Em época de streaming, vinil luta e mostra que ainda está vivíssimo

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 26/07/2016 às 7:41
vinil FOTO:

Em meados da década de 50, o vinil - denominado de long play (LP) -  ficou conhecido pelo formato espesso, feito de plástico e cera, com um buraco no meio, capaz de girar 45 rotações por minuto. Lado A e lado B, com cinco canções em cada lado. À época, artistas de jazz e rock'n'roll, como Ray Charles e Frank Sinatra, utilizavam desta ferramenta massiva de reprodução de áudio para levar aos  anticonservadores mensagens positivas, em forma de baladinhas e faixas sobre exaltação da fé. Entre capas elaboradas, solos de violão e refrões grudentos, o público apropriava-se das dores e das lições dos novos ídolos.  Em outras palavras, materialidade - que, de acordo com o dicionário da língua portuguesa, dá sentido à "tendência para valorizar apenas aquilo que é de ordem material"; "qualidade daquilo que é material".

Em tempos de revolução sexual, liberação da pílula anticoncepcional e iê-iê-iê, a musicalidade sócio-política de artistas  como Bob Dylan, Beatles e Rolling Stones ditavam as regras da sociedade pós-moderna e alavancava a chamada  indústria fonográfica, abrindo portas para artistas independentes, por volta de 60/70. A chegada do CD e da internet enfraqueceram a produção do bolachão preto, cuja procura está direcionada a um público mais velho, colecionador, familiarizado com as especificidades do LP.

LPs/Foto: Reprodução LPs/Foto: Reprodução

Em tempos de digitalização musical ou serviços de streaming, a procura por LPs tem crescido gradativamente. Em pesquisa realizada pelo portal BBC em abril deste ano,  mais de 52% do entrevistados compram vinil pela qualidade do som ou para apoiar o artista favorito, contrapondo-se aos 41% que adquirem apenas para decoração e 7% corresponde aos desinteressados.

O estudante paulista Gabriel Rocha, 21 anos, corresponde ao seleto grupo que compra discos, mas também consome música pelos serviços de streaming, como Apple Music e Spotify. "Acredito que o público está voltando ao vinil  porque ele apresenta um som mais grave do que nos CDs/digital, ou mesmo porque se tornou vintage. Em relação ao streaming, é algo que os jovens estão utilizando mais.", comenta.

Gabriel Rocha e o "Sheezus"/Foto: acervo pessoal Gabriel Rocha e o "Sheezus"/Foto: acervo pessoal

O jornalista e educador social Domingos Sávio, 26 anos, coleciona discos desde 2003 - todos de MPB. O seu acervo vai de Roberto Carlos a Planet Hemp. "O vinil está ligado à materialidade, que se perdeu nas gerações efêmeras", analisa.

Em meio ao tumulto do Centro do Recife, no Bairro da Boa Vista, a Vinil Alternativo é uma das poucas lojas que atendem à demanda dos colecionadores de discos. De acordo com Elvis Miranda, 29 anos, a procura por LPs tem crescido. "Hoje em dia que compra CD ou Vinil é realmente fã da banda, diferente de anos atrás, em que ouvíamos uma determinada música no rádio e comprávamos o disco para conhecer o artista. Com streaming, o consumidor vem direcionado, sabendo da sonoridade do material", comenta.

Update: Streaming killed the album star (?)

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