Os mares da Ásia, lixeiras de plástico do planeta

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 10/06/2018 às 15:30
Praia de Juhu, em Mumbai (AFP PHOTO / PUNIT PARANJPE)
Praia de Juhu, em Mumbai (AFP PHOTO / PUNIT PARANJPE) FOTO: Praia de Juhu, em Mumbai (AFP PHOTO / PUNIT PARANJPE)

No Vietnã, as sacolas plásticas cobrem os manguezais, na Tailândia uma baleia morreu depois de engolir 80 dessas sacolas e as ilhas indonésias às vezes perdem seu aspecto paradisíaco. Na Ásia, os efeitos da poluição por plástico são dramáticos.

China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã lançam por ano mais de quatro milhões de toneladas de plástico nos mares do planeta, isto é, metade da quantidade total, segundo a ONG Ocean Conservancy.

Se nada for feito para evitá-lo, até 2025 haverá 250 milhões de toneladas de resíduos plásticos nas águas mundiais, asseguram os pesquisadores. "Estamos em uma crise de poluição por plástico, vemos em todos os lugares, em nossos rios, em nossos oceanos", aponta Ahmad Ashov Birry, ativista da ONG Greenpeace na Indonésia, coincidindo com o Dia Mundial do Meio Ambiente, neste 5 de junho.

China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã estão também entre os países com maior crescimento na Ásia, com economias baseadas em grande medida na produção de plástico. Isto e a falta de um sistema de coleta e reciclagem adequado causam uma poluição significativa.

- Efeitos sobre a pesca -

Os habitantes, especialmente os que vivem da pesca, sofrem as consequências da proliferação de plásticos na natureza. No Vietnã, Nguyen Thi Phuong viu como a zona onde trabalhava se tornou um lixão a céu aberto com o passar dos anos.

"Está tão poluído, não é saudável para as crianças", explica esta mulher ao voltar de sua pesca matinal sob um sol abrasador, envolvida por um cheiro de lixo e peixe. "Para nós é difícil pegar camarões e peixes", explica outro pescador, Vu Quoc Viet, que precisa retirar os resíduos de plástico agarrados em suas redes.

No mangue vizinho, um ecossistema frágil de pântanos típico das regiões tropicais, outros pescadores procuram crustáceos no lodo, sem prestar atenção ao mar de resíduos e sacolas de plástico que constitui seu entorno de trabalho. Um informe recente da ONG World Animal Protection aponta o risco das redes de pesca abandonadas no mar, que fazem parte da poluição por plástico.

Na Tailândia, uma baleia morreu no início de junho. Os veterinários encontraram mais de 80 sacolas de plástico em seu corpo, um exemplo recente das consequências nefastas desta poluição que é apenas "a ponta do iceberg", segundo John Tanzer, da ONG WWF.

"A poluição de nossos oceanos é tão grande que afeta todos os níveis do ecossistema, dos animais menores até as baleias", lamenta. E as micropartículas desses plásticos se desintegram com o passar do tempo e acabam também nas água que milhões de asiáticos bebem diariamente.

A ONG União Internacional para a Conservação da Natureza está realizando um estudo mundial mundial sobre os efeitos dessas partículas, cujas consequências para a saúde ainda são desconhecidas.

- Coleta imperfeita -

Na China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã, menos de metade dos resíduos é coletada corretamente.

Em uma sociedade de consumo acostumada ao plástico, a educação dos cidadãos asiáticos, que ainda não adotaram as sacolas reutilizáveis nos supermercados, é uma das mudanças essenciais para conseguir uma melhora da coleta de lixo, segundo os especialistas.

China, a segunda economia mundial, proibiu no ano passado a importação de resíduos plásticos, rejeitando ser o lixão do mundo. Mas a imensa maioria dos resíduos públicos no país são produzidos por sua própria população.