O selo pernambucano Assustado Discos, com 10 anos de estrada, realiza seu primeiro grande projeto de relançamento, com a edição comemorativa dos vinte anos de lançamento do disco Samba esquema noise, da Mundo Livre S/A, icônica banda do Mangue Beat, um dos principais movimentos da música brasileira na década de 90. O disco, em formato vinil 180 gramas, é fiel ao original lançado em 1994 e terá tiragem de mil cópias, sendo setecentas pretas e trezentas na cor amarela.
Fred Zeroquatro com Rafael Cortes, da Assustado Discos/Foto: Divulgação
As bolachas já estão em trânsito para o Recife e há previsão para o início das vendas no dia 19 de setembro. O lançamento será feito em show com repertório especialmente dedicado ao Samba esquema noise, em outubro. Os discos serão vendidos nas principais lojas especializadas do País, por encomenda feita por meio do e-mail do Assustado Discos ([email protected]) ou ainda pela fanpage do selo.
“Mundo Livre S/A é um dos maiores expoentes da música pop nacional e seu Samba esquema noise um dos discos mais importantes da música brasileira, na década de 90”, enfatiza Rafael Cortes, dono do selo. A produção contou com a participação do próprio Fred Zeroquatro, acompanhando o passo a passo da reconstrução do material, garantindo uma reedição de luxo que o disco merecia.
Dez coisas que você não encontra no verbete do Wikipedia sobre o Samba esquema noise, por Renato L. e Fred Zeroquatro:
1) Mundo Livre S/A em 1994, ano de lançamento do Samba esquema noise, era Fred Zeroquatro (guitarra, cavaquinho e vocais), Fábio Goró (baixo), Bactéria (teclados), Xef Tony (bateria) e Otto (percussão). Com essa formação, a banda gravou o disco seguinte, Guentando a ôia, lançado em 1996. Pouco depois, Otto foi desligado da banda e substituído por Marcelo Pianinho.
2) O único arranjo de guitarra composto por Bactéria foi para a faixa Livre inicativa. Mas, por sugestão de Carlos Eduardo Miranda (um dos produtores do disco, junto com Charles Gavin), a guitarrista de Heavy Metal Syang foi convidada pra gravar esse hard samba, dialogando com o cavaquinho. A talentosa loura, que acabou estrelando o primeiro clip oficial, se restringiu a executar o arranjo criado pelo tecladista da banda.
4) O título faz homenagem a um dos heróis de Zeroquatro, Jorge Ben, autor do Samba esquema novo, LP lançado em 1963 - e, por coincidência, também um disco de estreia.
3) A capa é de Rui Mendes, fotógrafo que trabalhou com várias bandas de rock dos anos 90. Outro fotógrafo, o pernambucano Gil Vicente, contribuiu com um registro especial, disposto estrategicamente no encarte: reunida no Peixe Dourado, um lendário bar da praia de Candeias (Jaboatão/PE), a "família" Mundo Livre posa para as lentes enquanto comemora os bons ventos que sopravam para o Mangue Beat.
5) A última faixa, Samba esquema noise, foi a primeira do disco a ganhar um clipe não oficial. O roteiro e a direção levaram a assinatura de Dolores e Morales, codinomes, respectivamente, de Helder Aragão (que manteria o pseudônimo na sua carreira como produtor e DJ) e Hilton Lacerda, roteirista de longa-metragens como Baile perfumado e Febre do rato e diretor de Tatuagem. Os dois também dirigiram um clipe para Homero, o junkie. Outras três faixas do disco ganharam vídeos: Livre iniciativa, Musa da Ilha Grande e A bola do jogo.
6) Quando o Mundo Livre lançou Samba esquema noise, era uma banda já com dez anos de existência. Naturalmente, o disco de estreia reuniu material composto em diversos momentos dessa trajetória. Algumas faixas foram compostas em meados da década de 80. É o caso de O rapaz do bonezinho preto, homenagem ao “ministro da informação” do Mangue, Renato L, inspirada em O homem da gravata florida, de Jorge Ben. Ou de Terra escura, adaptação de um texto do “antipsiquiatra” escocês Ronald Laing, uma lenda da contracultura dos "sixties".
7) A música de maior sucesso do disco, presença certa nos shows até hoje, é Musa da Ilha Grande. Apesar de fazer uma discreta participação na gravação, Malu Mader não leva o crédito de fonte inspiradora de Zeroquatro. Na verdade, quem usava o biquíni branco dos versos era uma anônima moradora da “Ilha Grande”, apelido meio carinhoso, meio irônico da praia de Candeias, que funcionava como base de operações da banda. Uma espécie de prisão paradisíaca de onde parecia impossível escapar – pelo menos até o surgimento do Mangue.
8) O álbum foi lançado no mesmo dia do lançamento mundial de um novo álbum de Madonna. Alguns jornais brasileiros importantes acabaram dando mais destaque ao Samba esquema noise. Isso gerou uma saia justa, já que a Warner, gravadora da musa pop, era a mesma que distribuía o selo responsável pela Mundo Livre.
9) O disco ganhou vários prêmios nacionais, sendo o principal deles o concedido anualmente pela crítica especializada da Revista Bizz (categorias Melhor Disco, Melhor Letrista e Banda Revelação de 1994).
10) Banguela Records, a gravadora responsável pelo lançamento do Samba esquema noise, foi o selo independente mais importante do Brasil dos anos 90. Uma parceria dos Titãs com o jornalista e produtor gaúcho Carlos Eduardo Miranda, abrigou no seu catálogo bandas como Raimundos, Maskavo Roots e Little Quail and the Mad Birds. Foi através de uma dissidência do Banguela, a Excelente Records, que o Mundo Livre S/A lançou seu segundo álbum, Guentando a ôia.
Mundo Livre s/a – Samba esquema noise
Lado A
- Manguebit (Fred Zeroquatro)
- A Bola do Jogo (Fred Zeroquatro)
- Livre Iniciativa (Fred Zeroquatro / Chef Tony)
- Saldo de Aratú (Fred Zeroquatro / Fabio Goró / Chef Tony / Otto / Bactéria)
- Homero, o Junkie (Fred Zeroquatro / Fabio Goró / Chef Tony)
Lado B
- Musa da Ilha Grande (Fred Zeroquatro)
- Cidade Estuário (Fred Zeroquatro)
- Rios (smart drugs), Pontes & Overdrives (Fred Zeroquatro)
- O Rapaz do Bonezinho Preto (Fred Zeroquatro / Fabio Goró / Chef Tony / Otto / Bactéria)
- Terra Escura (Fred Zeroquatro)
