"Me chamaram de autora e eu achei que não era comigo", diz Clarice Freire

Mirella Martins
Mirella Martins
Publicado em 19/08/2014 às 14:27
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Foto: divulgação Clarice tem 26 anos e nasceu no Recife. Foto: divulgação

Pó de Lua é, na verdade, uma versão impressa vintage dos desenhos e poesias que Clarice Freire divulga no seu blog homônimo e nas redes sociais (Facebook e Instagram). Criativa, lírica e talentosa, a pernambucana que se formou em publicidade e trabalhou com redação durante sete anos, hoje, dedica-se exclusivamente a um sonho que não imaginava realizar de maneira tão natural: ser escritora. E isso tem um valor simbólico imensurável para ela, que conta em um episódio engraçado da sua vida referente a este seu novo título. "Quando a moça simpática da recepção disse 'A autora chegou', na sede da editora Intrínseca, eu virei de costas procurando a tal e não havia ninguém atrás de mim", disse. Pois é, a autora era ela, a própria Clarice.

Desde que nasceu, respirou arte: o pai é o poeta Wilson Freire; a mãe, Lúcia Freire, é desenhista; o dramaturgo Marcelino Freire é seu primo, e o amigo da família, o multiartista Antônio Carlos Nóbrega sempre frequentou sua casa. Era praticamente impossível não criar uma maneira de também se manifestar artisticamente. Para Clarice, é algo inerente à sua personalidade. "Eu sempre desenhei e escrevi. Tudo de maneira simples, sem nenhuma pretensão. Eu escrevia porque precisava pôr para fora o que existia dentro de mim", explica.

Ela jogava no lixo e deixava para lá tudo o que produzia até que, em 2010, os amigos criaram uma página na internet para que ela publicasse os rabiscos delicados e particulares. Desde então, mais de um milhão de curtidas, compartilhamentos... São pessoas que se identificam com a diversidade de sentimentos e reflexões que a escritora divide com os internautas.

O Social1 mostra a Clarice Freire que ninguém conhece e revela detalhes de seu novo livro. Confira a conversa na íntegra.

Foto: reprodução/Facebook O Pó de Lua é conhecido nacionalmente e internacionalmente. Foto: reprodução/Facebook

Social1: Clarice, eu estava combinando a entrevista com seu assessor, Pablo, e ele naturalmente te chamou de autora, mas eu ri. Porque lembrei que você escreveu na coluna para a Intrínseca sobre a surpresa que sentiu quando foi chamada pela primeira vez de autora. Como foi se dar conta desse novo "título"?

Clarice Freire: Eu realmente tentei encontrar a autora de quem estavam falando. Sou publicitária e acho que essa denominação ‘autora de um livro' é algo muito forte para mim, porém muito importante. Todo o processo foi muito natural, nunca escrevi pensando que aquilo fosse algum dia fazer sucesso. Esse período de pré-lançamento do livro é muito incrível. Aos poucos, estou me acostumando com a ideia de ser autora. Acho que a partir do momento em que o livro for lançado, as coisas vão ficar mais concretas. Se alguém me chamar de autora, eu vou continuar sem olhar, eu acho...

S1: Como surgiu o Pó de Lua?

CF: Meus amigos criaram o blog, no trabalho, para arquivar e deixar na memória o que eu escrevia e desenhava. Acabava o dia cheio de papel na minha mesa e eu tinha que jogar fora. Em 2010, criaram o blog e, em 2011, eu fiz o perfil no Facebook. Minhas produções sempre foram e são, até hoje, uma questão de necessidade. Eu ponho para fora dessa forma o que eu sinto: escrevendo.

Foto: reprodução/Facebook Foto: reprodução/Facebook

S1: O livro é todo de material inédito?

CF: É um projeto gráfico todo feito por mim: do início ao fim. O livro é completamente desenhado e escrito à mão. Então, ele é realmente uma coisa bem diferente. Ele foi feito para que o leitor tenha a sensação de ter em mãos o meu próprio caderno - tal e qual o meu trabalho é ao vivo - sem tratamento. Por causa disso, o processo é um pouco mais delicado. Mais da metade das poesias são totalmente inéditas e o resto já existia, só que com nova roupagem. Eu reconstruí trabalhos antigos, com um formato um pouco diferente do que o que eu trabalho normalmente, com mais liberdade.

S1: Ele consiste numa narrativa ou são produções independentes que possuem uma relação entre si?

CF: Todos são independentes. O livro é dividido nas quatro fases da lua. Cada uma corresponde a um perfil dos poemas publicados. A minguante envolve um sentimento de saudosismo e nostalgia. A nova fala sobre os sentimentos ocultos, que se escondem na gente - tipo o medo e até uma certa ternura que a gente não revela. A crescente representa a passagem entre a lua nova e a cheia. Não sabe se ela ilumina ou escurece. É uma fase de incertezas. Por fim, a cheia é a ausência total de gravidade: alegria, beleza, cor e felicidade! Cada lua tem seu manifesto: ela diz quem ela é e a que veio. Eu sou assim.

S1: Que tipos de mudança você percebeu nas suas criações, de 2010 para os dias atuais?

CF: Acho que eu consigo ver claramente que, no começo, eram rabiscos mesmo, assim, que fazia num papel sem muita preocupação com o desenho. Eu desenhava bastante, mas fazia com muita pressa, entre um intervalo e outro do trabalho. Não dedicava muito tempo e atenção a ele. Os trabalhos iniciais são mais simples mesmo. Com o tempo, treino e a dedicação, eu comecei a ter mais cuidado, gastar mais o meu tempo com as coisas que eu escrevia e desenhava. E tudo foi mudando de acordo com minha fase da vida. Eu mudei muito esses anos e o meu trabalho mudou não só no conteúdo, como na forma.

Foto: reprodução/Facebook Foto: reprodução/Facebook

S1: Os seus seguidores e fãs influenciam no seu trabalho?

CF: Eu acho que não. No começo, era ainda mais despretensioso. Com a quantidade de seguidores que eu tenho, eu sinto uma responsabilidade maior em relação a eles. A responsabilidade que eu sinto é grande. Na verdade, tudo me influencia! Uma conversa que eu tenho na rua me influencia. O que eu sinto da parte dos leitores; o sentimento, a vida, o carinho deles me influenciam. Muitos tatuaram coisas minhas ou tem o quarto repleto de poemas meus. Tem um muro no interior de Minas Gerais todo cheio de desenhos e escritos do Pó de Lua. E isso me dá vontade de criar mais, me dá estímulo. Mas me moldar a alguém não dá.

S1: A que veio o Pó de Lua?

CF: Como eu sempre digo: veio para diminuir a gravidade das coisas. Eu gosto de dar leveza às vivências do dia a dia. Aqueles sentimentos e reflexões que nos acompanham enquanto realizamos as atividades mais banais. Falo de coisas que a gente tem dentro da alma e de coisas invisíveis. Às vezes, um objeto que está ali e a gente vê todo dia está cheio de significados ocultos nele. Falo de medo e da alegria profunda, de saudade, amor e decisões. Eu busco dar leveza as coisas mais duras da vida.

Foto: reprodução/Facebook - Foto: reprodução/Facebook
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O lançamento do livro no Recife será hoje, às 19h, na Livraria Cultura do RioMar.

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