"Já rejeitei ser negra. Essa palavra me machucava", lembra Monalysa, Miss Brasil 2017

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 23/08/2017 às 11:22
Foto: Reprodução
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Monalysa Alcântra, 18 anos: negra, de cabelos cacheados e nordestina. No último sábado (19), a modelo realizou um dos seus maiores sonhos ao ser coroada Miss Brasil 2017. Apesar do momento emocionante, a piauiense enfrenta e enfrentou muito preconceito em sua vida, como contou em entrevista ao site Uol. "Minha superestratégia será ser eu mesma: uma mulher nordestina, que passou por diversas coisas, muitas dores, que me fizeram ser quem sou hoje", disse sobre tudo que já passou.

A negra foi descoberta nova, aos 15 anos. Na época, ela já lutava por um lugar ao sol como modelo. "Eu queria dar mais voz às mulheres negras e não ser alguém inalcançável. E ele me perguntou, ‘acha que alguém vai te ouvir aí dentro da sua casa?’. Eu sabia que não seria fácil, mas eu precisava", disse em relação a Elton Carvalho, seu padrinho na disputa. Hoje, ela faz questão de afirmar que "acredita ser o retrato da mulher brasileira".

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Dificuldades

Nem sempre o caminho foi de conquistas para Monalysa. Ainda criança, ela se mudou para uma escola pública onde estudou até a quinta série. "Só voltei para a particular, quando minha mãe, que é supervisora de uma madeireira, conseguiu um trabalho bom", relembrou. Na nova escola, ela passou a conviver com os ataques racistas. "Nunca vou me esquecer do dia em que estava numa roda de amigas e ouvi de uma delas: ‘Aqui não é lugar de negro, não. Sai daqui. "Aquilo me feriu profundamente", contou em entrevista ao Uol.

"Nessa época, cheguei até a alisar o cabelo para me parecer mais com elas. Já rejeitei ser negra. Essa palavra me machucava. Se eu não me reconhecia na TV, nas revistas, em lugar algum, então ser negro era ruim no Brasil. Por que me descreveria assim? Preferia ser ‘morena’", revelou no papo.

Taís Araújo

A mudança veio com a representatividade. Em 2009, quando Taís Araújo entrou no ar em Viver a Vida, como a Helena de Manoel Carlos, Monalysa enxergou a sua primeira referência de uma mulher negra e inspiradora. "Ela era uma modelo de cabelo afro maravilhosa. Naquele momento, descobri que, sim, eu também poderia ser modelo", contou.

Miss Brasil e racismo

Nem mesmo a faixa de Miss Brasil 2017 calou o preconceito. Após a vitória, Monalysa foi alvo de ataques racistas pesados na internet. Agora, diante de tudo que já passou, ela revela que não se deixa abalar: "Confesso que já me achei muito feia, mas hoje minha autoestima é altíssima. Olho no espelho e vejo uma menina feliz e bonita, em paz com o corpo e o cabelo".

"Fui escolhida porque fui a melhor da noite", finalizou a negra, que ainda entregou seu próximo sonho: "Quero ser Angel da Victoria’s Secret"

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