Michelle Melo desabafa sobre convocatória do Governo de Pernambuco para o Carnaval 2017: "Brega é cultura, sim!"

Anneliese Pires
Anneliese Pires
Publicado em 16/02/2017 às 11:04
Michele melo - Fotos: Guga Matos/JC Imagem
Michele melo - Fotos: Guga Matos/JC Imagem

Às vésperas do Carnaval, a cantora Michelle Melo, conhecida como a rainha do brega pernambucano, fez um desabafo no programa Trends Social1, que foi ao ar nesta quarta-feira (15), na TV JC. Não convencida com o fato de o ritmo ter ficado de fora da convocatória do Governo de Pernambuco para as apresentações no Carnaval 2017, a cantora questionou o edital que, segundo ela, não trata o brega como cultura. “Queria deixar bem claro que vai ter brega no Carnaval, sim. Gaby Amarantos, uma guerreira e digna de tudo o que conquistou, a rainha do tecno-brega, está na grade. Então por que a rainha do brega pernambucano não pode tocar?”, perguntou. Além do brega, ficaram de fora também: forró eletrônico, forró estilizado, swingueira, arrocha, funk, sertanejo e pagode estilizado.

A paraense Gaby Amarantos canta no Marco Zero no dia 25 de fevereiro, Sábado de Zé Pereira, e no pólo Lagoa do Araçá, no domingo (26), pela grade montada pela Prefeitura do Recife. “Aí disseram: mas ela tá proibida de tocar brega, ela vai tocar frevo, maracatu e caboclinho. E quem disse a vocês que a gente, nascido e crescido nesse Estado, ouvindo frevo, maracatu e caboclinho não sabe cantar? No São João, a gente canta Luiz Gonzaga no meio do show e em todos os shows que a gente já fez no Carnaval nós tocamos, sim, Chico Science, frevo e maracatu. Então, por favor, me respeitem. Digam assim: eu não quero atrações locais de brega no Carnaval de Pernambuco, mas não diga que não vai ter brega, que vai ter”, desabafou Michelle.

gm150217081 Michele Melo se emocionou ao falar sobre o brega

Emocionada, ela levantou a discussão em torno do que é considerado cultura popular e afirmou que está disposta a brigar pela música que a sustenta até hoje. “Brega é cultura, sim! Eu queria pedir a essas pessoas tão cultas e estudadas que pesquisassem no dicionário o que é cultura. É tudo aquilo que movimenta, criado dentro de uma população e que faz parte do cotidiano. É uma alimentação, é um ritmo. Vocês ainda não entenderam que brega faz parte de Pernambuco há mais de 20 anos? Reginaldo Rossi é o maior orgulho do nosso povo. Se ele estivesse aqui hoje, como ele estaria, ouvindo que brega não é cultura?”, falou

Com mais de 20 anos de carreira, Michelle revelou que foi o brega quem deu a ela oportunidades na vida. “O brega me deu o direito de talvez ser respeitada na sociedade. Eu tenho carro, casa e crio minha filha graças ao brega e ele é o maior responsável por empregos diretos e indiretos no Estado. Eu vim da periferia, o brega me tirou da periferia fisicamente, mas o meu coração continua lá. O brega é a parte mais pura que a gente tem no nosso Estado”, disse, emocionada.

A cantora fez, no ar, um convite à Fundarpe para um diálogo sobre o assunto. “Eu gostaria que me explicassem aquela nota (a convocatória). Eu quero dialogar. Eu coloco a minha cabeça no tronco. Antes que vocês consigam me explicar de forma coerente, eu não vou aceitar”, concluiu.

Veja o trecho do edital a que Michelle se refere:

“Do total de recursos estaduais a serem alocados na iniciativa, 30% serão destinados à categoria de Cultura Popular; 40% a representantes da Música da Tradição Carnavalesca; 10% para as Orquestra de Frevo; e 20% aos grupos e artistas da Música Popular Brasileira. De acordo com a Convocatória, não se enquadram nas categorias descritas acima os seguintes gêneros musicais: Forró Eletrônico, Forró Estilizado, Brega, Swingueira, Arrocha, Funk, Sertanejo e Pagode Estilizado”

Procurada pelo Social1, a Fundarpe afirmou que não barra nenhum gênero musical do Carnaval de Pernambuco e que apenas fez a opção de contratar os artistas e grupos pernambucanos ligados à tradição carnavalesca.

Veja a nota:

"A Secretaria de Cultura não está barrando nenhum gênero musical no carnaval de Pernambuco. O carnaval é uma realização das prefeituras e dos grupos culturais independentes do estado. O Governo de Pernambuco - cujo incentivo no Carnaval  representa um apoio às cidades que realizam a festa  - fez a opção de contratar os artistas e grupos pernambucanos ligados à tradição carnavalesca. O que não significa que os mais diversos gêneros da música popular não possam estar nas grades de programação, contratados através das prefeituras das mais diversas cidades ou mesmo por empresas privadas."

Assista à entrevista completa:

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