TV ou mesmo até acionando juridicamente qualquer veículo de imprensa que insista em questionar a exclusividade do nosso título, obrigado este a reparar financeiramente nossa instituição por afronta ao nosso patrimônio. Juridicamente, um título de futebol, notadamente da expressão de um campeonato brasileiro, é um patrimônio - de natureza imaterial - e não pode ser agredido e/ou diminuído, como ocorre sempre quando se questiona sua legitimidade ou se pretende dividi-lo, minorando sua importância.

No mais, quero dizer que desconheço qualquer outro título que tenha sido expressamente analisado e ratificado pela CBF, FIFA, TRF, STJ e STF como este de 1987 que declarou nosso Sport o (único) campeão daquele ano. Quero igualmente agradecer ao Flamengo por tornar o Sport o maior campeão do Brasil de todos os tempos, por nos proporcionar 30 anos de mídia positiva, por agora tornar nosso título o menos contestável dentre todos os demais e por nos ter permitido comemorá-lo cerca de... creio eu... 1987 vezes!

Leonardo Coêlho é advogado e ex vice-presidente Jurídico do Sport Club do Recife.

Obs: As opiniões do texto não representam, necessariamente, a opinião institucional do Blog do Torcedor.

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