Cinco tecnologias que mudarão o mundo nos próximos cinco anos

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 20/03/2018 às 13:22
IBM/Divulgação
IBM/Divulgação FOTO: IBM/Divulgação

LAS VEGAS - Pense no quanto sua vida mudou de 2013 para cá. Neste ano era lançado, por exemplo, o iPhone 5S. Os smartwatchs estavam chegando no mercado - com o Pebble liderando, através de uma campanha de marketing coletivo. A inteligência artificial dava seus primeiros passos no campo de deep learning. As empresas começavam a se ligar que havia um valor no big data - os dados não-estruturados que estavam espalhados pela rede.

Caminhamos bastante nesses últimos cinco anos. Para onde iremos nos próximos cinco? Projetar o cenário futuro da tecnologia foi o desafio inicial do IBM Think 2018  - evento anual da empresa de tecnologia que reúne, em Las Vegas, seus principais analistas, pesquisadores, técnicos e clientes para repercutir os caminhos do desenvolvimento tecnológico em vários campos.

A abertura extra-oficial do evento serve para nortear os assuntos que servirão de baliza para os debates ao longo da semana: Blockchain, Criptografia, Análise de dados, Inteligência Artificial e Computação Quântica. Com o tema: "Cinco tecnologias que mudarão o mundo nos próximos cinco anos", a IBM trouxe alguns de seus maiores pesquisadores para o centro do debate.

Cripto-âncoras e blockchain

O sistema criado para autenticar e validar o bitcoin pode ajudar a acabar com a pirataria - é o que acredita o gerente de plataformas para a Indústria e Blockchain, Andreas Kind. "Quando seu carro quebra, como você sabe que as peças que você trocou são originais? Mesmo fazendo o conserto numa oficina autorizada, o mercado estima que 40% das peças circulando são falsas. Na indústria e fármacos é ainda pior: 50% dos componentes não são originais", afirma Kind.

A ideia é que cripto-âncoras e a validação comunitária do blockchain possam garantir que cada etapa do processo de alimentação das cadeias de suprimento seja seguro. "Essa tecnologia nos permite ligar as entradas dos processos do negócios aos objetos físicos no mundo real, e com inteligência artificial identificar o 'DNA' de cada produto ao longo da cadeia", completa o executivo.

A gerente de AI Challenges & Quantum Experiences da IBM, Talia Gershon

Computação quântica

O aumento exponencial da capacidade computacional proporcionado pelos processadores quânticos não é novidade, mas a gerente de AI Challenges & Quantum Experiences da IBM, Talia Gershon, aposta na popularização da tecnologia para os próximos anos. "Por enquanto, a computação quântica é o 'playground' de engenheiros e especialistas. Mas daqui a cinco anos, estará sendo utilizada e ensinada nas escolas, para toda uma nova geração".

Talia conta que sua equipe, que está na vanguarda das pesquisas neste setor, ainda sofre por pensar "de forma clássica". "Você não pode aplicar um pensamento seguindo a lógica que conhecemos na computação quântica. Não funciona. As novas gerações têm a vantagem de já serem educados a pensar fora da caixa", acredita.

Criptogafia em rede

Falando na computação quântica, ela apresenta um desafio também para a segurança digital. Máquinas mais potentes podem ser usadas para quebrar a criptografia tradicional e roubar dados. "A criptografia já evoluiu do uso de algoritmos complexos para um approach mais científico, baseado em argumentos lógicos e na resolução de problemas. Mas ainda são problemas solúveis, que computadores quânticos podem resolver mais rápido", afirma a pesquisadora da IBM, Cecilia Boschini.

A criptografia em rede propõe incluir mais dimensões aos sistemas de segurança. Os métodos de criptografia pós-quânticos criam um labirinto de códigos secretos, mais resistentes a invasões. "Nosso mundo tem três dimensões Uma rede construída com 100 dimensões é algo que não podemos nem visualizar. A criptografia em rede trará um upgrade total na segurança, mas de forma invisível para o usuário".

Cecilia Boschini

Nano robótica + Inteligência artificial

Plânctons, mais do que o vilão do desenho do Bob Esponja, são a base da cadeia alimentar dos oceanos - e por isso, essenciais para o equilíbrio do planeta. Porém, os resíduos poluentes resultados da queima de combustíveis fósseis estão colocando em perigo o ecossistema desses micro-organismos.

E o problema maior é que estudá-los é bem complicado. "Os cientistas de hoje o fazem tirando uma amostra do mar, colocando um reagente - que também mata os plânctons - e colocando no microscópio. É como querer entender de futebol só vendo fotos dos jogadores dormindo no ônibus, depois do jogo", conta Tom Zimmerman, pesquisador de Human/Machine Devices & Paradigm da IBM. Ele desenvolveu microscópios dotados de inteligência artificial e conectados em rede, que monitoram continuamente e em tempo real a saúde dos plânctons.

Esses aparelhos podem ser colocados na água para controlar o movimento do plâncton em três dimensões, em seu ambiente natural, e usar essa informação para prever seu comportamento e saúde. Isso poderia ajudar em situações como derramamentos de óleo e escoamento de fontes de poluição terrestre, e para prever ameaças como as marés vermelhas.

Ética em Inteligência Artificial

A inteligência artificial foi desenvolvida para nos ajudar na tomada de decisões. Mas como garantir que essas decisões não serão injustas? Por mais "amoral" que o computador seja, ele é alimentado com informações fornecidas por pessoas, que podem ser preconceituosas em muitos níveis.

"Se você treina um sistema para identificar rostos só com fotos de pessoas brancas, ele não vai considerar pessoas de outras etnias, por exemplo. Quando comecei a trabalhar com inteligência artificial, há 30 anos, não se pensava no impacto que essa tecnologia teria na sociedade, na cultura", lembra Francesca Rossi, líder global em Ética para IA, da IBM.

Para a especialista, a saída para erradicar o preconceito na inteligência artificial é aplicar conhecimentos multidisciplinares no seu desenvolvimento. "Minha equipe tem filósofos, economistas, sociólogos, advogados e qualquer pessoa que pode ajudar em questões como transparência na tecnologia, para que possa ser mais diverso, inclusivo e representativo", conta Francesca.

*O repórter viajou a convite da IBM