A história de Skaz e seu amor pela aquarela sobre a pele

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 30/10/2014 às 15:20
Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem
Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem

Paulo Victor Skaz tem apenas 26 anos, mas já é conhecido pela turma jovem do Recife por assinar tatuagens com desenhos fantásticos, cheias de cores e efeitos de tinta diluída em água na pele. O artista começou a trabalhar cedo, pouco antes dos 20, e com uma trajetória marcada por dedicação, pesquisas e viagens, consagrou seu nome em um estilo próprio: a aquarela. Ganhou prêmios em convenções brasileiras e se tornou um dos principais nomes do cenário de tattoo na capital pernambucana. O Social1 bateu um papo com o ilustrador e desvendou os segredos por trás dessa carreira de sucesso. Confira nossa entrevista exclusiva com Skaz.

Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem

Por que Skaz?

Skaz é, na verdade, uma abreviação de "esquisito", que era meu apelido quando criança. A ideia veio da galera da minha crew [grupo de amigos que grafitam juntos]. Eles sugeriram o nome e eu decidi adotá-lo profissionalmente.

Como tudo começou? A vocação para o desenho vem desde menino?

Desde pequeno eu sempre gostei de desenhar, mas foi aos 14 anos, quando eu comecei a andar de skate e grafitar, que o amor pelo desenho surgiu mesmo. Inserido no meio do grafite, eu conheci muita gente que tatuava e fui me interessando cada vez mais pela coisa. Nós saíamos juntos para pintar por aí, daí eu me encontrei na arte.

DN291014021 Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem

Tendo em vista a sua formação como tatuador e grafiteiro, você se considera uma pessoa subversiva?

Não sei... Às vezes [risos].

Você é pai de uma menina linda, tem sua família e um trabalho premiado. É um artista incrível, com um futuro brilhante pela frente. Nos dias de hoje, você considera que ainda existe preconceito contra quem trabalha com tatuagem ou grafite?

Cara, se eu sofro, eu prefiro me manter ignorante. Eu não percebo isso em relação a mim. Como você mesma falou, eu tenho minha família, minha filha, meu trabalho aqui, e não estou nem aí, sabe? Minha mãe gosta do meu trampo, me liga todos os dias para saber se eu estou bem e é isso que importa!

Eu acho que ainda rola uma visão estranha das pessoas, em relação ao nosso trabalho, às vezes. Na verdade, em relação ao reconhecimento do trabalho. Eu vejo muitos grafiteiros que ralam 'pra caramba' e não conseguem viver de grafite. Muita gente que eu uso como referência e inspiração simplesmente não tem oportunidade de trabalhar com o que realmente gosta, que é o grafite. Eles trabalham com algo que não se identificam para poder criar apenas nas horas vagas. Eu, que tive a oportunidade de trabalhar com isso e os uso como referência, me sinto muito mal com isso. Ainda rola um certo receio das pessoas de investir nesse tipo de arte.

Há quantos anos você trabalha como tatuador?

Eu tatuo há 7 anos.

Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem

E a aquarela? Como você desenvolveu essa especialidade?

Começou no grafite mesmo. Eu sempre curti pintar em lugares mais sujos, com texturas sujas, sempre gostei da tinta solta, escorrendo... Um lance não muito estético, sabe? Aí eu percebi que, quando desenhava com lápis-de-cor no papel, eu não conseguia fazer esse efeito aquoso, por isso migrei para a aquarela. Com a aquarela, eu fazia o mesmo efeito no papel que eu conseguia com a tinta do spray escorrendo nas paredes. Depois de um tempo, já como tatuador, eu decidi aplicar a minha técnica de desenho em aquarela na própria pele e deu certo.

É mais difícil tatuar nesse estilo em aquarela?

Não. Tecnicamente falando, é a mesma coisa que qualquer outro tipo de tatuagem. Tem a parte mais sólida, tinta pura, tem a parte mais diluída... É basicamente a mesma técnica. A diferença é que eu tenho que reproduzir fielmente o efeito que a tinta dissolvida na água tem no papel - só que na pele. Com a prática desses anos, eu já nem preciso mais desenhar no papel. Hoje em dia, eu consigo texturizar o trabalho de aquarela na pele sem nem desenhar antes em outro suporte. É uma questão de muita prática.

Fale do seu amor pelas aves, pelas formas...

Eu gosto muito de desenhar aves. Acho que a paixão pelos pássaros veio da infância. Eu morei em Camaragibe [na Região Metropolitana do Recife], muito perto de algumas matas. Então, sempre observei várias espécies de aves e gostava muito. Acabei inserindo isso no meu trabalho. Eu tenho uma viagem de ver os pássaros como se fossem pessoas. Até pela convivência deles entre si... Eu vejo muitas semelhanças, por isso que tenho muitos desenhos de cabeças de pássaros com corpos humanos. Na verdade, curto muito desenhar animais. A maioria dos meus desenhos é de animais, mas o que eu mais curto são os pássaros.

Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem

Você sempre usa muitas cores, não é?

É, geralmente eu uso muita cor, mas, por incrível que pareça, eu gosto muito também do preto, de desenhos todos pretos. Acho que é por influência dos meus amigos, dos outros tatuadores, da galera rock n' roll, mais tradicional, sabe? Eles gostam de coisas mais pesadas. Eu não consigo criar desenhos tão pesados assim. Eu tento ao máximo fazer algo nesse estilo, mas sempre acabo pondo uma corzinha, um efeito... Eu estou estudando. Pretendo dar uma equilibrada nisso.

O que é ximporinfologia - palavra que tanto aparece nos seus perfis nas redes sociais?

É uma brincadeira minha e dos meus amigos [risos]. Essa palavra nem existe. Eu gostava de fazer umas coisas bem abstratas e as pessoas sempre passavam na rua e perguntavam o que eram os meus desenhos. Aí a gente ficava zoando, inventando nomes. O conceito surgiu um dia, quando estávamos grafitando. Um amigo lembrou de um episódio de Chaves [Uma Aula de História]; quando Chaves desenhou uma coisa bem louca, o professor Girafales pergunta o que é e ele diz que é uma ximporínfola [risos]. Essa é a minha viagem: meu desenho é meio ximporínfola também. A ximporinfologia é o estudo da ximporínfola [risos].

Você vai realizar a sua primeira exposição individual em novembro. Pretende se dedicar mais à ilustração nos papeis e telas, daqui para frente?

Sim, é minha primeira exposição individual. Eu já participei de duas mostras coletivas na Casa do Cachorro Preto [em Olinda] e vários eventos ligados ao grafite, como o Recifusion. Eu queria ter mais tempo para produzir. Planejo deixar de tatuar aos sábados, no ano que vem, para passar os finais de semana só produzindo meus desenhos. Hoje em dia, eu não tenho tempo, trabalho aqui no estúdio de segunda-feira a sábado; no domingo, não tenho cabeça para nada. A partir de janeiro, eu pretendo produzir mais. Gosto muito de desenhar em tela e papel também. Acho muito importante! Já escutei tatuador dizendo que não sabe desenhar, acho isso um absurdo.

Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem

Como tatuador, qual a sua relação com o corpo humano? Você considera que seja também um dos elementos da sua obra?

Eu vejo o corpo como um suporte para os meus desenhos. Assim como um pintor usa a tela para pintar e criar a sua obra, eu vejo o corpo como minha tela. Eu sou muito satisfeito em tatuar todo dia, porque só tatuo desenhos meus. Sempre puxo o máximo para o meu estilo, mesmo que o cliente já venha com uma ideia prévia. Todo dia, eu tatuo para mim, como se fosse no meu próprio corpo.

Na sua opinião, como você consagrou seu nome? Muita gente no Recife sabe quem você é e quer tatuar um desenho seu. As redes sociais ajudaram neste processo de reconhecimento?

As redes sociais ajudaram bastante, com certeza. Instagram, Facebook, Tumblr... Sempre publico imagens de trabalhos meus e isso é uma divulgação constante. Nos meus cinco primeiros anos como tatuador, eu trabalhei num estúdio comercial, onde tinha que tatuar de tudo, desenhos de todos os estilos. Mesmo sem gostar, eu tinha que fazer. E isso me ensinou muito, foi um aprendizado muito grande. Hoje, eu posso dizer que entendo tudo de agulha, aplicação de tinta, etc.

Depois que eu comecei a fazer os trabalhos no meu próprio estilo, com meus próprios desenhos, as pessoas começaram a ver e identificar o meu traço neles, sabe? Eu comecei a criar todos os desenhos para as tatuagens que eu ia fazer, tudo tem muito a minha cara. Daí, começaram a sair algumas matérias, eu fiz viagens, conheci pessoas, desenvolvi meu trabalho... Mas o boca a boca foi o que mais me ajudou, eu acho.

Recentemente, no final de agosto, o cantor Caetano Veloso compartilhou a imagem de uma tattoo sua no Instagram. Como foi isso? Você ficou surpreso?

Eu fiquei bastante surpreso, cara! Na verdade, aquele desenho não é meu. Uma cliente minha, Clara, pediu que eu tatuasse a capa do CD de Caetano, o Bicho [1977], e o desenho é do próprio Caetano. Eu conhecia algumas faixas do disco, mas ainda não tinha visto a capa e adorei. Nunca tatuo desenhos que não são meus, mas tive que abrir aquela exceção. Clara tirou a foto e divulgou e Caetano acabou compartilhando. Achei muito massa!

Foto: reprodução/Instagram Foto: reprodução/Instagram

Veja algumas tatuagens assinadas por Skaz na nossa galeria:

Foto: reprodução/Instagram - Foto: reprodução/Instagram
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