Marianne Peretti/Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem
Marianne Peretti, a mulher que Brasília vê todos os dias, mas não conhece, terá livro sobre sua vida e obra - A ousadia da invenção - lançado nesta terça (4), às 19h, na Caixa Cultural. A publicação é a 2ª empreitada [já há uma exposição e é filmado um documentário] com vista a dar a artista franco-brasileira o reconhecimento que lhe é devido.
As obras de Marianne, 88 anos, não estão só em Brasília, como o início deste texto pode sugerir - há também noutras cidades do País, como o Recife, e noutros países -, mas são dela trabalhos considerados patrimônios nacionais, como os vitrais da Catedral de Brasília e obras espalhadas pela Capital Federal: Câmara, Senado, STJ, Memorial JK, Palácio do Jaburu...
Numa ida à Brasília, Tactiana Braga, Laurindo Pontes e o francês Yves Lo-Pinto Serra, trio que briga pelo nome de Marianne, ficaram impressionados ao ouvirem guias turísticos apresentando as obras da artista sem a ela se referirem. Quando até Oscar Niemeyer a elogiou: "Uma artista que compreende o sentido das artes. É uma artista de excepcional talento".
Posso chamá-la de você?
Mas é claro.
Marianne, quando você olha para tudo o que já fez, o que enxerga?
Eu enxergo muito trabalho [risos]. Não é?
E com quais olhos? São diferentes?
É lógico, porque é um olhar diferente, quando você vê de novo. São outros olhos. Aí você vê bem: se é bom, se tem defeito, se você devia ter feito alguma coisa diferente...
Você é perfeccionista?
Sou.
Encontra muita coisa?
Nem tanto. Acho que muitas coisas eu consegui.
O que a arte trouxe para a sua vida?
É minha vida!
Seus vitrais têm sido chamados de “vitrais dos trópicos” por causa da presença da luz... Para você, o que significa a luz?
É essencial.
Mas porque você a persegue?
Eu adoro o sol. Um dia em que não tem sol eu sofro.
Talvez por isso tenha se adaptado tão bem ao Brasil...
Sim, mas eu sou meio brasileira – meu pai era pernambucano. Eu fui criada e educada na França, mas eu vim ao Brasil ainda muito jovem e gostei muito do verde, dos jardins...
Imagino que Olinda, então, seja seu lugar ideal [a casa de Marianne é um sítio na Cidade Alta].
Olinda é maravilhosa...
O que Olinda agregou ao seu trabalho?
Um monte de coisa. Primeiro eu reformei essa casa, que era uma miséria quando eu comprei, e me instalei com o ateliê no jardim. Estou muito contente.
Há quantos anos?
Ah, isso não me pergunte. Não são dez anos, é muito mais, mas quanto, exatamente, eu não lembro. Não lembro de números. Tem gente que sabe tudo. Bom para elas, mas...
Sobre o reconhecimento que lhe falta...
Gostaria.
Acha que o fato de ser mulher...
Claro! O brasileiro é machista. O que realmente complica as coisas. Se eu fosse um homem, acho que eu estaria num lugar melhor. Não é?
Certamente.
Está vendo. Você tem a mesma ideia e é homem... Os americanos lá do Norte não têm isso, porque tem muitas mulheres que são um monte de coisas lá e são badaladas. Na França eles são um pouquinho [machistas] também. Eu acho.
Pegando emprestado o título do livro – A ousadia da invenção –, qual sua maior ousadia como artista?
[Pausa] Difícil, não? Mas a minha maior ousadia foi fazer as coisas lá de Brasília. A catedral, um negócio enorme, de 30m de altura com 10m de base, com uns triângulos... Um negócio terrível, fisicamente. Eu estava esgotada. O governo me dava hotel com comida, mas quando eu chegava, me jogava no sofá e dormia. Não tinha nem força para telefonar para o restaurante mandar a comida.
Sobre Oscar Niemeyer, quando se viram?
Ele foi duas vezes ver o desenho. Só. E disse: continue [risos].
Assista:
https://www.youtube.com/watch?v=hsuxdIy9G_0