Mesmo no truncado e ríspido primeiro tempo o Sport foi superior ao Santa Cruz e o gol de Diego Souza, muito bem executado, por sinal, foi a prova material disso. Nos 15 minutos finais da etapa, o Leão conseguiu tomar a bola para si por um pouco mais de tempo, o que foi suficiente para abrir o placar. Mal começou o segundo e André Luís foi expulso infantilmente. Seria a senha para um time em vantagem numérica - no placar e na quantidade de jogadores - encurralar o adversário e consolidar sua vitória. Mas o que se viu foi justamente o contrário. Quem tinha mais pareceu ter menos e quem tinha menos deu a impressão de ser mais.
> Em vídeo, o resumo do Clássico das Multidões
Faltou aos comandados de Daniel Paulista a valentia que sobrou aos pupilos de Vinícius Eutrópio. Após o cartão vermelho do atacante coral os rubro-negros passaram um ar de soberba. Como se já estivesse líquida e certa a incapacidade que os rivais teriam de assustar o gol de Magrão. O time da Ilha tocou a bola devagar, os jogadores pararam de se movimentar. Os laterais e os pontas não faziam as ultrapassagens ou quando faziam era trotando e não correndo. Rithely não apareceu como elemento surpresa e Diego Souza não arriscou mais chutes de longe.
A letargia ofensiva, por cerca de um minuto, contagiou o sistema defensivo. E foi fatal. É óbvio que os corais tiveram méritos. Vítor, o melhor em campo, foi o mentor da jogada do gol. Mas aproveitou que Ronaldo Alves parou, assim como Durval, Samuel Xavier e Ronaldo. Quando foi preciso acelerar novamente o 'motor' já estava emperrado. E emperrado por um ferrolho armado com extrema competência. Sem troca de posições, sem inversão de jogo de um lado para o outro para, no deslocamento, quebrar as linhas de marcação, os visitantes limitaram-se ao mais fácil: levantar bolas à exaustão.
O Santa Cruz multiplicou-se. Defendeu sua área como se o último prato de comida fosse. E, por muito pouco, a valentia não se transformou numa titânica virada. Ela não veio graças à cabeça de Ronaldo Alves ao desviar um belo chute de David redimindo-se da falha no gol.
Um jogo que lembrou muito a última rodada da primeira fase do Pernambucano de 2015. Com vários reservas em campo o Sport abriu o placar sobre os tricolores, na Ilha. Cozinhou o jogo inteiro achando que já estava ganho quando João Paulo, no último lance, cabeceou a bola e a chuteira de seu marcador para empatar. Aquele resultado arracancado a suor e sangue, foi o impulso que faltava para o Santa Cruz arrancar para a conquista do campeonato daquele ano.
O futebol nem sempre é mecânico. Jogos podem ser vencidos com táticas mirabolantes e dribles de efeito. Mas campeonatos são conquistados - também e muito - com o coração.