2017, o ano do bitcoin

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 24/12/2017 às 11:51
AFP PHOTO / Anthony WALLACE
AFP PHOTO / Anthony WALLACE FOTO: AFP PHOTO / Anthony WALLACE

O bitcoin saiu das sombras em 2017, seduzindo Wall Street e investidores individuais, embora muita gente ainda não saiba bem do que se trata. Seu valor crescente também faz as autoridades considerarem tomar uma ação, após anos apenas pedindo cautela com essa criptomoeda.

Em janeiro, cada bitcoin valia um dólar, mas em dezembro ele chegou a 16 mil dólares, uma alta tão impressionante que gera temores de uma bolha, mesmo nos meios financeiros mais acostumados à especulação e à volatilidade.

"O bitcoin continua segundo uma grande aposta", disse  Nigel Green do deVere Group. "Um ativo que sobe quase verticalmente, normalmente dispara os alarmes dos investidores", garantiu à AFP. Contudo, ele disse que a alta do bitcoin demonstra a força da demanda mundial pela criptomoeda.

Em 10 de dezembro, ela ficou sob os holofotes, quando começaram a ser negociados contratos de futuros em bitcoins no mercado de Chicago. "Esse foi o ano em que o bitcoin e outras criptomoedas se tornaram legítimos", disse Timothy Enneking do Crypto Asset Management.

Baseado em uma tecnologia conhecida como "blockchain", o bitcoin está criando seu próprio espaço no mercado. Em algumas cidades, a divisa pode ser usada para fazer pagamentos em comércios, ou até comprar carros e casas. Remi Roux, de 33 anos, investiu recentemente no bitcoin e em outras criptomoedas, como ethereum e litecoin. "Fiz isso para trazer meu dinheiro de volta à França sem pagar comissões", explicou Roux, especialista em genética da Universidade de Nova York, que afirma que as tarifas cobradas por bancos pela transferência de dinheiro são perversas.

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Roux tem o equivalente a cerca de 20 mil dólares em criptomoedas, quase o triplo do que investiu. Para evitar surpresas desagradáveis, instalou em seu telefone um aplicativo que lhe informa imediatamente sobre qualquer variação inesperada dos preços. "Se isso acontecer, eu venderia tão rápido quanto possível", explicou.

Defensores do bitcoin querem pedir às autoridades reguladoras que lhes autorizem um mercado que permita que os investidores comuns despejem suas economias. "Isso seria um passo enorme", disse Bob Fitzsimmons da Wedbush Securities, que admitiu, contudo, que ainda deve demorar bastante.

- Regulação -

Grandes bancos, que costumam endossar transações arriscadas, desconfiam dessa. Eles indicam que não há transparência para determinar o tipo de câmbio do bitcoin e temem que isso gere manipulações.

Desde sua criação, em 2009, o bitcoin é negociado pela Internet e sem nenhum tipo de regulamentação, nem respaldo institucional. Diferentemente das moedas nacionais, ele não tem um banco central por trás, apenas uma rede de "mineradores", que fazem cálculos complexos em computadores espalhados pelo mundo.

Os pagamentos não têm intermediários e não requerem dados pessoais. O anonimato e a falta de regulamentação atraem traficantes e outros criminosos, que procuram lavar fundos fora dos circuitos convencionais.

Kathryn Haun, diretora da plataforma de moedas digitais Coinbase, disse à AFP que está errado pensar que a indústria se opõe às regulamentações. "O que a indústria não quer é uma regulamentação que não tenha certezas", disse ela.

Antes de se envolver nessas transações, a maioria dos fundos de alto risco e outras entidades querem saber como os mercados e os controladores financeiros percebem os criptoativos.  "Tem muitos que estão esperando mais clareza regulatória e, quando tiverem, veremos maior interesse institucional e das empresas", disse.

Haun compara o medo do bitcoin ao que acontecia quando a internet começou a crescer, nos anos 1990. "Muito rapidamente, o bom uso superou o mau", afirmou.