Odair José sobre censura na ditadura: “Fizeram uma carta para as gravadoras dizendo que eu era uma péssima influência”

Victor Augusto
Victor Augusto
Publicado em 02/06/2018 às 12:45
Odair José (Imagem: Reprodução)
Odair José (Imagem: Reprodução)

Odair José participou do Conversa com Bial dessa sexta-feira (1) e falou sobre sua carreira, que é profundamente ligada ao público das classes exploradas e à censura da ditadura militar. Ao jornalista, o cantor chegou a dizer que já teve muitos momentos com censores e fez suas críticas aos moralistas atuais.

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Odair José, o transgressor

"Eu não faço música para fazer sucesso, faço música na esperança de ajudar as pessoas de alguma forma", disse Odair José ao falar sobre Gatos e Ratos, seu novo álbum, e seus sucessos. Muitos deles, inclusive, foram censurados pela ditadura militar.

"Eu era visto como um transgressor dos bons costumes, da moral e, tudo que eu fazia, eu tinha que mudar a letra, não era aprovado", explicou Odair. Nos anos 70, ele foi um dos que mais foi chamado atenção pelos censores e chegou a brincar, afirmando que muitos deles seriam motivos de gargalhada, atualmente.

"Fizeram uma carta para uma gravadora para que não gravassem comigo porque eu era uma péssima influência para os jovens, que eu era um cara imoral. Eu acho que a grande imoralidade tá no cara ficar falando [criticando] coisas que ele pratica", afirmou Odair José.

O Filho de José e Maria

"Eu achava que estava fazendo um grande disco, e eu acho que acertei e hoje tenho certeza disso. Eu estava saindo da mesmice, e quem repete formas não faz arte, faz negócio", explicou o artista ao começar a falar sobre o polêmico disco O Filho de José e Maria. Em 77, quando foi considerado um fracasso comercial, vendendo mais de 60 mil cópias das.

Pedro Bial, então, questionou o artistas sobre os porquês de ele ter sido incompreendido na época:

"Foi uma coisa louca.Parece que eu cometi o maior pecado do mundo. O disco era um projeto de 20 canções que contava a história de uma pessoa desde o seu nascimento até a morte ou encontro com a verdade que ele procurava. Dei o nome de O Filho de José e Maria e comecei casando esses pais me forma de peça/ ópera que trabalhei com Guilherme Araújo. Então, antes de ele sair, já falavam mal do disco e disseram: 'tá fumando muita maconha, cheirando muita cocaína!'".

Quando aconteceu isso, eu já era de fumar um baseado e fumar um pó de vez em quando. Mas quando isso aconteceu, eu fiquei meio desorientado. A propaganda que tinha na mídia dos shows era: 'Não vá'. Era um fracasso, e as pessoas me paravam nas ruas e colocavam o dedo na minha cara dizendo: 'Como é que faz isso?'. A igreja ameaçou de me excomungar. E o disco só saiu com 10 músicas porque a censura proibiu todas as outras. Isso mexeu muito comigo, não tive estrutura e a coisa desandou".

"Já era para estar morto"

Atualmente, o cantor não consome mais drogas, mas revela que "já era para estar morto há muito tempo" e conta o porquê de ter mudado: "Me casei com uma pessoa em São Paulo e ela foi me salvando, me colocando na linha. Um dia parei pra pensar: 'o que estou fazendo?'. Tive vários momentos que se eu bobeasse, fosse um pouco mais além, não tava aqui pra contar a história".

 

 

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