Assistentes pessoais, a interface digital do futuro

Letícia Saturnino
Letícia Saturnino
Publicado em 07/09/2017 às 9:58
Amazon Echo, com Alexa
Amazon Echo, com Alexa FOTO: Amazon Echo, com Alexa

De abastecer a geladeira a administrar reuniões de trabalho, o deslizar de dedos sobre a tela se aproxima do fim: a interface digital do amanhã obedecerá à voz e reunirá todos os nossos aparelhos.

Na IFA de Berlim, uma das feiras de eletrônicos de consumo mais importantes do mundo, todos os estandes apresentam o objeto indispensável do ano: o alto-falante inteligente, do qual sai uma voz - muitas vezes feminina - de um assistente pessoal, um programa de inteligência artificial com o qual se pode conversar.

Ainda não estamos no universo de "Ela" (2013), longa-metragem de Spike Jonze em que o personagem vivido por Joaquin Phoenix se apaixona por sua assistente pessoal. Mas para Martin Börner, vice-presidente da Bitkom, federação alemã de empresas digitais, "esta tecnologia vai ter um papel fundamental em nossas vidas".

"A pergunta principal dos fabricantes de eletrônicos agora é: qual a solução técnica que pode tornar qualquer aparelho o mais intuitivo possível?", diz.

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Em um ambiente saturado de aparelhos e ações relacionadas ao mundo digital, a prioridade absoluta é limitar o número de manipulações. "O controle vocal permite, sobretudo, ter as mãos livres", considera Jean Raoul de Gélis, diretor-geral da Sony Mobile France, que relembra que um usuário consulta o seu telefone celular entre 200 e 300 vezes por dia.

A ideia é que polegares e neurônios descansem. O outro objetivo destes programas é que sejam capazes de aprender nossos comportamentos e usos, além de evoluir para determinar o que cada um espera deles.

"O objetivo final é que se esqueçam da tecnologia, pois ninguém quer ter que ficar programando o seu robô aspirador toda semana. Esta automatização deve ser sutil e perspicaz como um mordomo", ilustra Paul Gray, da consultora IHS Markit.

- A guerra dos assistentes -

Os assistentes Google Home e Alexa, da Amazon, dominam o mercado. Embora ausentes da IFA, os dois gigantes americanos estavam por todas as partes dado que muitas marcas de televisão, eletrodomésticos e cadeias de música presumem ter assinado acordos com um ou outro.

Segundo a consultoria Gartner, o mercado dos assistentes pessoais conectados por controle por voz representará 3,52 bilhões de dólares em 2021 no mundo, contra 360 milhões em 2015. Esperando o auge de algo que ainda pode parecer um pouco futurista, ou inclusive incongruente em uma mesinha de cabeceira, o smartphone continua sendo a torre de controle do usuário diante de seus objetos conectados.

"Existe uma verdadeira guerra dos assistentes pessoais para celulares, entre eles os da Google integrados no Android, Alexa da Amazon (integrado nos celulares HTC e Huawei), o Bixby, da Samsung, e a Cortana, da Microsoft", enumera Ian Fogg, analista da IHS. A Apple também conta com a sua assistente pessoal, Siri.

A Google domina atualmente o mercado dos telefones celulares, mas a Amazon poderia conquistar o dos objetos conectados da vida diária: desde o forno até o carro, passando pela calefação e pelas fechaduras.

- Cacofonia -

Mas esta multiplicação dos aplicativos leva também a um risco real de cacofonia e, por isso, as marcas sonham com um protocolo de comunicação universal. E o consumidor também, pois, a menos que utilize uma só marca, será um quebra-cabeças saber qual é compatível com qual.

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A "interoperabilidade" destas novas interfaces vocais é um dos principais desafios para os fabricantes de alta tecnologia. "Alguns acreditam que somente um acabará se impondo e ficará com todo o mercado. Outros acreditam que o celular integrará vários assistentes, cada um deles otimizado em função de sua tarefa", comenta Fogg.

A Samsung já se posiciona neste segmento dos aparelhos diários, sem dúvida por medo de que seu assistente, Bixby, seja superado por seus concorrente da Google e Amazon.

O diretor de Marketing da Samsung, Paul Löwes, anunciou na quarta-feira em Berlim que a empresa sul-coreana reforçará a sua associação com a fundação americana "Open Connectivity", que se fixou precisamente na missão de permitir que todos estes objetos conectados funcionem em harmonia, excetuando-se se uma inteligência artificial se impuser às demais.