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Voz do torcedor: Não, Neymar, não temos que te engolir

Thiago Wagner
Thiago Wagner
Publicado em 23/08/2016 às 18:38
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Por Rafael Carvalheira*

"Agora vão ter que me engolir". Foi essa a declaração de Neymar - uma usurpação da expressão de Zagallo - após vestir-se de ouro olímpico. Não vai ficar sem resposta. Não sei os outros, mas eu não tenho que engolir, simplesmente porque jamais vou digerir os símbolos de um sistema de educação falido no País.

Coitado, Neymar talvez nem saiba, mas ele é um exemplo bem acabado da nossa falência educacional, do nosso fracasso social. Um País que já foi derrotado por muito mais de 7x1 no jogo do cuidado com as crianças e os adolescentes.

Pode até ter sentado numa banca escolar, pode até ter levado algumas broncas dentro de casa. Pode... Pra inglês ver. O craque cresceu envolto numa redoma, protegido pelo talento para jogar um jogo, destinado a se salvar pelos pés, sem ter que falar muito. Foi instado a salvar também os próprios pais e avós, tios, primos, filho, "parças", empresários e as próximas três gerações da sua família.

E este definitivamente não é o exemplo de projeto que tenho que engolir. Para Neymar e inúmeros outros ídolos da bola, este é o projeto possível, o que se pôde arrumar. Não há uma construção do cidadão que vai inevitavelmente ser ídolo - porque o brasileiro ama o futebol e porque tem um talento imensurável - e depois vai retribuir com comportamento à altura do que representa.

Coitado, Neymar talvez nem saiba. Pensa que flutua no plano dos intocáveis. Assim lhe foi ensinado desde cedo, por outros tantos tutores que também são resultado de um sistema educacional falido. Fama, dinheiro, carrões, iates, bebida e mulheres são o projeto de vida dessa gente meio deslocada no mundo. O futebol, aquele que o brasileiro ama, não passa de um meio rápido de alcançar tudo isso, um objeto de valor secundário para nossos "Neymares". E isso eu não engulo. Cuspo fora.

Por isso o egoísmo com a bola nos pés. Basta o placar um pouco mais elástico para que inicie a busca insana por virar o nome do jogo. Por isso os xingamentos aos torcedores nas redes sociais que identificaram um claro descompromisso com preceitos históricos do nosso futebol. Por isso o bate-boca filmado no Maraca já com a medalha no peito. Ou ainda a faixa religiosa, como que negando o triunfo a judeus, muçulmanos, ateus, umbandistas ou adeptos do candomblé. "Como assim estão me criticando?". Pois é, sorte a nossa que pouca gente engole.

Repito, coitado, Neymar talvez nem saiba que ele não representa nosso triunfo, mas o fracasso de um País que joga professores na sarjeta e superdimensiona os feitos de um menino mal educado - no sentido literal da expressão. Não são culpa dele os séculos de descompromisso e desvalorização da sociedade brasileira com a educação. É apenas um grande jogador de futebol, um dos melhores que já vi. Torço pelo time que ele veste a camisa até o fim. Fico nervoso. Fico chateado na derrota. Feliz demais na vitória. E ponto. O resto, eu, você e a geral não somos obrigados a engolir. Bom apetite!

* Rafael Carvalheira é editor do Jornal do Commercio.

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