[Cybertech 2018] - O trabalho da unidade contra crimes cibernéticos da Polícia de Israel

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 30/01/2018 às 11:34
Foto: Renato Mota\MundoBit
Foto: Renato Mota\MundoBit FOTO: Foto: Renato Mota\MundoBit

A atuação e a expertise do Exército israelense no cenário digital é bem conhecida (ou melhor, não é nada conhecida, uma vez que sua atuação é confidencial e suas operações ficam só entre os rumores da comunidade internacional). Mas como o governo de Israel lida com a guerra virtual dentro de casa?

Esse é o trabalho da Lahav433 - o equivalente à Polícia Federal de Israel - e da sua unidade de investigação contra crimes cibernéticos. Criado há quatro anos - uma “evolução” da antiga unidade de investigação de fraudes computacionais - esse braço policial lida tanto com crimes virtuais “puros” (invasões hackers, espionagem digital) quanto com crimes que são possibilitados ou facilitados por meios digitais.

“Diferenciar um do outro é bem complicado. A venda de drogas é um crime, mas se ela acontece na internet, é um cibercrime? Da mesma forma, extorsão por meio de ransomwares deve ser investigada por qe setor? De uma forma geral, quando não conduzimos uma investigação, ajudamos outras unidades com nosso conhecimento e ferramentas”, explica Yaniv Azani, Diretor de Tecnologia da Unidade Cibernética da Lahav433.

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Dos desafios que a unidade enfrenta, definir o que é um crime virtual é o menor deles. “Diferente de uma investigação tradicional, lidamos com a dificuldade de encontrar provas materiais - uma vez que boa parte das transações são criptografadas. Em vários casos temos todas as informações dos criminosos, mas não temos provas. Acreditamos nos dados que recolhemos, e essas provas eventualmente surgem no momento ou logo após a prisão”, conta Azani.

Como o mundo virtual não tem fronteiras, essa investigação é frequentemente conduzida em parceria com o Exército (ou outras agências do governo israelense) e com forças po?iciais de outros países. “A Convenção de Budapeste nos garante cooperação entre os signatários. Quando um país não faz parte, entramos em contato do mesmo jeito - alguns respondem, outros não, mas não são obrigados a isso”.

Quando a resposta é negativa, a investigação não para. “Isso é um obstáculo, uma vez que nos faz perder tempo, um elemento crítico. Mas de forma alguma impede nosso trabalho. Dependendo do caso, o problema pode ser outro: de jurisdição ou até ético. Nossas capacidades técnicas são muito maiores do que o que podemos fazer legalmente - e nos preocupamos com a privacidade dos civis”, afirma o policial.

Mas nem sempre as ferramentas são o suficiente. Esse aspecto se mostrou mais recentemente nos casos que envolvem negociações em criptomoedas, como o Bitcoin, mas difíceis de serem rastreadas. Segundo Azani, “é mais complicado, mas temos capacidade. Nessas situações, metade do trabalho é tecnologia, mas a outra metade é inteligência. Se tiver proficiência dos dois lado, você consegue uma pista - até porque os criminosos sempre acabam cometendo algum erro, principalmente pois precisam em algum momento trocar a moeda virtual por dinheiro real”.

A cooperação nas investigações deve vir ainda pelo lado da vítima - o que vem aumentando nos últimos anos. “Empresas não costumavam reportar seus ataques para a polícia, por receio do que isso poderia causar à sua imagem, ou até de perder o controle da situação para os investigadores. Mas na medida em que mais e mais casos foram solucionados nos últimos anos, a parceria tem se consolidado”, conta o policial.

*O repórter viajou a convite do Ministério do Exterior de Israel