Mucugê, um refúgio na Chapada Diamantina

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 21/02/2015 às 9:32
Vale do Pati
Vale do Pati

Por Milton Couto

Especial para o Social1

Centro da cidade de Mucugê-BA. Fotos: Marlon Felipe/Divulgação Centro da cidade de Mucugê-BA. Fotos: Marlon Felipe/Divulgação

A cerca de 1.100 km do Recife, entre montanhas, vales e cachoeiras está incrustada a aconchegante Mucugê, na Bahia, com menos de 15 mil habitantes. A cidade destaca-se pelas belezas naturais, hospitalidade dos moradores e clima ameno o ano todo (ótimo para dar uma caminhada pelas ruas à noite). Uma das cidades mais antigas da Chapada Diamantina, fundada no século 18, Mucugê carrega na sua história a "corrida" de garimpeiros de todo o país em busca da exploração de ouro e diamantes na região. Em 1771, decretado o monopólio da extração pela Coroa Portuguesa, países como França, Holanda e Inglaterra enriqueceram clandestinamente.

Transporte para bêbados na praça da cidade Transporte para bêbados na praça da cidade

Mucugê é tanto para quem quer relaxar no friozinho da cidade quanto para quem gosta de se aventurar. Lá, o turista vai encontrar o Parque Municipal de Mucugê - Projeto Sempre Viva. O parque atua na preservação de ecossistemas rupestres (vegetação que nasce entre rochas), principalmente de uma espécie local, a Syngonanthus Mucugensis, a sempre-viva-de-mucugê, que se encontra ameaçada de extinção, por causa da coleta predatória anos atrás. Ela sempre fica viva, mesmo depois de colhida. Andando mais 20 minutos de trilha, a Cachoeira de Tiburtino convida para um banho de rio e uma tirolesa de mais de 20 metros de altura. Voltando para a cidade, ainda na rodovia que leva a Mucugê, o turista pode visitar o Museu Vivo do Garimpo. Lá, existe uma mina subterrânea, vários diamantes e réplicas expostos, além de utensílios para o garimpo. No centro, há alugueis de bike durante o dia com guia para conhecer melhor a cidade (custa, em média, R$ 70 reais por pessoa).

Projeto Sempre Viva de Mucugê Projeto Sempre Viva de Mucugê

Cachoeira do Tiburtino Cachoeira do Tiburtino

Outro passeio que pode ser feito é para os caldeirões diamantíferos formados nas rochas que convidam para um banho de piscininhas naturais no Lago do Mar da Espanha e na Cachoeira da Sibéria. Ainda em Mucugê, para quem gosta de se aventurar e quer se desligar totalmente da cidade, vale a pena fazer a trilha do Vale do Pati, considerada uma das mais belas do mundo. São, em média, cinco dias de caminhada. Os nativos recebem os turistas, oferecem comida e cama para relaxar e, depois, continuar a trilha. Outros preferem acampar. A trilha pode ser feita também em apenas um dia, saindo do distrito de Guiné.

Vale do Pati Vale do Pati

Encravado no pé da Serra do Sincorá, distante um pouco da cidade, está o Cemitério Santa Izabel, com estilo gótico bizantino. Aberto ao público, ele foi erguido longe da cidade e em um local elevado por causa de uma epidemia de cólera que assolava o estado da Bahia, assim protegia os mananciais e lençóis d'água da região de uma possível contaminação. Caminhar por lá, ler os epitáfios e fotografar os túmulos centenários chega a ser uma viagem pela história do município.

Como toda cidadezinha de interior, Mucugê guarda personagens com ricas histórias para contar do lugar, ditas em frente aos casarões de estilo português. Pessoas como seu Aloísio Paraguassú, hoje dono da Estalagem e Camping Jardim do Eden e Lanchonete X-Tudo. No alto dos seus 80 anos, diz que para ele só existe "verdade ou mentira", sem meio-termo. Seu Lói, assim conhecido na cidade, já foi vereador quatro vezes, guarda uma espingarda do bando de Lampião no seu quartinho de "tralhas" e diz ter avistado OVNIs no céu de Mucugê, o que o levou a convocar uma equipe de reportagem do Fantástico, da Globo, a registrar o fato. "Passaram uma semana aqui porque eu pedi para um amigo convidar o jornalista José Raimundo para gravar os pontos luminosos que apareciam e sumiam. A primeira vez que vi, eu estava na plantação, voltando para casa, na serra do Capa-Bode. Aquela luz parece que iria me puxar", disse, para não dizer que estava prestes a ser abduzido por um extraterrestre.

Túmulos do cemitério de Mucugê Túmulos do cemitério de Mucugê

Na gastronomia, em Mucugê "come-se bem", como diz o clichê. Uma dica para quem voltar de carro e fica entendiado por isso é encomendar pãezinhos de queijo de Seu Pedro (cada um custa uma pechincha de R$ 0,50). Mineiro, hoje ele vive na cidade e sabe como ninguém preparar a delícia. Para almoçar, é unânime: todo mundo indica comer a comida caseira de Dona Nena, uma senhora de mais de 80 anos que faz questão de circular pela sua cozinha para ver se os visitantes estão satisfeitos com os pratos. Por lá, a especialidade é comida caseira, como guisado, galinhada, feijoada, pirão, farofa, tudo acompanhado de uma boa e ardente pimenta baiana. Só abre no almoço.

Museu Vivo do Garimpo Museu Vivo do Garimpo

Diante de tanta grandeza e beleza natural da Chapada Diamantina, a simplicidade do povo de Mucugê é mesmo de impressionar. Uma boa dica para você que se apaixonou pelo lugar, assim como eu, é visitar a cidade na famosa festa de São João. Por lá, prevalecem o autêntico pé-de-serra, além, claro, dos saborosos quitutes e bebidas tradicionais.

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