Crânio de menino neandertal cresceu como o das crianças modernas

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 23/09/2017 às 9:55
Paleoanthropology Group MNCN-CSIC
Paleoanthropology Group MNCN-CSIC FOTO: Paleoanthropology Group MNCN-CSIC

A primeira análise do crânio de um menino de Neandertal descoberto na Espanha sugere que ele cresceu de forma parecida à de uma criança moderna, mais um sinal de que nossos extintos ancestrais eram similares a nós, de acordo com pesquisadores.

A incomum descoberta de parte de um esqueleto de criança ocorreu no sítio arqueológico El Sidrón, de 49.000 anos de antiguidade. O menino de sete anos e sete meses, batizado de "El Sidrón J1" segundo a revista americana Science, é o primeiro neandertal juvenil estudado na zona.

"O que vemos neste neandertal é que o padrão geral de crescimento é muito similar ao dos humanos modernos", disse o coautor do estudo Luis Ríos, membro do Grupo de Paleoantropologia do Museu Nacional de Ciências Naturais, durante uma conferência telefônica com jornalistas.

Este exemplar ainda estava em crescimento quando morreu, e seu cérebro tinha aproximadamente 87,5% do tamanho de um cérebro de neandertal adulto médio, indicou o estudo. Em comparação, o peso do cérebro de uma criança moderna dessa idade é cerca de 95% do de um adulto, acrescentou.

- Fase de crescimento mais longa -

Adam Van Arsdale, professor de antropologia em Wellesley College, descreveu as diferenças entre os neandertais e os humanos como "sutis". O estudo é "uma contribuição importante à nossa compreensão da evolução humana" e "consistente com uma ampla quantidade de estudos que demonstram as semelhanças entre os neandertais e os humanos atuais", disse à AFP.

A pesquisa também lança nova luz sobre a história do desenvolvimento humano. Os neandertais evoluíram no oeste da Eurásia, separadamente dos humanos, que emergiram da África, mas tinham muito em comum com eles. Os neandertais faziam arte, praticavam rituais, enterravam seus mortos e se relacionavam com humanos modernos antes de serem extintos, há cerca de 35.000 anos.

Sabe-se que tinham crânios muito maiores que as pessoas de hoje, e possivelmente cérebros mais volumosos, embora isso não os tornasse necessariamente mais inteligentes. A explicação para esse fenômeno ainda não está clara. Uma teoria é que eles cresciam mais rápido; as crianças de neandertal atingiam o tamanho adulto antes que o humano moderno. Os estudos que apontam nessa direção se basearam principalmente em pistas dentais.

A pesquisa mais recente se baseia em um exemplar mais completo. O esqueleto de criança encontrado em El Sidrón continha 36% de seu lado esquerdo e partes do crânio junto com dentes de leite e definitivos. Depois de estudar seus restos, os pesquisadores concluíram que os neandertais cresciam durante um período de tempo mais longo, e não mais rapidamente.

- Morte misteriosa -

A forma como o menino de neandertal morreu é um mistério. Os cientistas não encontraram evidências de doenças, e o descreveram como "robusto", com um peso de 26 kg e 1,11 metro de altura. Mas seus ossos continham marcas similares aos de outros restos na caverna, o que indica a prática de canibalismo, sugerem outros estudos.

Os pesquisadores também admitiram que há limites ao que se pode inferir sobre os aspectos sociais e o desenvolvimento na infância de um neandertal a partir desse estudo. "Temos que ser muito cautelosos porque estudamos apenas um esqueleto", disse Ríos.

Milford Wolpoff, professor de antropologia da Universidade de Michigan, questionou a comparação com os seres humanos modernos, já que diferentes taxas de crescimento do cérebro são comuns através de várias pessoas e períodos de tempo.

"O crescimento cerebral do neandertal pode ou não ser como em qualquer população humana, mas certamente parece encaixar dentro da faixa humana normal", opinou.