Zuckerberg diz a Congresso dos EUA lamentar abuso de dados no Facebook

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 10/04/2018 às 17:02
Mark Zuckerberg depõe no Congresso Norte-Americano (AFP PHOTO / JIM WATSON)
Mark Zuckerberg depõe no Congresso Norte-Americano (AFP PHOTO / JIM WATSON) FOTO: Mark Zuckerberg depõe no Congresso Norte-Americano (AFP PHOTO / JIM WATSON)

O fundador e diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, pediu desculpas formalmente nesta terça-feira ante o Senado por falhas de segurança da rede social que permitiu o uso abusivo de dados privados de seus usuários.

"Não adotamos uma visão ampla o suficiente de nossa responsabilidade, e foi um erro enorme. Foi meu erro, e sinto muito. Eu comecei o Facebook, eu o administro, e sou responsável pelo ocorrido", disse Zuckerberg a senadores americanos.

O empresário bilionário de 33 anos participa de uma audiência em uma sessão conjunta de duas comissões do Senado, em pleno escândalo provocado pelas denúncias sobre o uso não autorizado de dados pessoais dos usuários.

O mais grave capítulo do escândalo foi a revelação de que estes dados foram usados de forma não autorizada pela consultoria Cambridge Analytica para definir a retórica de Donald Trump em sua vitoriosa campanha à Casa Branca em 2016.

Os senadores interrogam Zuckerberg sobre a forma como o modelo de negócios do Facebook (e suas plataformas associadas) recolhem e utilizam informações baseadas em dados gerais dos próprios usuários.

Na abertura da audiência, o senador Chuck Grassley afirmou que este escândalo mostrou que os usuários de redes sociais "não entenderam por completo a quantidade de seus dados que são coletados, protegidos, transferidos, usados e abusados".

- Modelo questionado -

No entanto, o executivo defendeu o modelo de negócios do Facebook. De acordo com Zuckerberg, o Facebook "não vende dados a anunciantes", mas os utiliza os dados dos usuários para direcionar publicidade. "Nenhuma empresa tem acesso aos dados de nossos usuários", assegurou.

O CEO disse também que o Facebook exigiu que a Cambridge Analytica elimine os dados que tinha obtido sobre usuários da rede social, mas posteriormente se verificou que isso não havia ocorrido.

Parte do interrogatório a Zuckerberg se concentrou nos esforços do Facebook para evitar a divulgação de informações falsas e a alegada influência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos.

O executivo disse que o Facebook desenvolveu ferramentas baseadas em inteligência artificial e que a empresa ampliou o número de funcionários para combater esses problemas.

"Há pessoas na Rússia cujo trabalho é tentar explorar nossos sistemas, e outros sistemas cibernéticos", disse. "Então, é como uma corrida armamentista. Eles se tornam melhores e nós temos que nos tornar melhores também".

Zuckerberg apontou também que o Facebook pode ter recebido intimações judiciais para colaborar com a investigação liderada pelo procurador especial Robert Mueller sobre a ingerência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016.

"Nosso trabalho com o procurador especial é confidencial", disse Zuckerberg no Senado, acrescentando que "poderia haver" intimações a funcionários do Facebook, "mas sei que estamos trabalhando com eles". "Quero ser cuidadoso porque quero ter certeza de que podemos discutir isto em uma audiência pública e revelar algo que é confidencial", acrescentou.

No entanto, pouco antes havia afirmado que ele mesmo nunca tinha sido entrevistado por agentes da equipe do procurador Mueller.

- Ameaças de regulação -

Na segunda-feira, Zuckerberg realizou uma visita ao Congresso para reuniões privadas com vários legisladores, que lhe explicaram que as pressões em favor de uma maior regulação das redes sociais estão aumentando.

O senador democrata Bill Nelson disse à imprensa, depois de se reunir em seu gabinete com o criador do Facebook, que o empresário parecia estar levando a questão "muito a sério". "Acredito que entendeu que uma maior regulação pode estar próxima", afirmou.

O senador republicano John Kennedy rejeitou a ideia de mais regulação, um cenário que horroriza os conservadores. "Não estou interessado em regular o Facebook. Quero que o Facebook regule a si mesmo", apontou.

AFP PHOTO / SAUL LOEB

Enquanto dentro do Senado Zuckerberg era submetido a interrogatório, um dos jardins externos do Capitólio era palco de um protesto. Com dezenas de bonecos de papelão com a imagem de Zuckerberg, manifestantes reclamavam da demora da empresa em adotar medidas para proteger os dados de seus usuários.

Investigada e denunciada em ambos os lados do Atlântico, a rede social começou na segunda-feira a informar os usuários cujos dados podem ter caído nas mãos da Cambridge Analytica. O Facebook anunciou, nesta terça-feira, que recompensará as denúncias apresentadas sobre o uso abusivo de dados pessoais.

O valor será "baseado no impacto de cada relato", disse Greene, com um mínimo de 500 dólares para casos verificados que afetem 10.000 pessoas ou mais.