Americanos vencem Nobel de Medicina por pesquisas sobre relógio biológico

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 02/10/2017 às 9:02
Comitê do Nobel para membros da Fisiologia e Medicina. AFP PHOTO / Jonathan NACKSTRAND
Comitê do Nobel para membros da Fisiologia e Medicina. AFP PHOTO / Jonathan NACKSTRAND FOTO: Comitê do Nobel para membros da Fisiologia e Medicina. AFP PHOTO / Jonathan NACKSTRAND

O Prêmio Nobel de Medicina de 2017 foi atribuído nesta segunda-feira a um trio de americanos por seus trabalhos sobre o relógio biológico do corpo, que explica a adaptação do corpo aos ciclos do dia e da noite, assim como os transtornos do sono.

Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young foram premiados por suas "descobertas sobre os mecanismos moleculares que regulam o ritmo circadiano", anunciou a Assembleia Nobel do Instituto Karolinska de Estocolmo.

O termo científico "ritmo circadiano" designa uma das funções vitais primordiais nos seres vivos multicelulares: regula o sono, os comportamentos alimentares, a pressão arterial e a temperatura corporal. A partir da observação de moscas, Jeffrey C. Hall e Michael Rosbash - que trabalhavam na Universidade Brandeis de Boston - e Michael W. Young, da Universidade Rockefeller de Nova York, isolaram em 1984 um gene que controla este ritmo biológico.

Hall e Rosbah demonstraram depois que o gene, caso funcione corretamente, codifica uma proteína que se acumula nas células durante a noite e se desintegra durante o dia. Em 1994, Michael Young identificou um segundo gene do relógio biológico essencial para a regulação do ritmo circadiano.

A pesquisa moderna revelou o papel fundamental destes mecanismos na saúde e na expectativa de vida, assim como as consequências nefastas do trabalho noturno a longo prazo.

- Cientista de pijama -

Rosbash, de 73 anos, nasceu em Missouri e obteve o doutorado em 1970 no Massachusetts Institute of Technology (MIT) de Cambridge (Estados Unidos). Ele disse que estava "emocionado" com o anúncio de que venceu o Nobel, ao ser entrevistado por telefone pela agência sueca TT.

"Sentei com a minha mulher, de pijama, não havia pensado nisso", declarou. "Os Nobel são o máximo (...) Eu gostaria que minha mãe estivesse viva", completou.

Hall, de 72 anos, nasceu em Nova York e fez parte de sua carreira na Universidade do Maine, em 2002. Hoje ele está aposentado. Young, de 68 anos, é natural de Miami e é professor desde 1978 na Universidade Rockefeller

Em 2016, o Nobel de Medicina foi atribuído ao japonês Yoshinori Ohsumi por suas pesquisas sobre a autofagia, cruciais para entender como as células se renovam e a resposta do corpo à fome e às infecções. O Prêmio Nobel este ano tem uma dotação econômica de 9 milhões de coroas suecas (1,1 milhão de dólares).

O Nobel de Medicina foi o primeiro anunciado nesta edição. Nos próximos dias serão anunciados os de Física e Química, assim como Literatura e Paz. O vencedor de Economia será anunciado na próxima segunda-feira. A maioria dos autores cotados este ano para o Nobel de Literatura, atribuído em 2016 a Bob Dylan, figuram regularmente nas listas ideais dos críticos: Don DeLillo, Adonis, Claudio Magris, Ismael Kadaré, Haruki Murakami, Jon Fosse, etc.

Quanto ao Nobel da Paz, o júri norueguês deverá escolher entre 318 nomes para designar um sucessor ao presidente colombiano Juan Manuel Santos, premiado em 2016 por sua ação de reconciliação com as guerrilhas em um país devastado por um conflito de mais de meio século.

A questão nuclear domina os prognósticos em um contexto de escalada entre Washington e Pyongyang após o sexto teste norte-coreano, mas também pelas incertezas sobre o acordo iraniano, que o presidente americano Donald Trump ameaçou "rasgar".

 

Os últimos dez ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina

2017: Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young por suas descobertas sobre o relógio biológico interno que controla os ciclos de vigília-sono dos seres humanos.

2016: Yoshinori Ohsumi (Japão) por suas pequisas sobre a autofagia, cruciais para entender como se renovam as células e a resposta do corpo à fome e às infecções.

2015: William Campbell (de origem irlandesa), Satoshi Omura (Japão) e Tu Youyou (China) por terem desenvolvido tratamentos contra infecções parasitárias e malária.

2014: John O'Keefe (Estados Unidos/Reino Unido) e May-Britt e Edvard Moser (Noruega) por suas investigações sobre o "GPS interno" do cérebro, que pode permitir avanços no conhecimento do Alzheimer.

2013: James Rothman, Randy Schekman e Thomas Südhof (Estados Unidos), por seus trabalhos sobre os transportes intracelulares, que ajudam a conhecer melhor a diabetes.

2012: Shinya Yamanaka (Japão) e John Gurdon (Reino Unido) por suas investigações sobre a reversibilidade das células-tronco, que permite criar todo tipo de tecido do corpo humano.

2011: Bruce Beutler (Estados Unidos), Jules Hoffmann (França) e Ralph Steinman (Canadá), por seus estudos sobre o sistema imunológico que permite ao organismo humano se defender de infecções, favorecendo a vacinação e a luta contra enfermidades, como o câncer.

2010: Robert Edwards (Reino Unido), pai do primeiro bebê de proveta, por sua contribuição ao desenvolvimento da fecundação in vitro.

2009: Elizabeth Blackburn (Austrália/EUA), Carol Greider E Jack Szostak (Estados Unidos), por suas descobertas sobre os mecanismos da vida e suas aplicações na luta contra o envelhecimento.

2008: Harald zur Hausen (Alemanha), Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier (França), por seus trabalhos sobre o câncer e a aids.