DNA de bebê resgata história dos primeiros humanos na América

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 07/01/2018 às 8:52
Uma reconstrução de artista do antigo acampamento base Upward Sun River no Alasca. Ilustração de Eric S. Carlson em colaboração com Ben Potter
Uma reconstrução de artista do antigo acampamento base Upward Sun River no Alasca. Ilustração de Eric S. Carlson em colaboração com Ben Potter FOTO: Uma reconstrução de artista do antigo acampamento base Upward Sun River no Alasca. Ilustração de Eric S. Carlson em colaboração com Ben Potter

Ela morreu com seis semanas de vida há 11.500 anos, mas tem muito a dizer. A análise do DNA do fóssil de uma bebê encontrada no Alasca permitiu especificar como os primeiros humanos chegaram ao continente americano, segundo um estudo publicado na semana passada.

Os restos da menina foram descobertos em 2013 no parque arqueológico de Upward Sun River, no Alasca. A bebê foi batizada de "Xach'itee'aanenh t'eede gaay", ou "a pequena do amanhecer", pela comunidade local. Para os cientistas, é "USR1", em alusão ao local onde foi encontrada.

Ela tinha sido enterrada junto a uma recém-nascida também do sexo feminino, só ainda mais jovem, que foi igualmente estudada pela equipe formada por pesquisadores das universidades de Copenhague, Cambridge e Alasca. Grande parte da comunidade científica concorda em considerar que os primeiros humanos que pisaram no continente americano pertenciam a grupos procedentes da Ásia ao fim do último período glacial (Pleistoceno Superior).

Os restos de uma criança encontrada em um acampamento de 11,500 anos no centro do Alasca revelam uma população de nativos americanos geneticamente distinta, anteriormente desconhecida para cientistas. Foto: Ben Potter

Nessa época de glaciação, o nível dos oceanos havia baixado e uma ponte terrestre correspondente ao atual Estreito de Bering permitia passar da Sibéria ao Alasca. Mas ainda restam muitas perguntas sobre a data da chegada dessas populações e sobre a forma como ocuparam o continente americano.

A equipe de pesquisadores, cujos trabalhos foram publicados na revista Nature, conseguiu sequenciar o genoma completo do bebê USR1. No entanto, não puderam sequenciar o código genético da recém-nascida porque as amostras de DNA eram insuficientes. Mas as análises genéticas permitiram mostrar que as duas meninas tinham vínculos e provavelmente eram primas.

A "pequena do amanhecer" deu uma grande surpresa aos pesquisadores: seu patrimônio genético não corresponde às duas ramas conhecidas dos primeiros ameríndios (chamados do "norte" e do "sul"). Os cientistas descobriram que pertencia a um grupo até então desconhecido, que batizaram de "Beringianos Antigos". "Não sabíamos que essa população existia", destaca Ben Potter, professor de Antropologia na Universidade do Alasca em Fairbanks.

Outras análises permitiram fornecer "a primeira prova genética direto de que os ancestrais dos ameríndios procedem todos de uma mesma população chegada em um único movimento migratório" durante a Era Glacial, segundo o estudo. Esta onda migratória pode ter acontecido há mais de 20 mil anos, destaca a Universidade de Cambridge em um comunicado.