Saúde para todos e com baixo orçamento: tecnologia pode ser a solução

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 23/05/2018 às 12:21
Patrícia Ellen (Divulgação)
Patrícia Ellen (Divulgação) FOTO: Patrícia Ellen (Divulgação)

"O Brasil envelhece como a Suécia, mata como a Síria e morre como a África do Sul". Esta é a frase utilizada por Patricia Ellen para sintetizar a realidade do país quando o assunto é saúde. CEO da maior empresa de tecnologia para saúde no Brasil e Co-Fundadora do movimento Agora!, ela foi convidada pela rede social Colab para participar do evento Colab Gov Summit, um circuito de palestras onlines e gratuitas que acontece desde terça-feira (22) até esta quinta (24).

Explicando a frase em que apresenta um país de contrastes, a especialista fala dos avanços do sistema de saúde pública que proporcionou uma melhora na qualidade de vida do brasileiro que está vivendo mais. A melhora no saneamento básico, controle de doenças infecciosas e da saúde básica também ocasionou uma melhora nos índices de mortalidade infantil e materna.

Mesmo assim, Patricia Ellen nos recorda que "Não somos mais um país jovem. Até 2030 o número de pessoas com mais de 60 anos irá triplicar e até 2065 nossa pirâmide etária será muito parecida com a do Japão, que tem uma dinâmica populacional muito diferente da nossa".

Em relação a comparação com a Síria, a palestrante compara o número de mortes existente no país, em seis anos, com os do Brasil em um ano. Enquanto no primeiro ocorreram 330 mil mortes por conta de uma guerra civil em um espaço de tempo menor, pela falta de acesso à saúde em algumas regiões, "O Brasil mata 60.000 pessoas por ano. É só fazer a conta. A gente mata a mesma quantidade que a Síria. Nós somos como um país em guerra civil", compara.

Por fim, as causas de mortes no país é semelhante as da África do Sul. Em ambos os locais, sofre-se muito com doenças infecciosas. No ano passado houve um aumento de 50% nos casos de Malária. Outras doenças que também tornaram-se epidêmicas forma zika e mais recentemente a febre amarela.

"Precisamos de um sistema de saúde para lidar com as necessidade de nosso país, que não é um sistem de um país em guerra civil, nem o de um país que envelhece como a Suécia. Precisamos de três tipos de sistema completamente diferentes, mas nós não temos o PIB da Suécia, nem do Japão para lidar com isso. Somos um país de renda de média para baixo que precisa aprender a fazer muito mais com muito menos", aponta a especialista.

Patricia Ellen ainda explica que o Brasil já investe quase 10% do PIB na saúde. Proporcionalmente é o mesmo que países como Inglaterra e Alemanha. Porém, para que todas as pessoas tivesse acesso ao setor, aqui seria necessário o dobro de gastos. Se a conta já não fecha, como solucionar esse problema?

"Talvez a gente tenha que voltar um pouquinho para a base e fazer perguntas mais simples. Como eu disse, eu não sou médica. Por isso, acredito que a solução para a saúde tem que passar por essa troca entre médicos, enfermeiros, gestores, não médicos, especialistas em tecnologia, empreendedores, setor público e privado, academia e setor social. Todos juntos buscando uma solução integrada para a saúde. Parece muito sonhador e idealista, mas não é. Na verdade é nosso único caminho, porque a conta não fecha. O problema só se resolve com muita criatividade e muita tecnologia", propõe.

Como exemplo, cita a necessidade do país de um sistema integrado e que atenda regiões remotas. "Não necessariamente precisamos de especialistas para tudo. A maior parte da demanda é de médicos generalistas para que se diagnostique o problema e aí sim encaminhar para um especialista. Precisamos repensar o sistema utilizando nossos profissionais de uma maneira mais sábia", explica a especialista.

Ao invés de levar as pessoas aos especialistas em hospitais e clínicas, Patricia Ellen propõe o contrário: levar o médico ao paciente por meio do telemedicina. Funciona como uma central em que especialistas diagnosticariam o problema de quem está na linha, funcionando em regiões remotas por meio de banda larga ou satélites. A Inglaterra é uma referência neste sistema que funciona de maneira pública, universal e integrada. "No Brasil a gente tem o desafio que não é tecnológico e não é técnico: é de governança. A telemedicina hoje no Brasil ela é proibida. Fica aqui uma provocação para gente refletir".

Este é apenas um dos exemplos citados pela especialista em tecnologia para saúde. Para ouvir a palestra completa e ter acesso a outras, não deixe de se inscrever no site do Colab Gov Summit .

"A maior oportunidade da tecnologia está na gente exatamente conseguir entregar com mais qualidade e menos recursos uma saúde mais humana para as pessoas. No fim, a gente tem que usar a inteligência  para o que a gente tem de melhor: aplicar nossa humanidade", finaliza Patricia Ellen.

Sobre o evento

São três dias completos de conhecimento compartilhado nos mesmos moldes de um congresso ao vivo, porém com o conforto digital e alcance nacional. Reunir 40 nomes de peso num único congresso não é tarefa fácil. Por ser on-line, o evento consegue juntar nomes das mais diversas visões políticas, de Marina Silva a Flávio Rocha, especialistas do Direito Administrativo como Carlos Ari Sundfeld, ou André Barrence, Diretor do GoogleCampus que falará sobre Inteligência Artificial para Governos.

O formato online permite que servidores e gestores de qualquer lugar do país participem de forma ativa sem a necessidade de deslocamento, aumentando as chances de massificação do conteúdo.