As várias faces de Mariza: artista, mãe, amiga, professora, dançarina

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 17/04/2015 às 7:00
Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem
Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem

Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem

Em meio aos encantos do Paço do Frevo, no Bairro do Recife, uma figura chamava atenção por onde passava. “Mariza, Mariza, eu estava torcendo por você!”, gritou alguma voz vinda de um carro que passava. Bastou ela por os dois pés dentro do museu para ser assediada por fãs pedindo fotos. Com sorriso largo, embora um pouco sem jeito, ela atendia a todos. E a recifense de nascença se sentia, como nunca, em casa. “Eu adoro frevo”, disse sobre o local escolhido para a entrevista. “Morei 14 anos em São Paulo, mas foi em Curitiba, onde morei 4, que senti mais falta daqui. Lá não existe Carnaval! Eu sempre viajava para o Recife para matar as saudades, mas às vezes não podia vir na época carnavalesca”, dizia com um tom de nostalgia.

Mariza não deixava de abrir cada livro Mariza não deixava de abrir cada livro

Enquanto era guiada pelos vãos do museu, ela parecia estar conhecendo a cultura da capital pernambucana pela primeira vez. Estava encantada, perguntava sobre tudo e abria livros. “Mariza com Z” foi o que ela escreveu de giz numa parede. “O ‘Mariza com Z’ é como se fosse uma marca minha, algo que me identifique”. Enquanto passava as folhas musicadas do Paço, uma marchinha chamou atenção: o "Cazá, Cazá", grito de guerra do Sport Recife. “Eu fiquei pensando se os outros torcedores não iam ficar com raiva de mim, mas eu não me controlei e comecei a tocar e cantar na casa. Eu não costumo ir aos jogos, mas minha família é enlouquecida pelo time. Eu verdadeiramente amo o Sport, apesar de não amar o futebol em si”.

Ela também deixou seu nome marcado de giz: "Mariza com Z" Ela deixou seu nome marcado de giz: "Mariza com Z"

No terceiro piso do Paço é onde se concentram os estardantes carnavalescos. "Eu costumava sair no Madureira", relembrou, enquanto procurava o símbolo do bloco. Nesse momento, toca o telefone da assessora e avisa que quem está na linha é Adrilles, grande amigo que a ex-BBB fez na casa. Num tom descontraído disse: "Diga que daqui a pouco eu retorno para ele". Seguiu o passeio até a Praça do Frevo, onde Mariza contou um pouco mais sobre o reality.

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S1: Como foi viver alheia aos acontecimentos daqui de fora? 

Eu lembro que assisti a um filme, cujo título era Minha vida sem mim, e me lembrava muito dessa frase lá dentro [BBB], porque estava completamente desconectada da minha própria vida. Eu não sabia como estavam meus filhos, se o mais velho tinha ido para os Estados Unidos ou se o mais novo tinha escovado os dentes e voltado da escola bem. Não sabia se a escola onde eu dava aula ia me esperar ou tinha me demitido. Essa desconexão era como uma morte. A sensação é de que tinha morrido para a vida real e estava vivendo uma virtual, que mais cedo ou mais tarde acabaria. Eu só não sabia que, quando eu voltasse à realidade, ela não seria mais a mesma.

S1: Mas essa nova realidade é boa?

Não sei dizer ainda. O que é bom é a quantidade de amor que estou recebendo. Foi muita hostilidade que recebi lá dentro da casa, mas aqui fora todo mundo fica me elogiando e dizendo que as represento. Quem não acha o máximo? Eu acho, até porque eu não fiz nada demais! Eu não tinha estratégia de jogo e fui apenas vivendo os dias de cada vez. Na verdade, eu nunca pensei em participar de um reality. Não fui eu que fiz minha inscrição, eu fui chamada por um olheiro da Globo, que me abordou durante um congresso e pediu para eu participar de uma seletiva regional. Relutei um pouco, mas aceitei e fui chamada para a entrevista.

Ela escutou marchinhas de Carnaval Ela escutou marchinhas de Carnaval

S1: Mesmo não querendo participar do reality, você acompanhava as edições do programa?

Não (risos). Foi o que me perguntaram durante a entrevista depois da seletiva regional. Eu só assisti às primeiras cinco edições e depois perdi o interesse porque só foi ficando 'sarado', 'gostosa' e 'tiro, porrada e bomba', que não são a minha praia. Nesta edição eu também ficava me perguntando o que estava fazendo lá em meio a tantas pessoas que não tinham nada a ver comigo. 'Onde eu fui amarrar meu jegue?', eu me perguntava (risos).

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S1: Ainda falando sobre os momentos dentro da casa, você teve experiências boas?

A minha vivência na casa foi algo muito positivo para o mundo que estou vivendo agora. Quando eu resolvi ir, tinha um milhão e meio em jogo e outros prêmios. Mas depois eu parei e pensei se essa oportunidade no BBB não era uma chance para ampliar minha voz. Não que ela seja algo maravilhoso a ser ouvido, mas eu tenho muita vontade de transformar o mundo, por isso também me tornei uma educadora. Eu penso muito mesmo que apenas olhar para o outro e ver o outro como um igual é capaz de mudar muita coisa.

Mariza também já foi bailarina e arriscou alguns passos de frevo Mariza também já foi bailarina e arriscou alguns passos de frevo

S1: E ruins?

Também tive. Dentro da casa olhavam para mim e me chamavam de velha, feia e gorda. Primeiramente que me chamar de velha não me ofende, porque minha idade é minha história, não é uma ofensa. Segundo, eu já fui muito bonita também, com meus 20 e poucos anos. A beleza é uma coisa efêmera. E sou gorda porque adoro comer, e daí? (risos) Mas eu também sou muito mais do que isso. As pessoas te hostilizam e riem da tua cara, isso é muito feio.

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S1: Sua amizade com Adrilles foi muito forte. Ela vai continuar mesmo depois do fim da edição?

Ele já me ligou duas vezes nesta tarde sentindo falta das nossas conversas. Nossa amizade é engraçada porque ele mistura elementos que eu também misturo e que percebo em mim, que é a uma visão de mundo com uma certa bagagem intelectual e cultural, sempre misturando com humor. Porque acho que a vida pode ser encarada com leveza também.

"Essa é uma das minhas frases preferidas", disse "Eu sou do tamanho que vejo: essa é uma das minhas frases preferidas", disse

A história da Salsinha

Falando sobre as experiências boas, ruins e engraçadas do programa, ela lembrou de uma história inusitada na casa: "Depois você assiste a algumas coisas e se sente ridícula: eu chorando por causa de uma salsinha! (risos) Mas a história não ficou muito clara. Quem estava no Tá Com Nada só podia comer arroz, feijão, ovo e goiabada, e foi daí que eu percebi que tinha uma horta e comecei a questionar se não podia pegar plantas de lá. Mesmo diante da negativa das outras pessoas, falei que eu deveria ser punida sozinha, caso acontecesse alguma coisa. Fui lá, lavei as plantas e comi. Não recebi nenhuma punição e passamos a usá-las para tempero. Foi quando as salsinhas ficaram murchas e não repuseram, o que me deixou irritada".

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S1: Teve algum momento que te deixou muito triste ou chateada, a ponto de pensar em desistir? 

Eu fiquei muito mal quando acabou meu cigarro. Não era tanto pelo cigarro em si, mas porque eu tinha muito medo de ficar lá dentro e ficar expondo meus vícios e abstinências, principalmente porque trabalho com adolescentes. Imagina eles pensarem 'Mariza desistiu por causa do cigarro' e isso não é bobo não, isso é saber que sou uma referência para um grupo de jovens e que preciso dar exemplo. Outra coisa que me deixou com medo foram as provas finais, pois eu tinha mais medo de sair do que quando eu tinha entrado. Mas aí refleti e pensei que ter medo e fazer é coragem, e eu sou muito corajosa.

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S1: O que acha que ficou faltando para levar o prêmio de R$ 1,5 milhão?

Lá dentro eu tinha uma forte intuição que, se eu desse o anjo para Cézar, antes do paredão que me eliminou, tinha muita chance de não sair porque eu já tinha percebido que Fernando e Amanda estavam se perdendo no jogo. Eu realmente acreditava que eu, Adrilles e Cézar eram os que mais agiam com sinceridade. Eu poderia ter dado o anjo a Cézar, já que eu tinha mais chance de ficar. Mas eu pesei entre ele e Adrilles e não deixaria de devolver o que um amigo tinha feito por mim, por isso meu anjo foi para Adrilles. Eu faria tudo de novo. Parece bobo, mas você fica pensando no que vai passar para as pessoas que gostam de você ou até desconhecidos. Eu ia passar uma imagem de trair um amigo? Não ia, não. Não me arrependo do que fiz. [Mariza ficou emocionada]

Ela se impressionou com a desenvoltura do passista João Vieira Ela se impressionou com a desenvoltura do passista João Vieira

S1: Qual a sensação ao ser eliminada? Pensou na família, nos filhos, em matar a saudade deles?

Eu fiquei triste e decepcionada. Como eu observava muito o céu, dia de terça tinha mais urubu e eu dizia que era para buscar o defunto. Porque morrer é isso, não é? É sair de cena. A pessoa é eliminada e não volta mais. Quando eu 'morri' no reality, eu pensei que meus filhos poderiam estar decepcionados porque àquela altura imaginariam que eu iria para a final. Eu não tenho modéstia: até o último momento eu achei que eu iria ficar, mesmo sabendo que Cézar era muito forte.

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S1: Teve alguém que te decepcionou?

Fernando. Foi a pessoa que mais me decepcionou. Saber que ele tinha uma rejeição muito forte fora da casa foi umas das primeiras notícias que tive. Ele enganava as pessoas, fingia que era amigo, mas na verdade estava conquistando todo mundo para não ter voto de ninguém. No começo ele era melhor amigo e depois fui percebendo que não era bem assim. Ele foi de território em território ganhando todos. Pegava tudo que todo mundo tinha de mais singelo, de mais puro e verdadeiro, e ia nisso. Então, para Amanda, que nunca tinha ouvido um 'eu te amo', ele foi lá ficou e disse que a amava. Com cada um ele foi conquistando com o que sabia que era a fragilidade da pessoa.

S1: E sobre sua relação com o campeão, Cézar?

Muitos questionavam a minha amizade com ele. Eu não escolheria um Cézar para amigo, pois as referências dele não têm muito a ver com as minhas. Mas no momento em que eu vejo todo mundo massacrando uma pessoa, tenho vontade de estender minha mão. Acho que todo mundo deveria fazer isso.

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S1: E agora, como você está lidando com a fama?

Estou sem acreditar em tudo isso. A cada dia eu ganho mais seguidores. Logo eu, que nem Instagram tinha nem sabia tuítar (risos). O lado bom da fama é o amor gratuito, é um monte de amor que eu recebo. Eu, uma pessoa tão comum, receber tanta admiração é incrível. A minha visão de mundo mudou depois do BBB porque eu vejo que mais gente compartilha das minhas ideias, eu não sou doida! (risos) Você pode dizer que a fama é ruim porque é cansativa, mas quando uma pessoa vem e te pede para fazer uma selfie, você não tem o direito de negar. Eu não tenho esse direito. Ela veio até a mim, só quer bater uma foto comigo e isso para ela é tão importante que não tem como eu dizer que não vou tirar. Espero que se propaguem muitas Marizas por aí.

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No fim da conversa e de um café forte, Mariza também resolveu visitar o Cais do Sertão, museu em homenagem ao forrozeiro Luiz Gonzaga, a poucos passos dali. Ao sair, acendeu seu cigarro e, em poucos segundos, foi abordada por mais uma dezena de fãs. Tirou fotos com todos e, ao chegar no Cais, se despediu da equipe e caminhou para mergulhar em mais um mar da cultura que é parte dela.

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