Maria Bethânia brilha no Classic Hall, com emoções, homenagem a Naná e tolerância a erros

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 19/03/2017 às 12:47
Maria Bethânia no palco do Classic Hall - Foto: Felipe Souto Maior / Divulgação
Maria Bethânia no palco do Classic Hall - Foto: Felipe Souto Maior / Divulgação

Eram 22h30 de sábado (18), Classic Hall lotado. Maria Bethânia entra em cena, com saia longa prateada, que brilhava, brilhava. Na vez anterior em que esteve naquele palco - na homenagem do Prêmio da Música Brasileira - havia brilhado de dourado. Canta Emoções, de Erasmo e Roberto Carlos, com som pela metade, aquém da necessidade da casa de shows e de seu poder de intérprete.

A Abelha Rainha canta e os súditos gritam "Cadê o som?". Que aflição: Bethânia, séria demais com seu ofício de cantar, com a música, o palco e o público, é conhecida por não tolerar erro. No YouTube há vídeos-compilações de pitis já dados pela diva por problemas técnicos.

Neste show, não. Quem sabe enlevada pelos 50 anos de carreira que acabou de comemorar, pela adoração ao Recife... Retirou-se do palco junto com todos os músicos e, problema resolvido, voltou como se fosse a primeira vez: novamente fez saudação corporal e interpretou Emoções.

Parte da beleza do show está na falha de som, na vez em que ela errou a letra de Você Perdeu e ainda em que esqueceu o nome do percussionista Marcelo Costa. O erro dá uma graça, acende um carinho, uma identificação. "Se faltar som dá uma quebradinha e deixa pra Iansã, que ela resolve", disse com malemolência, depois de cantar e se quebrar em A Dona do Raio e do Trovão.

A assessoria da casa de shows, aliás, disse que o problema foi da técnica dela.

Assista a trecho de Emoções:

Show em diante, Maria Bethânia exercitou seu poder magistral, e único, de enfeitiçar a plateia. "Há 53 anos no palco, graças a Deus", falou em certo momento. Ouvi-la é receber uma dádiva. Uma olhada ao redor e havia alguém a cantar feito ela, outra a se balançar num samba do recôncavo baiano, outra a levantar os braços e esfregar na cara um "Negue que me pertenceu!". O repertório (ver abaixo completo) foi de grandes emoções: de Negue, Ronda e Explode Coração a Um Índio, Gostoso Demais, Estado de Poesia e Je Ne Regrette Rian.

Já perto do fim, homenageou Naná Vasconcelos com o Frevo Nº 2 do Recife, de Antônio Maria, já gravado por ela. Nos telões (que não exibiram o show: ponto negativo) passava nesse momento o encontro dela com o percussionista falecido há pouco mais de um ano, na abertura do Carnaval do Recife de 2011, junto às nações de maracatu, no Marco Zero. No bis interpretou outra de Antônio Maria, Menino Grande. Declarou amor ao compositor. A maioria do público, infelizmente, mostrou apatia ao nome. Despediu-se com O Que É, o Que É?, de Gonzaguinha.

Bethânia é a própria "enchente amazônica" da Rosa-dos-ventos. Inunda a gente de gente, ou até da gente mesmo.

Confira o repertório:

EMOÇÕES

A DONA DO RAIO E DO TROVÃO

O QUERERES

YAIÁ MASSEMBA

UM ÍNDIO

LINHA DE CABOCLO

GOSTOSO DEMAIS

RONDA

FERA

NEGUE

VOCÊ PERDEU

FONTE

SANGRANDO

TEM ALVORADA, PASSARADA, SINFONIA

AVE-MARIA DOS INDIOS DO BRASIL

FOLIA DE REIS

DOCE

A ORAÇÃO DA MÃE MINININHA

VENTO DE LÁ

ESTADO DE POESIA

É O AMOR / VAI DAR NAMORO

OLHOS NOS OLHOS

VOLTA POR CIMA

MEU AMOR É MARINHEIRO

FREVO Nº 2 DO RECIFE

RECÔNCAVO / RECONVEXO

COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ

JE NE REGRETTE RIEN

BIS:

EXPLODE CORAÇÃO

MENINO GRANDE

O QUE É, O QUE É?

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