Ronaldo Fraga desembarca no Recife para debater moda e cultura

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 20/11/2017 às 17:01
Foto: Divulgação
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O Marco Pernambucano da Moda recebe, na quarta (22), a segunda etapa do Projeto Qualicult, evento direcionado para produtores culturais com projetos na área de Design e Moda. O evento vai contar com palestra gratuita do estilista Ronaldo Fraga aberta ao público e a iniciativa é realizada através do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura PE).

Estilista, artista plástico e cenógrafo, o mineiro fala ao público ao público a partir das 19h com ingressos distribuídos no local a partir das 18h. Pós-graduado pela Parsons School of Design de Nova York, suas criações já foram apresentadas em diferentes países e foi selecionado pelo Design Museum de Londres como um dos sete estilistas mais inovadores do mundo para a exposição Designs of the Year 2014.

Em Pernambuco, Fraga já contou com o trabalho das bordadeiras de Passira e, em 2017, foi responsável pela identidade visual do São João de Caruaru. Em 2011 houve uma colaboração de bordadeiras de Passira com sua obra; você esteve no Recife para lançar o Caderno de Roupas, Memórias e Croquis em 2013 e voltou à cidade em 2015 para relançar a obra revisada e ampliada. Em 2017 lança identidade visual do São João de Caruaru e volta agora ao estado para falar do tema moda e cultura no Qualicult.

São coincidentes essas datas que revelam uma faceta sua de quase uma ‘Bienal Pernambucana’?

É uma coincidência essa bienal. Há lugares no Brasil pelos quais sofro de abstinência e um desses lugares é o estado de Pernambuco. O grande amálgama da cultura brasileira está ali e uma cultura que me interessa muito porque talvez o único estado no qual o erudito e o popular sejam irmãos siameses, onde estão de braços dados o tempo inteiro e quando você abraça essa cultura e deixa ela entrar em você é um casamento para sempre. Tudo que se refere a Pernambuco, da comida a música, arte popular ao cinema e literatura tudo isso é muito forte no meu trabalho e a acaba me influenciando muito. Não raro eu sou confundido no sul como sendo de origem pernambucana e não mineira, o que considero como um elogio.

Qual sua relação com o estado de Pernambuco em relação à cultura local? Quais são as referências que lhe vêm à cabeça?

A cultura pernambucana é têxtil e tátil, fala muito com textura, não é cor chapada, tem tramas, rendadas, de sobreposição, ela desconcerta pelo simples, mas em tudo é uma cultura festiva talvez porque representa tanto o Brasil hoje. Porque talvez seja o nosso ideal de Brasil, uma cultura em que a música, cinema, culinária que nos represente por esse viés, essa face que tanto o dia a dia e os desmandos politiqueiros tentam nos tirar, mas é a nossa salvação, que é a nossa alegria.

E em relação à moda? Quais as suas impressões da produção local?

Tenho um respeito muito grande. Acho uma pena que o pernambucano, se ele tem uma qualidade e um defeito ao mesmo tempo é como se ele se bastasse, como se a nação pernambucana se bastasse. Vejo muita coisa não só de moda, mas principalmente de música e penso: “Como que isso ainda não chegou ao Brasil?” Um Brasil maior, penso  como isso ainda não saiu dessas fronteiras. Acho muito legal porque o estilista pernambucano faz moda como se estivesse escrevendo, como se estivesse fazendo um verso, como se estivesse fazendo uma roupa pro Carnaval, como se estivesse falando de arte popular. E eu acho isso muito lindo.

Como enxerga a interseção entre projetos culturais ligados à moda e ao mecenato? Como acredita que o mercado deveria enxergar tais possibilidades?

Esse convite é mais do que especial porque um evento como o Qualicult pretende enxergar a arte e a cultura de uma forma mais ampla e estabelecer diálogo com outras frentes. Isso ainda é uma coisa nova no Brasil, uma coisa a ser feita, e principalmente nesse momento pelo que passa não só a arte, mas principalmente um momento de berlinda da cultura brasileira com risco de uma censura iminente. Acho importante que eventos como esse ganhem musculatura no Brasil inteiro.

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