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Dia das Crianças: A importância de não esquecer de brincar

Em tempos de apelo tecnológico, é importante reforçar as brincadeiras

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Cadastrado por

Augusto Tenório

Publicado em 12/10/2021 às 6:25 | Atualizado em 09/05/2023 às 16:16
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Vozes agudas e felizes se fazem ouvir de longe. Pequenos pés inquietos não passam muito tempo colados ao chão. As mãozinhas seguram um objeto qualquer, depois batem palma e acabam por parar na boca, que se revesa para distribuir risos e palavras ainda não bem articuladas. Os olhinhos não param de seguir as "tias", que ditam as brincadeiras para este Dia das Crianças.

A cena, vista durante as brincadeiras de um hotelzinho e escolinha de Olinda em decorrência do 12 de outubro, deixou de pertencer às ruas e encontra-se quase que restrita às instituições de ensino que se preocupam com algo tão importante quanto o ato de brincar.

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Para a data o Dia das Crianças, muitos pais acabam ocupando-se da correria por presentes e no planejamento da melhor programação para curtir o dia ao lado do pimpolho. Apesar de ser um esforço válido, muitos esquecem que o mais importante é a brincadeira e o desenvolvimento dos pequenos.

Animated GIF Imagem: Victor Augusto / Jornal do Commercio

Quando um adulto esquece de brincar, não repassa as atividades pelas quais se divertiu outrora. O resgate de brincadeiras como "pular corda", "queimado" e tantas outras se faz importante como resistência diante de um sistema de ensino construído a partir de uma visão que dá importância somente aos testes e notas.

Tânia Nery, mestra em psicopedagogia e professora da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), alerta que brincadeira é coisa séria: "A criança precisa estar em movimento, pois ele é importante para seu desenvolvimento. Então, com as atividades espontâneas e livres, nas quais ela usa fantasia e transforma objetos em brinquedos, elas desenvolvem sua criatividade e externam sentimentos".

Dia das Crianças é todo dia

Mais que promover o divertimento através de brinquedos, o Dia das Crianças é um dia no qual os pequenos só devem se preocupar com sua diversão. Essa diversão, porém, não deve ser vista como importante somente no dia 12 de outubro, devendo também fazer parte da educação infantil.

A coordenação do hotelzinho e escola Cantiga de Ninar planeja todo ano a semana da criança (fotos abaixo), na qual são realizadas baterias de brincadeiras diárias pensando no desenvolvimento dos alunos.

Manhã de brincadeiras na Escola Cantiga de Ninar, em Olinda, em comemoração ao dia das crianças.
(Dayvison Nunes / JC Imagem)
Manhã de brincadeiras na Escola Cantiga de Ninar, em Olinda, em comemoração ao dia das crianças. (Dayvison Nunes / JC Imagem) - Manhã de brincadeiras na Escola Cantiga de Ninar, em Olinda, em comemoração ao dia das crianças. (Dayvison Nunes / JC Imagem)
(Dayvison Nunes / JC Imagem)
(Dayvison Nunes / JC Imagem) - (Dayvison Nunes / JC Imagem)
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(Dayvison Nunes / JC Imagem)
(Dayvison Nunes / JC Imagem) - (Dayvison Nunes / JC Imagem)

 

"Mesmo que a educação infantil seja muito lúdica, a semana da criança é algo que elas merecem. Então ela é exclusiva para brincar, apesar de ser importante que as atividades ensinem a eles a interagir em grupos e competir. A competição, por exemplo, é muito saudável, pois ela ensina a lidar com a cooperação, a frustração e a vitória. Mas isso não deve acontecer somente na semana da criança, pois essa experiência deve ser reflexo de tudo o que eles vivem no dia a dia deles", explica Carmem Cristiane, coordenadora da instituição.

Adultos e crianças unidos para brincar

Apesar de ter um papel importante da educação escolar, a brincadeira não pode ficar restrita aos muros do colégio. Os pais e pessoas que vivem com a criança devem tratar o tema com seriedade e dedicar tempo para se divertir com os pequenos.

"A brincadeira é importante em todas as idades, pois você se contagia com as crianças. Os adultos vão crescendo e esquecem de brincar. Depois os filhos chegam e percebemos que não sabemos mais sobre as atividades. Nos primeiros dias de aula fazemos um resgate de brincadeiras antigas, como jogar bola e pular corda. As crianças ficam encantadas, pois não são ações do seu cotidiano, uma vez que as famílias não estão tendo mais tempo para dedicar-se ao tema", avalia Cristiane.

A mestra Tânia Nery também relaciona o problema com o mito de que os brinquedos são suficientes para a criança: "Não adianta que ela tenha um quarto cheio de brinquedos se não tem com quem interagir. Os pais, irmãos, tios e avós têm uma importância muito grande no desenvolvimento da criança em todas as áreas, como na afetiva, da linguagem, da lógica e da psicomotricidade. Ela precisa desse ambiente com gente e objetos como brinquedos e jogos".

(Dayvison Nunes / JC Imagem)

Lamento que as crianças dessa geração não tenham as facilidades para isso. Há décadas, existiam turmas de ruas, tínhamos parceiros para brincar na rua. Isso favorece o desenvolvimento escolar, uma vez que ela desenvolve noções de tempo, número e espaço. Além disso, as famílias tinham mais filhos para formar grupos. Atualmente, as crianças tem mais dificuldade para isso, uma vez que poucos brincam na rua. Os edifícios, por sua vez, isolam muito os pequenos. Além disso, só é possível se divertir com essas brincadeiras de rua caso as gerações anteriores tenham ensinado a criança. Temos poucos pais e pessoas buscando resgatar essas brincadeiras"

Tânia Nery sobre o papel dos pais e das brincadeiras tradicionais

Brinquedos caros

Com a aproximação do Dia das Crianças, mais pixels super-coloridos e saturados saem da tela da TV e entram sem barreiras ou filtros nos pequenos olhos das crianças, que logo passam a desejar os brinquedos exibidos naquela caixa mágica de entretenimento infinito. Muitos pais, também seduzidos com os novos e mais complexos brinquedos que chegam no mercado, se encantam e acabam se esforçando para presentear seus pequenos com um brinquedo mais caro.

Com isso, há um cuidado para que a criança não quebre o brinquedo tão rapidamente, uma vez que custou muito. Indo na contramão desse pensamento, Tânia alerta que quebrar o brinquedo, por mais que ela tenha sido caro, é algo normal e até saudável para os pequenos.

"Há uma preocupação dos pais ou de quem deu esse presente para que a criança cuide e não quebre o objeto. Mas ela tem uma curiosidade muito grande e isso faz despertar o desejo de quebrar o brinquedo para entender como ele funciona. Muitas vezes ela quer pegar o brinquedo e transformá-lo, e isso acaba incomodando quem comprou", explica a mestra em psicopedagogia.

Diversidade e brinquedos

Conforme a conscientização sobre preconceito e quebras de padrões aumentou, cresceu também a demanda para que essa diversidade se fizesse presente no universo infantil. Nesse sentido, a indústria mudou-se muito: atualmente, por exemplo, é possível presentear os pequenos com um Barbie negra de cabelo crespo. O ato seria impossível há algumas décadas.

Tânia Nery avalia que a diversidade nos brinquedos ajuda a criança a crescer com mais respeito e identificação:

Com certeza isso vai transformar essa discriminação tão forte com mudanças de comportamentos. Hoje não vemos somente o modelo da loira magrinha, e isso é algo grande. Para uma criança, o adulto é o modelo. Então, se uma pessoa gorda é modelo, gera uma identificação nela, que passa a aceitar que isso é apenas uma diferença. Talvez isso também venha a contribuir para diminuir o bullyng. (...) Estamos criando uma cultura mais tolerante diante das diferenças. A política de inclusão está longe do ideal, mas pelo menos está caminhando e não tem possibilidade de retorno".

Tânia Nery sobre a diversidade no mundo dos brinquedos

E tecnologia, pode?

Muito se fala sobre a presença na tecnologia no ensino. Existem instituições que fazem uso amplo para controle quase que em tempo real dos pais, o que pode ser prejudicial. Outras proíbem integralmente o uso de smartphones e tablets em sala de aula. A saída, segundo Tânia Nery, seria a criação de espaços adequados para seu uso.

"Hoje vemos o quanto a tecnologia permite determinados aprendizados que não seriam possíveis sem esse recurso. A capacidade de o sujeito desenvolver sua inteligência cognitiva vem a partir de coisas que estimulam e desafiam ele. (...) Ao invés de a ordem ser 'guarda o celular', temos que criar a hora do celular. Acho que o caminho é esse", opina a mestra em psicopedagogia.

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