Estudo aponta impossibilidade de transformar atmosfera de Marte

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 31/07/2018 às 18:30
Foto: NASA / AFP
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Por AFP

Más notícias para aqueles que sonham em mudar o ambiente de Marte para transformá-lo numa nova Terra: o Planeta Vermelho não teria dióxido de carbono suficiente disponível para recriar uma atmosfera espessa o suficiente para torná-lo habitável, de acordo com pesquisadores.

Um estudo publicado na revista científica Nature Astronomy analisou a ideia de que as tecnologias poderiam transformar este planeta desértico e seco para torná-lo semelhante à Terra.

Este é o conceito de "engenharia planetária" ou "terraformação", um conceito caro à ficção científica, mas também de interesse dos cientistas.

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A perspectiva de missões da Nasa para habitar Marte a médio prazo e a da implementação de colônias humanas mencionada pelo bilionário Elon Musk levaram os pesquisadores a olhar para esta hipótese defendida pelo chefe da SpaceX.

"Queríamos ver o que era possível fazer" com dióxido de carbono (CO2) "no estado atual da tecnologia", disse à AFP Bruce Jakosky, da Universidade do Colorado em Boulder (Estados Unidos) e principal autor do estudo.

Menor que a Terra, Marte tem uma atmosfera muito tênue, composta de 96% de dióxido de carbono. A pressão atmosférica é muito baixa comparada com a do nosso planeta. E faz frio: a temperatura média é de -63 graus Celsius.

"O objetivo desta 'terraformação' seria criar em Marte uma atmosfera tão espessa quanto a da Terra", explica Bruce Jakosky.

O agente dessa transformação do meio ambiente seria o dióxido de carbono, um gás de efeito estufa armazenado nas rochas marcianas e sob as calotas de gelo em particular.

Se fosse possível liberar este gás na atmosfera, poderia se esperar torná-la menos fina, aquecer o planeta e, aumentando a pressão atmosférica, permitir que a água líquida permanecesse na superfície, ressalta o pesquisador.

"Os homens não precisariam mais usar roupas de astronauta, já que o aumento da temperatura tornaria a vida mais fácil", acrescenta Bruce Jakosky, que participou da missão MAVEN da Nasa, lançada em 2013 para estudar a atmosfera marciana.

"Descobrimos que não há dióxido de carbono suficiente"

Bruce Jakosky e Christopher Edwards, da Northern Arizona University em Flagstaff, compilaram um inventário dos diferentes "reservatórios" de CO2 não atmosférico, com base em dados coletados por várias missões marcianas ao longo de várias décadas.

"Inclui as calotas polares, o CO2 em rochas de carbono e moléculas de CO2 na poeira do solo", explica Bruce Jakosky.

"Descobrimos que não há dióxido de carbono suficiente disponível para criar um aquecimento global suficiente, mesmo que pudéssemos liberar tudo para a atmosfera", diz ele.

Na melhor das hipóteses, o CO2 acessível poderia triplicar a pressão atmosférica de Marte - apenas um quinto do que seria necessário para tornar Marte habitável para seres humanos. E aumentar a temperatura em menos de 10 graus Celsius. "Além disso, seria muito difícil extrair esse CO2", diz o pesquisador.