Por que assistir a "Aquarius"?

ROMERO RAFAEL
ROMERO RAFAEL
Publicado em 19/08/2016 às 22:01
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O segundo longa do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, Aquarius, que ganha pré-estreia no Cinema São Luiz, neste sábado (20), é uma poesia visual sobre a gente, o espaço e o tempo, que desencadeia no espectador afetos, memórias e reflexões. É um filme sobre a gente estar no mundo, através de Clara, a personagem de Sonia Braga, que convive com uma cicatriz do seu passado - portanto, algo que a constitui; de que ela é feita - e que tem de lutar pra que não destruam seu presente - quem ela é.

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Clara é uma crítica de música aposentada, viúva, mãe de três filhos, livre e íntima do mar. Mora num prédio antigo, "sobrevivente" à modernização da avenida Boa Viagem, decorado por uma coleção (invejável) de vinis, uma mobília usada por gerações, fotografias-registros de uma vida... Ela passa a lidar com o assédio - que evolui para pressão - de uma grande construtora que quer demolir o prédio e erguer no espaço um novo; um projeto chamado Atlantic Palace Residence. Clara precisa resistir para salvar as suas memórias, o seu lugar e a ela mesma.

É um filme de uma personagem. No caso, Clara. E, por isso, Sonia Braga tem brilhado tanto. No entorno dela, outros muitos personagens orbitam - sem nunca sobrarem, sempre acrescentando -, mas é ela quem a câmera acompanha nas 2h20 de filme, que não cansa, se o espectador souber aproveitar do deleite que é se envolver com a personagem, na sua personalidade, na sua postura diante da vida e do mundo, nos seus quereres, que vão se revelando.

Para os recifenses, em particular, há outro deleite: o filme, que estreia nos cinemas do País no dia 1º de setembro, é cheio de referências a lugares da cidade - a alguns deles, como o Clube das Pás, a câmera foi. Recortes do Recife (o espaço) na década de 80 e no hoje (o tempo) estão lá.

O som de Aquarius é uma trilha recolhida de décadas passadas, e de comover também ouvidos mais novos - um terceiro deleite. Destaque para Hoje (Hoje, trago em meu corpo as marcas do meu tempo), de Taiguara; Pai e mãe, de Gilberto Gil, e O quintal do vizinho, de Roberto Carlos.

O Oceania, prédio da avenida Boa Viagem tornado Aquarius, o edifício ficcional que dá nome ao filme, é - perdoe a repetição - um quarto deleite. Depois de Sonia, são a arquitetura e o charme dele o segundo personagem mais interessante do longa.

Aquarius é, além de sensível, um filme instigante e exigente: há muito o que nele decodificar; enxergar mais. Em certo momento, Clara explica à carioca Julia (Julia Bernat) que um esgoto divide o Pina de Brasília Teimosa. De um lado é rico; do outro, pobre.

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