Americanos vencem Nobel de Física por estudos sobre ondas gravitacionais

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 03/10/2017 às 16:36
Barry Barish e Kip Thorne. Foto: David McNew/Getty Images/AFP
Barry Barish e Kip Thorne. Foto: David McNew/Getty Images/AFP FOTO: Barry Barish e Kip Thorne. Foto: David McNew/Getty Images/AFP

Os astrofísicos americanos Barry Barish, Kip Thorne e Rainer Weiss venceram o Prêmio Nobel de Física de 2017 por seus estudos que contribuíram para a detecção das ondas gravitacionais - anunciou o júri da Academia Sueca.

Detectadas em 2015, um século depois de terem sido previstas por Albert Einstein, as ondas gravitacionais são alterações no espaço-tempo que poderiam oferecer informações valiosas sobre a origem do Universo. "A descoberta sacudiu o mundo", destacou o secretário-geral da Academia de Ciências, Göran Hansson.

"Como Galileu quando observou de seu telescópio, é um novo avanço na astronomia, uma nova maneira de ver o universo", declarou Barry Barish, de 81 anos, ao jornal Le Monde em agosto.

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Ligados ao Caltech (California Institute of Technology), que conquistou 18 Nobel desde a primeira edição do prêmio em 1901, Thorne, 75 anos, e Weiss, 85, criaram o observatório LIGO, que permitiu a primeira detecção direta de ondas gravitacionais em setembro de  2015.

"Fazia 40 anos que tentávamos detectá-las (...) Foi uma enorme alegria finalmente conseguir. Foi uma experiência maravilhosa", afirmou Rainer Weiss por telefone à Academia de Ciências. "Esperava que esta descoberta obtivesse um prêmio Nobel (...), esperava que recompensasse o laboratório", declarou, por sua vez, Kip Thorne à rádio pública sueca SR. "Desde o início sabia que era algo importante".

O júri do Nobel premiou "a contribuição decisiva para o detector LIGO e a observação de ondas gravitacionais", segundo o comitê. "Sabíamos que as ondas gravitacionais existiam, mas, pela primeira vez, foram observadas diretamente", declarou Olga Botner, do Comitê Nobel de Física.

A primeira detecção direta, um momento histórico após 40 anos de esforços, aconteceu em setembro de 2015 e foi divulgada em 11 de fevereiro de 2016. Desde então, o instrumento de observação criado pelos cientistas - LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory), que tem dois detectores idênticos, um na Louisiana e outro no estado de Washington - observou o fenômeno em três oportunidades.

O diretor do laboratório, David Reitze, disse estar "feliz que o comitê do Nobel tenha reconhecido as descobertas do LIGO e seu profundo impacto na maneira como percebemos o cosmos". Em setembro de 2017, outro detector, o europeu Virgo, situado no Observatório Gravitacional Europeu (EGO) em Cascina, Itália, também detectou ondas gravitacionais.

Para Benoît Mours, diretor de pesquisa do CNRS e responsável da colaboração Virgo pela França, a observação de ondas gravitacionais representa "uma evolução fundamental na Física". "É como se abríssemos os olhos sobre esta fase do universo que até então nos era inacessível", afirmou nesta terça-feira à AFP.

ESPAÇO-TEMPO

As ondas gravitacionais são muitas vezes representadas como a deformação que acontece quando um peso repousa sobre uma rede. Neste caso, a rede representa o espaço-tempo. Essas perturbações se deslocam à velocidade da luz e nada as paralisa.

A capacidade de detectar estas ondas que viajam inalteradas por bilhões de anos torna possível voltar ao primeiro milissegundo do chamado Big Bang. Isto poderia fornecer informações muito valiosas sobre a origem do Universo. "Einstein estava convencido de que nunca seria possível medi-los", afirmou o Comitê Nobel.

Rainer Weiss receberá metade do prêmio de nove milhões de coroas suecas (1,1 milhão de dólares), enquanto Barry Barish e Kip Thorne dividirão a outra metade da quantia.